BRASÍLIA - O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, negou haver politização e interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas ações da instituição. “As nossas operações têm só, única e exclusivamente a base na Constituição e nas leis. Nós não olhamos laços políticos”, garantiu nesta quarta-feira (9).
Prova disso, de acordo com ele, são operações deflagradas contra nomes de diferentes lados políticos, inclusive ligados à base governista. Ele também afirmou que, em sua gestão, não há mais espetacularização do trabalho da PF. “Fizemos fim aos heróis da Polícia Federal e àqueles que se destacavam pessoalmente em detrimento da instituição”.
“Eu tenho dito, reiterado às vezes, que segurança pública é combatida somente com estratégia, com inteligência, com integração, com cooperação. Não é com frases de efeito ou com mais violência. É com muito trabalho e com valorização das instituições. Não é mais com espetáculo, mas com sabedoria e responsabilidade”, declarou.
Andrei falou na Câmara dos Deputados. O chefe da PF foi chamado como convidado na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado para explicar acusações de interferência do governo e o inquérito aberto contra a mulher que usou um megafone para gritar “Lula ladrão” em frente à casa do presidente, em São Paulo.
Independência e autonomia da PF
Andrei destacou que a PF passa por um “novo momento” e que o “respeito à autonomia investigativa” é um dos pilares do cumprimento da segurança pública. De acordo com o diretor, “não tem ninguém mais interessado” em apurar supostas irregularidades na atuação da instituição do que ele.
"Eu não tolero, não aceito, não admito desvios de comportamento, desvios de conduta e uso da instituição para fins que não sejam uso institucionais e retidão naquilo que a gente faz”, frisou.
Ele contou que, quando assumiu o cargo em janeiro de 2023, teve “plena autonomia” para escolher todos os 14 diretores da PF, assim como os 27 superintendentes estaduais.
"E eu não perguntei a nenhum colega qual era o seu lado político, em quem votou ou deixou de votar, quem que gosta e quem que não gosta. Eu olhei o currículo o histórico e a trajetória de cada um e a lealdade à nossa instituição e aos propósitos da nossa gestão. E assim foi feito. A responsabilidade pela gestão da Polícia Federal é minha”, afirmou.
Andrei citou como prova de que não há interferência as prisões de pessoas alinhadas politicamente ao governo, cumpridas na Bahia na última semana, e a busca e apreensão em endereços ligados ao deputado federal Junior Mano (PSB-CE). Agentes passaram seis horas dentro do gabinete dele na Câmara, na terça-feira (8).
"Fizemos ontem, aqui na Câmara, uma busca e apreensão contra um parlamentar que é de partido da base do governo, assim como já fizemos muitas outras em alvos, em investigados que não têm relação política nenhuma com o governo. São situações para nós absolutamente indiferentes”, explicou.
Respeito entre Poderes
O chefe da PF também relatou que ligou para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pouco depois das 6h da manhã de terça-feira, assim que foi deflagrada a operação que teve Junior Mano como um dos alvos.
"Eu respeito o Parlamento. [...] Comuniquei ao presidente Hugo Motta o que estava acontecendo, comunicamos a Advocacia dessa Casa, comunicamos a Polícia Legislativa para que acompanhassem o cumprimento das medidas”, acrescentou.
Sem espetáculo
O diretor-geral afirmou que sua gestão “pôs fim à espetacularização de ações, à criminalização da política, ao achincalhe dos investigados”. Especialmente na condução da operação Lava Jato, agentes passaram a ter notoriedade em função do cumprimento de mandados. Como exemplo, há o agente Newton Ishii, que passou a ser chamado de “japonês da Federal”.
"E eu sempre tenho perguntado se algum alguns dos senhores deputados sabem o nome de algum policial federal que seja, hoje, um baluarte da instituição. Se algum dos senhores ou das senhoras viu algum preso sendo exposto indevidamente, sendo achincalhado, como em outros tempos”, questionou, na Câmara.
Como exemplo, ele citou a prisão do ex-presidente Fernando Collor, condenado por corrupção e preso em abril. “Nós prendemos um ex-presidente da República há pouco tempo em um local público, em um aeroporto. Ninguém viu nenhuma foto, nenhum vídeo, nenhuma imagem da prisão”, declarou.
