BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista ao jornal The New York Times (NYT) publicada nesta quarta-feira (30), que trata com “máxima seriedade” o anúncio de tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto, mas que isso não significa “subserviência”.

“Tenham certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência. Trato todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito”, afirmou Lula ao periódico norte-americano.

Ao anunciar, no dia 9, o tarifaço, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atribuiu a cobrança, além de uma relação que diz ser injusta com o país, ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF). 

O NYT aponta o ministro Alexandre de Moraes, do STF, como um alvo de Trump e cita a revogação de vistos dele e dos outros juízes do Supremo, além do lobby do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, para a aplicação de sanções.

Eduardo, que se mudou para os EUA em março com o intuito de buscar sanções contra ministros do STF, tem dito que a suspensão do tarifaço está condicionado à anistia ao pai e todos condenados por tentativa de golpe de Estado no Brasil após a vitória de Lula nas urnas.

Na entrevista ao NYT, concedida no Palácio da Alvorada, Lula reconheceu o poder econômico e militar dos EUA, mas destacou que isso não causa medo e, sim, preocupação. No entanto, segundo ele, o Brasil não negociará “como se fosse um país pequeno contra um país grande”. 

“Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados”, afirmou Lula.

O presidente brasileiro disse ainda ser “vergonhoso” que Trump tenha feito ameaças econômicas contra o Brasil por meio da rede social Truth Social, pertencente ao líder norte-americano. 

“O comportamento do presidente Trump se desviou de todos os padrões de negociação e diplomacia”, ressaltou. “Quando você tem um desentendimento comercial, um desentendimento político, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é cobrar impostos e dar um ultimato”, completou.

Por fim, Lula destacou que os consumidores norte-americanos vão pagar a conta da tarifa contra o Brasil, com produtos como café, carne, suco de laranja e outros, ficando mais caros. “Nem o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso. Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde.”

O NYT escreveu que “talvez não haja nenhum líder mundial desafiando o presidente Trump tão fortemente quanto o senhor Lula”. O jornal define o brasileiro como possivelmente o estadista latino-americano mais importante deste século.