Novo governo

Grupo político de nova ministra do Turismo é ligado a miliciano, mostra jornal

O próprio miliciano se envolveu em atos de campanha de Daniela do Waguinho, há quatro anos, quando cumpria as condenações por homicídio e associação criminosa em regime semiaberto

Por O Tempo Brasília
Publicado em 03 de janeiro de 2023 | 15:08
 
 
 
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A nova ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), mais conhecida como Daniela do Waguinho, teve que vir a público nesta terça-feira (3) dar explicações sobre uma polêmica envolvendo ela e seu marido, Waguinho (União Brasil), que é prefeito de Belford Roxo. Ela rebateu reportagem da Folha de S. Paulo que mostra relação do grupo político do casal com a família do ex-policial militar Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado e preso sob acusação de chefiar uma milícia na Baixada Fluminense.

“A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, durante sua campanha, em 2018, recebeu apoio em diversos municípios. Ela ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito. Daniela Carneiro salienta que compete à Justiça julgar quem comete possíveis crimes. Quanto às nomeações na Prefeitura de Belford Roxo, a ministra enfatiza que não tem nenhuma ingerência, pois o ato é de competência exclusiva do Poder Executivo”, diz nota oficial distribuída pela assessoria da ministra.

A reportagem lembra que Daniela teve o apoio da ex-vereadora Giane Prudêncio, mulher de Jura, nas eleições de 2018 e do ano passado. O próprio miliciano se envolveu em atos de campanha de Daniela, há quatro anos, quando cumpria as condenações por homicídio e associação criminosa em regime semiaberto, ressalta o texto.

Jura, apontado como chefe do chamado “Bonde do Jura”, estava nas ruas em 2018 após ser nomeado, em junho de 2017, como assessor de uma secretaria da Prefeitura de Belford Roxo, comandada por Waguinho, completa a Folha. O emprego lhe garantiu o benefício de trabalhar fora da cadeia, lembra o jornal. A Justiça, porém, suspendeu a autorização de trabalho em janeiro de 2020 após identificar possíveis irregularidades na atuação do ex-PM na prefeitura.

Jura está detido na Cadeia Pública Constantino Cokotós, destinada a agentes de segurança presos. O Ministério Público considera que ele é “detentor de poderio e de capacidade para arregimentar homens e armas dentro de sua estrutura criminosa, mesmo estando preso”. A Secretaria de Administração Penitenciária, por sua vez, classifica seu comportamento como excepcional.

Daniela e marido lideraram campanha de Lula na Baixada Fluminense

Daniela foi nomeada por Lula como uma forma de contemplar a União Brasil e ampliar a presença feminina na montagem dos ministérios. Também foi uma retribuição pelo empenho dela e do marido na campanha do segundo turno em favor do petista. O casal foi uma das poucas lideranças a apoiar abertamente Lula na Baixada Fluminense.

A ministra foi reeleita deputada federal como a mais votada no Rio de Janeiro. Como a Folha de S.Paulo mostrou, a campanha dela foi marcada pelo apoio irregular de oficiais da Polícia Militar e pelo ambiente hostil e armado contra adversários políticos de sua base eleitoral.

Uma das apoiadoras de Daniela foi Giane, ex-vereadora de Nova Iguaçu. Em suas redes sociais, a mulher do ex-PM divulgou caminhadas com bandeiras que liderou em favor da ministra e do deputado estadual Márcio Canella (União Brasil), de quem é assessora. As postagens eram acompanhadas da frase “família Jura sempre com vocês”.

Jura é ex-cabo da PM. Em 2004 e 2008, tentou uma vaga na Câmara Municipal de Nova Iguaçu, sem sucesso. Para o Ministério Público, o ex-PM também usava a estrutura criminosa para exercer influência política.

Ele foi preso em 2009 sob acusação de comandar uma milícia nas cidades de Belford Roxo, Queimados, Nova Iguaçu e São João de Meriti. Ele foi condenado a 22 anos de reclusão pelo homicídio de um homem em Nova Iguaçu e a quatro anos sob acusação de associação criminosa.

De acordo com a Promotoria, Jura comandou um grupo paramilitar armado que invadia comunidades da região exigindo taxa de proteção de comerciantes e moradores. Após sua prisão, uma manifestação na rodovia Presidente Dutra foi feita pedindo sua liberdade.

Em 2012, sua mulher, Giane, conseguiu uma cadeira na Câmara Municipal de Nova Iguaçu pelo partido PTN. Ela acabou não sendo reeleita quatro anos depois.

Após oito anos preso, período no qual era considerado de altíssima periculosidade, Jura conseguiu progressão de pena para o regime semiaberto. Em junho de 2017, teve deferido o benefício de trabalho extramuros na Prefeitura de Belford Roxo, tendo que pernoitar na cadeia.

A contratação de Jura foi revelada pelo jornal Extra em janeiro de 2020. Logo em seguida, a TV Globo divulgou atividades de campanha do ex-PM em favor de Daniela.

Justiça do Rio respondeu benefício após reportagens

Após as reportagens, a Justiça suspendeu o benefício ao miliciano, a pedido do Ministério Público. Num vídeo publicado por sua mulher nas redes sociais, ele agradeceu a Waguinho pela oportunidade de ressocialização.

As investigações do Ministério Público mostraram indícios de irregularidade na comprovação da presença ao trabalho.

As folhas de ponto, apresentadas como prova de comparecimento ao trabalho, estavam assinadas pelo secretário Robenilson Fernandes, mesmo em períodos no qual ele não estava no cargo como chefe imediato de Jura.

O próprio ex-PM afirmou, em depoimento à Promotoria, que não foi empossado no cargo e que não estava recebendo os R$ 3.000 mensais de remuneração devida.

Apesar disso, o miliciano foi absolvido pelo episódio no processo administrativo dentro da Secretaria de Administração Penitenciária. A apuração teve como única diligência o depoimento do ex-PM.

Contudo o episódio tem gerado dificuldades no relaxamento da prisão de Jura. A defesa do ex-PM solicitou no ano passado autorização para visita periódica ao lar. Apesar de ter um comportamento considerado excepcional, o pedido foi negado pela Vara de Execução Penais.

Um dos argumentos apresentados pela Justiça foi o relatório de inteligência apresentado pelo Ministério Público, defendendo o indeferimento do pedido.

 

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