“Nós pusemos fim à imprensa, jornalistas, na porta da casa de investigados, antes mesmo da Polícia Federal chegar”, completou.
Inquérito por ‘Lula ladrão’
O diretor-geral da PF defendeu a investigação contra a mulher que gritou “Lula Ladrão” com um megafone em frente à casa do presidente, em São Paulo. De acordo com ele, esse caso não se trata de liberdade de expressão, mas sim da segurança de uma autoridade que poderia ter terminado em uma tragédia.
“Essa senhora, que o senhor diz que está exercendo o seu direito de livre manifestação, se aproximou-se do comboio presidencial, do veículo onde estava a autoridade, seja ela o presidente Lula, seja ela o presidente de qualquer outra nação ou qualquer autoridade protegida pela Polícia Federal, baixou o vidro do seu automóvel e pegou um megafone”, começou a explicar.
Andrei continuou: "Imagine esse episódio em outro país, em uma favela do Rio de Janeiro à noite. Qual poderia ter sido a reação do policial? Por preparo, equilíbrio e prudência dos policiais, ela não foi vítima de uma tragédia”.
O chefe da PF sugeriu que a mulher poderia ter sofrido, como reação do policial, algum tipo de agressão, podendo ser físico ou verbal. “Então nós não estamos tratando aqui, senhoras e senhores deputados, de liberdade de expressão, de liberdade de expressão. Nós estamos tratando da segurança de uma autoridade e de uma quase tragédia que não aconteceu pela responsabilidade desse policial que lá estava”.
Ele contou que esse caso não foi único e que isso prova que a PF abriu o inquérito cumprindo a lei. “Houve um outro caso no Rio de Janeiro, também recente, uma situação muito semelhante de invasão do comboio presidencial. A pessoa também foi abordada, foi levada à Justiça e fez um acordo de transação penal porque sabia que estava cometendo um ato ilícito”.
"Tirar a política da Polícia Federal"
Andrei Rodrigues rejeitou críticas sobre a interferência da política nas ações policiais. Ele respondia a uma pergunta do deputado Coronel Meira (PL-PE) quando expôs que, em sua gestão, criou normas para regular o uso das redes sociais pelos agentes da Polícia Federal.
"O senhor fala em 'tirar a política da Polícia Federal'. Eu já normatizei internamente o uso de redes sociais. Proibi que policial federal use símbolo, arma, faça dancinha em TikTok, faça.. Enfim, Instagram. Para que a instituição não seja utilizada para outros fins", afirmou. Rodrigues acrescentou ainda que pretende vetar a filiação político-partidária dos servidores da Polícia Federal.
"Eu também propus uma legislação para impedir que policial federal se filie a partido político ou participe de atividade político-partidária. Quem quer fazer política, que saia da instituição e cumpra uma quarentena", acrescentou. Ele ainda elogiou o relatório do Novo Código Eleitoral, discutido no Senado Federal. A renovação das regras eleitorais prevê um período de quarentena para que profissionais da área da segurança possam concorrer às eleições. A regra, que ainda será votada, afeta juízes, membros do Ministério Público, policiais, militares e guardas.
INSS: investigações começaram em 2017
Outros assuntos polêmicos também atravessaram a ida de Andrei Rodrigues à comissão, e os deputados repetiram durante as três horas questões referentes à investigação da Polícia Federal que detectou os descontos irregulares nas folhas de aposentados e pensionistas do INSS. Ele repetiu que as investigações sobre as fraudes começaram há, pelo menos, sete anos, e, portanto, os descontos ilegais não começaram na gestão do presidente Lula.
"Na minha gestão nós investigamos as fraudes da previdência e desbaratamos esse crime que vem, deputado, são documentos de 2017. Mostrei documentos que assinei como coordenador-geral em 2018. Não é omissão minha, ao contrário, minha gestão desbaratou esse crime e colocou pessoas na cadeia", declarou. Andrei disse também que não houve qualquer interferência do presidente nas investigações e contestou as declarações de que o irmão de Lula seria um dos acusados pelas fraudes. "Só para deixar claro, repito: o irmão do presidente Lula não era investigado, e nem o sindicato. Foi o que aconteceu. Esses são os fatos para evitar qualquer dúvida", concluiu.