Em resposta ao ataque hacker que tirou do ar o site do Ministério da Saúde, no início da madrugada desta sexta-feira (10), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, informou que ficaram instáveis, mas já foram retomados pela equipe de tecnologia da pasta, os sistemas de marcação de cirurgias e de transplante de órgãos, além dos sistemas internos de trâmite de documentos. O secretário disse, no entanto, que não há prazo para reestabelecer todos os sistemas que ficaram fora do ar.
“O que a gente ainda não conseguiu restabelecer foram os sistemas e informações que tratam do registro da vacinação. O time está trabalhando intensamente para restabelecer isso da forma mais rápida possível, não só a equipe do Ministério mas também a empresa contratada”, afirmou Cruz.
“O caso já está sendo analisado pela Polícia Federal e GSI. Não podemos dar muitos detalhes sobre o ataque porque ainda estamos em fase de investigação e os órgãos que investigam pedem que detalhes não sejam passados nesse momento para não atrapalhar o processo”, explicou o secretário.
Segundo Cruz, o governo decidiu postergar alguns dos efeitos da portaria 661, que trata da entrada de brasileiros e estrangeiros em território nacional e estava prevista para entrar em vigor neste sábado (11). Isso significa que a exigência do teste RT-PCR 72h antes da viagem está mantida.
Foi postergada por uma semana a exigência do comprovante de vacinação e a obrigatoriedade de quarentena de cinco dias para quem não se vacinou contra a Covid-19. “Colocamos sete dias em prol da segurança e para não prejudicar os brasileiros que estão em outros países”, justificou Cruz.
Ainda de acordo com o secretário, as alternativas para o comprovante de vacinação digital são o cartão físico, a segunda via do cartão e sistemas próprios de estados municípios. Os países que vão receber voos oriundos do Brasil serão comunicados pelo Ministério das Relações Exteriores sobre o que ocorreu para que o comprovante físico seja aceito.
Entenda o ataque hacker
As plataformas que disponibilizam dados de saúde dos brasileiros, como o site do Ministério da Saúde, a página e o aplicativo ConecteSUS – que fornece o certificado nacional de vacinação – foram invadidas por hackers por volta de 1h da manhã.
Também foi afetado o sistema de notificação de casos da doença, o que impacta no registro e informação da tendência de disseminação do coronavírus e variantes, como a ômicron.
Mais cedo, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Polícia Federal começaram a investigar o ataque hacker, assumido pelo Lapsus$ Group.
Segundo mensagem divulgada pelo grupo na página do ministério, foram sequestrados 50 terabytes de informações. “Nos contate caso queiram o retorno dos dados”, dizia a mensagem, que já foi retirada do site. Durante a tarde, a mensagem no site mudou para “não é possível acessar esse site”, comum em páginas que foram retiradas do ar.
Embora tenha semelhança com um ataque ransomware, a análise preliminar da Polícia Federal indicou que não houve sequestro de dados do Ministério da Saúde. A hipótese da investigação é de que a ação criminosa foi motivada por ativismo político. Ainda está sendo avaliada a perda de dados. A conta usada para realizar o ataque foi identificada e está sendo rastreada.
É notável que há grupos antivacina, incluindo o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores, contrários à adoção das medidas restritivas para viajantes, recomendada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ao longo desta semana, foram recorrentes as críticas e ataques de Bolsonaro ao comprovante de vacinação, chamado de “passaporte da vacina”. Durante cerimônia no Palácio do Planalto na quinta-feira (9), Bolsonaro disse que não pode aceitar o comprovante porque ele mesmo não se vacinou.
Antes disso, na terça-feira (7), o ministro da Saúde repetiu o bordão do presidente, segundo o qual “é melhor perder a vida do que a liberdade”, quando anunciou que o governo não adotaria a obrigatoriedade do comprovante de vacina.
Porém, a portaria editada e publicada pelo governo federal na quarta-feira (8) determinou que os viajantes terão que apresentar o comprovante e, no caso dos que não se vacinaram, será aplicada quarentena de cinco dias.