Crime

CPI da Covid pede investigação de empresário sobre homofobia contra senador

'Minha família não é pior do que a sua', afirmou senador Fabiano Contarato ao empresário Otávio Fakhoury, interrogado nesta quinta-feira (30)

Por Lucyenne Landim
Publicado em 30 de setembro de 2021 | 12:15
 
 
 
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O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) determinou que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a condução da pandemia de Covid-19 pelo governo federal comunique o Ministério Público Federal (MPF) sobre eventual crime de homofobia cometido contra o senador Fabiano Contarato (Rede-AP).

A ofensa foi disparada nas redes sociais pelo interrogado desta quinta-feira (30), o empresário Otávio Fakhoury. Ele aproveitou um erro de digitação em uma opinião de Contarato sobre o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten, para afirmar: “O delegado homossexual assumido [em referência a Contarato] talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa daquele plenário... Quem seria o perfumado que lhe cativou?”

Na sessão desta quinta, Fabiano Contarato ocupou a cadeira da presidência da CPI para denunciar a fala de Fakhoury. Visivelmente emocionado, ele questionou o interrogado sobre o princípio de moralidade que Fakhoury diz ter e lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) criminalizou a homofobia. Em fala direta ao empresário, Contarato pediu respeito.

“A gente tem que respeitar as pessoas. Eu aprendi que a orientação sexual não define o caráter. Que a cor da pele não define o caráter. Que o poder aquisitivo não define o caráter. E eu fico muito triste me colocando no lugar dos seus filhos. Isso vai ficar registrado ‘ad infinitum’”, disse, usando expressão em latim que significa “até o infinito”. “Qual imagem, enquanto pai, enquanto esposo, enquanto cidadão, o senhor vai passar para os seus filhos? Essa?”, perguntou.

“Se o senhor faz isso comigo que sou senador da República, imagine em um Brasil que mais mata a população LGBTQIA+. O mínimo que o senhor deveria fazer é pedir desculpa não só a mim, mas a toda a população LGBTQIA+”, continuou o senador.

Ainda no microfone da presidência da CPI, Fabiano Contarato citou em tom crítico o discurso que o presidente da República, Jair Bolsonaro, e apoiadores usam “em defesa da família”.

“Eu sonho com o dia em que eu não vou ser julgado pela minha orientação sexual. Eu sonho com o dia em que meus filhos não serão julgados por serem negros. Eu sonho com o dia em que minha irmã não vai ser julgada por ser mulher, e que meu pai não será julgado por ser idoso. Esse dia ainda não chegou porque o senhor é típico da pessoa que retrata muito bem esse presidente da República que fala na família tradicional. Mas a minha família não é pior do que a sua, porque a mesma certidão de casamento que o senhor tem, eu também tenho”, frisou Contarato.

O senador contou que tem orgulho da vida "modesta" que leva com o esposo e os dois filhos. "Eu quero que eles tenham a certeza de que eu lutei e vou continuar lutando para reduzir essa desigualdade que há no Brasil", concluiu.

Fabiano Contarato recebeu apoio dos outros parlamentares presentes na sessão. Otávio Fakhoury, então, reconheceu a fala e pediu perdão.

“Realmente, o meu comentário foi infeliz. Foi um comentário em tom de brincadeira, porém é uma brincadeira de mau gosto. O meu comentário não teve a intenção de te ofender, mas sei que ofendi profundamente. Peço desculpas pelo comentário infeliz porque eu não sou uma pessoa que discrimina nem raça, nem cor e nem orientação sexual”, disse o empresário ao se defender.

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