Os vazamentos do inquérito liderado pelo ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou um acordo de delação premiada entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), e a Polícia Federal, têm gerado preocupações no governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo apurou a reportagem de O Tempo em Brasília, uma das principais preocupações é o ressurgimento na consciência popular de uma imagem das Forças Armadas em conflito, especialmente após desestabilização em decorrência dos atos do 8 de janeiro, quando ocorreram as invasões e depredações nos prédios dos Três Poderes, em Brasília. 

Nesse contexto, o governo está trabalhando para reabilitar a imagem das Forças Armadas. Nos bastidores, há pressões para que os responsáveis por iniciativas golpistas sejam responsabilizados. A mensagem que se procura transmitir é que esse movimento pertence ao passado, ou seja, ao governo de Jair Bolsonaro, e que as ações e os envolvidos devem ser deixados para trás.

Conforme relatou uma fonte à reportagem, "da parte da Defesa, não há desconforto com as Forças Armadas. Tudo o que ocorreu são eventos passados. Haveria desconforto se fosse algo presente."

Entre as recentes revelações feitas por Cid à Polícia Federal, está a afirmação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas e ministros militares do governo para discutir um suposto golpe de Estado logo após as eleições presidenciais em outubro do ano passado. 

Entre os incentivadores, o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos. Ele, inclusive, recusou-se a prestar continência ao petista após sua posse para o terceiro mandato.

Além disso, a reportagem apurou que o presidente Lula não planeja comentar o caso envolvendo Mauro Cid. Ele continuará a buscar uma relação harmoniosa com as Forças Armadas, como demonstrado recentemente durante o desfile do 7 de setembro, quando Lula posou para fotos de mãos dadas com os comandantes das Forças Armadas.

Enquanto o resultado não sai… 

Nas Forças Armadas, o clima é de mal-estar com as indicações de quementores da tentativa de golpe estavam entre suas fileiras. No entanto, aguardam-se as conclusões das investigações judiciais para responsabilizar cada um dos envolvidos.

A reportagem buscou comentários do Exército e da Marinha. A Marinha, especialmente devido ao envolvimento do almirante, declarou que "não teve acesso ao conteúdo da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid". Além disso, afirmou que "não se manifesta sobre processos investigatórios em curso no âmbito do Poder Judiciário" e reafirmou seu compromisso com a legalidade e ética.

O Exército informou que "as informações fornecidas pelo tenente-coronel Mauro Cid fazem parte de processos investigatórios conduzidos pelos órgãos competentes. Portanto, a Força não comenta investigações em curso, mantendo o respeito às instituições da República. O Exército tem colaborado com as investigações, pautando sua atuação pela legalidade e transparência." Já a Aeronáutica não se pronunciou até a publicação da reportagem.