BRASÍLIA – O Partido dos Trabalhadores (PT) está cadastrando influenciadores digitais para a nova estratégia de comunicação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que inclui a “campanha taxação BBB” (bilionários, bancos e bets).

Uma página com o nome “Influenciadores com Lula”, lançada pela sigla nesta quinta-feira (3), pede informações como nome completo, e-mail, número de telefone, cidade e estado de origem, além das redes sociais utilizadas para produção de conteúdo.

Na quarta (2), a cúpula do PT reuniu cerca de 270 criadores de conteúdo e apoiadores em um encontro virtual para incentivá-los a dar gás à “campanha taxação BBB”.

Participaram, além do secretário nacional de comunicação, o deputado federal Jilmar Tatto (SP), o presidente do partido, o senador Humberto Costa (PE), e o marqueteiro Otávio Antunes.

Antunes é dono da produtora Urissanê, que seria responsável pela produção dos vídeos usados na recente campanha de petistas contra Motta nas redes sociais.

Ele, marqueteiro de diversas campanhas petistas, como a presidencial de Fernando Haddad em 2018, explicou que a estratégia da campanha BBB será dividida em fases. 

A primeira, já em curso, busca chamar atenção para o tema e trabalhar o conceito de justiça. A segunda deve investir em comparações objetivas — como mostrar que o Bolsa Família, que contempla milhões de pessoas, custa ao Estado o mesmo que isenções fiscais a poucos produtores rurais.

Tatto afirmou aos participantes que a batalha nas redes para defender o governo Lula na crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) se trata de entrar num “modo pré-campanha, porque o país está polarizado”. Ele afirmou, no entanto, que o enfrentamento não é com o Congresso

Coordenador do Prerrogativas, grupo de advogados pró-PT, Marco Aurélio de Carvalho foi chamado pelo ministro da Comunicação Social do governo Lula, Sidônio Palmeira, para participar do encontro e oferecer uma orientação jurídica na comunicação dos influenciadores. 

Ele sugeriu cuidados nas publicações nas plataformas digitais, de modo a “não caluniar, difamar ou injuriar ninguém” e evitar processos.

“Precisamos agradecer ao Hugo Motta (Republicanos-PB), porque ele deu um choque em todos nós. Ele permitiu que a gente reagisse, que deixasse claro o projeto que a gente defende”, declarou Carvalho.

Ele se referiu ao fato de o presidente da Câmara dos Deputados ter pautado a derrubada do aumento no IOF, semana passada. Ao colocar o tema em pauta, Motta pegou Lula de surpresa.

O presidente e seus ministros defendem que a medida visa fazer justiça tributária, ao aumentar a taxa para os mais ricos, equilibrando percentualmente com o que pagam os mais pobres. O governo recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar manter o decreto. 

Nesta quarta, ao participar, em Salvador, das festividades do 2 de Julho, Dia da Independência da Bahia, Lula exibiu um cartaz que pedia a “taxação dos super ricos”. A foto do ato foi compartilhada em suas redes sociais.

Na tarde desta quinta-feira (3), militantes de esquerda ocuparam o prédio Faria Lima 3500, sede do Itaú BBA, com cartazes defendendo a taxação dos chamados super-ricos.

Os ativistas integram a Frente Povo Sem Medo. Eles seguiam no edifício até a mais recente atualização desta reportagem faixas e cartazes com mensagens como: “O povo não vai pagar a conta”, “Chega de mamata” e “Taxação dos super ricos já!”.

Com uso de IA, petistas atacam Motta nas redes

Uma campanha nas redes sociais, deflagrada por petistas com o uso de inteligência artificial, coloca Hugo Motta como grande vilão em uma suposta luta de classes.

A série de publicações, com hastags como #CongressoDaMamata, #CongressoInimigodoPovo e #HugoMottaTraidor, viralizou desde o último fim de semana e azedou de vez a relação de Motta com o governo Lula. 

Essas hashtags lideraram os assuntos mais comentados no X, acumulando juntas mais de 3,8 milhões de menções ao longo da tarde de quarta, segundo reportagem da Folha de S.Paulo com base em dados da plataforma Trends24. 

A campanha nas redes sociais, disseminada por influenciadores e perfis alinhados ao petismo, coloca o governo como o defensor dos mais pobres e o Congresso como defensor dos interesses da elite, como Motta e demais deputados atendendo o lobby de bilionários, bets e bancos.

Com vídeos e imagens geradas por inteligência artificial, que satirizam Motta e denunciam sua atuação política, perfis de ativistas passaram a se referir ao presidente da Câmara como Hugo Nem-se-Importa, como se ele não se importasse com as pautas sociais.

Em um dos vídeos, o personagem digital de Motta aparece descontraído, em uma poltrona de couro, rindo enquanto faz declarações como: “Estamos cortando gastos, sim. Menos verba para saúde, menos para educação e, claro, reforma na aposentadoria do povo.”

Outro vídeo compartilhado nas redes mostra o mesmo avatar de Motta em um jantar com empresários da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo. “Meus amigos empresários, hoje é sobre vocês. Esquece o povo. A nova lei é simples: mais lucro para cima e conta de luz cara para baixo”, diz o personagem.

Na segunda-feira (30), Motta divulgou um vídeo nas redes sociais dizendo que “quem alimenta o nós contra eles acaba governando contra todos”. No mesmo dia, ele participou de um jantar na casa do ex-governador de São Paulo João Doria, que reuniu alguns dos mais ricos empresários do país.

Em discurso, o anfitrião chamou o deputado de “herói do Brasil”. Disse que Motta convenceu os parlamentares de que a derrubada do IOF não era contra o governo Lula, e sim uma “decisão a favor do Brasil”. “Eu mandei uma mensagem pra ele essa semana e agora reafirmo: Hugo, você é o herói do Brasil”, afirmou Doria.

Recente pesquisa Quaest apontou que 80% dos deputados rejeitam a implementação da jornada de trabalho 6x1, que garante um dia de descanso semanal para todos os trabalhadores, enquanto 53% defendem a manutenção dos supersalários no funcionalismo público. 

Motta e Alcolumbre adotam tom institucional após ofensiva do governo

Enquanto o PT convoca um exército digital, os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), têm investido em um tom institucional sobre a disputa pelo IOF. 

No início desta semana, Alcolumbre declarou que o governo tem “legitimidade” para acionar o STF e tentar retomar a validade do aumento das alíquotas do IOF, sem inflamar a crise. 

Motta negou que tenha traído o governo e explicou que agiu para evitar o aumento de impostos à sociedade, em uma construção coletiva entre partidos. 

Na quarta, o deputado indicou a intenção de “dialogar com todos” diante da crise, em manifestação feita à CNN. 

“Nós não estamos propondo aumento de imposto, nós estamos fazendo um ajuste tributário nesse país para os mais ricos, para que a gente não precise cortar dinheiro da educação e da saúde”, disse o petista. (Com Estadão Conteúdo)