BRASÍLIA - Deixando o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) afirmou neste sábado (1º) ter “orgulho” do que chamou de “agenda positiva” de sua gestão. 

Com a voz embargada no final de seu último discurso, ele fez um discurso de despedida em que exaltou o favorito à sua sucessão, Hugo Motta (Republicanos-PB) e lembrou de seu pai, Benedito de Lira, que morreu há cerca de duas semanas. O alagoano afirmou que seguirá na Câmara "como um soldado do Parlamento".

Ele citou garantias da Constituição Federal para afirmar que buscou defender “de forma intransigente” a separação entre os Poderes, com "harmonia e independência, sem jamais permitir a sobreposição de um sobre o outro”.  

Lira frisou que defendeu, "de forma incansável, o respeito às prerrogativas parlamentares [...] como pressuposto necessário à existência de um Parlamento Livre, sem o qual não há democracia”.

Em seu mandato, a Polícia Federal (PF) indiciou os deputados Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Cabo Gilberto Silva (PL-PB) por discursos proferidos na tribuna, o que foi amplamente criticado por Lira. 

Com as emendas parlamentares na mira do Judiciário, o presidente da Câmara disse ainda que defendeu, “com toda convicção”, a participação do Congresso Nacional na elaboração do Orçamento, tido como a “pluralidade natural de ambas as Casas e o profundo conhecimento que cada parlamentar carrega de todos os cantos de nosso gigante país”. 

“Busquei deixar como marcas de minha presidência o cumprimento intransigente dos acordos firmados, o diálogo incessante e a busca incansável por convergência. Só por isso conseguimos avançar tanto”, declarou. 

Arthur Lira comandou a Câmara dos Deputados por quatro anos. O político de Alagoas pode, agora, assumir um cargo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele é cotado para o Ministério da Agricultura, mas diz que ainda não conversou com Lula sobre o assunto. Em 2026, deve ser candidato a uma vaga no Senado. 

Hugo Motta

Arthur Lira declarou que buscou “toda a união e toda a convergência” ao longo de seu mandato como presidente da Câmara, e que isso desemboca, agora, "na construção do sólido bloco de apoio” a Hugo Motta, a quem já chamou de presidente antes mesmo da eleição. 

Lira disse que Motta “vivenciou de perto” sua gestão e “saberá dar continuidade ao ritmo de produtividade que o país espera de nós, com toda sua experiência, leveza, habilidade e abertura ao diálogo”. 

“Bom trabalho, meu amigo Hugo Mota. É uma alegria passar o bastão para você, depois da costura fina que nos permitiu chegar a um nome de consenso, com ampla capacidade de aproximar opostos. Estou certo do seu sucesso e do sucesso da Nova Mesa Diretora, sempre em favor do nosso Brasil”, destacou. 

Legado

Lira afirmou que sua gestão à frente da Câmara “foi sobre entregar e deixar um legado ao país”. “Sinto um imenso orgulho da agenda positiva e dos profundos avanços que, juntos, com muito diálogo e convergência, estamos deixando ao país, mesmo num contexto de reconhecida polarização social e política”. 

Entre as pautas citadas, está a autorização para a compra de vacinas durante a pandemia de Covid-19 a para a concessão do auxílio emergencial. Lira ainda citou na lista a autonomia do Banco Central e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, apresentada por Lula antes de sua posse como presidente. 

Outra agenda destacada foi a reforma tributária, “destravada” depois de “mais de três décadas de espera”, segundo Lira.  

“Nos mobilizamos para apoiar os estados atingidos por tragédias ambientais, demonstrando que esta Casa sabe agir quando o povo mais precisa. Os desafios desse período e de nossa gestão foram muitos e não se limitaram ao plano legislativo, onde conquistamos entregas históricas inegáveis”, completou. 

Benedito de Lira

Arthur Lira comentou sobre seu pai, Benedito de Lira, que morreu em 14 de janeiro."Termino essa rápida fala, nesse dia que é de Hugo e da nova Mesa Diretora, com os conselhos do grande político que sempre me inspirou e que, para minha imensa dor, pela primeira vez não se faz fisicamente presente em um momento importante de minha vida: meu pai, o Senador Benedito de Lira".

O presidente da Câmara lembrou que Benedito, quando era senador, fez um discurso dizendo que "devemos protagonizar a educação pelo exemplo" e "demonstrar à sociedade brasileira que, a despeito de nossas bandeiras partidárias, somos adeptos do diálogo sincero, sensato e cortês".