O governo federal está fazendo uso da inteligência artificial nos canais de atendimento 0800 para tirar dúvidas da população sobre programas sociais, a exemplo do Bolsa Família e Farmácia Popular. Na prática, o usuário recebe uma mensagem de voz, com sotaque regional, com explicações e orientações.
A informação exclusiva foi dada pelo ministro do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, durante entrevista a O TEMPO Brasília. “Toda vez que alguém liga, tem uma dúvida ou uma colocação, nós temos agora por Inteligência Artificial, a capacidade de responder de forma orientativa”, pontuou.
Segundo o ministro, o governo federal pode ampliar a capacidade de atendimento com a nova ferramenta, uma vez que muitos beneficiários são analfabetos. “A gente consegue ampliar o atendimento com o nosso call center com um conjunto de formas de atendimento. Em um ano como 2023, nós teríamos atendido entre 800 mil a um 1,2 milhão de pessoas. Com inteligência artificial, podemos passar a atender 9 milhões de pessoas”, frisou.
A reportagem inclusive ouviu uma dúvida de um usuário e, na sequência, a explicação da ferramenta de inteligência artificial. O ministro explicou que a assertividade das respostas vem do cruzamento de informações do Cadastro Único ( CadÚnico), Bolsa Família e outras bases de dados. Segundo o ministro, a ferramenta já ultrapassou a fase de testes e está sendo aperfeiçoada.
“Ela já ultrapassou a fase de teste. Ainda claro, a gente sempre faz aperfeiçoamento, mas é um instrumento que já está servindo ao povo brasileiro aqui no Ministério do Desenvolvimento de Assistência Social”, frisou Wellington Dias. A pasta comandada por ele, no entanto, não fez o anúncio oficial da ferramenta, o que deve ocorrer em breve.
Confira a entrevista com o ministro do MDS, Wellington Dias:
Pente-fino no cadastro do Bolsa Família
O governo federal também vai utilizar outra ferramenta - de inteligência artificial - para fazer um pente-fino no CadÚnico de forma a identificar possíveis fraudes no Bolsa Família. Na última semana, o MDS anunciou que o uso da tecnologia faz parte do plano de ação de 2024 da Rede Federal de Fiscalização do Programa Bolsa Família.
Uma pesquisa do Insper, divulgada no início de março deste ano, identificou uma distorção no CadÚnico e apontou que há 6,6 milhões de famílias fora da linha da pobreza. O estudo, segundo o ministro, pode ajudar o Executivo a investigar discrepâncias regionais e possíveis fraudes no cadastro.
Eleições 2024
Na entrevista, Wellington Dias frisou que o uso da ferramenta de fiscalização e cruzamento de dados será importante em 2024, ano de eleições municipais. O objetivo é evitar fraudes e uso político do programa de transferência de renda.
“Eu quero acreditar que o Brasil amadureceu. E quem quer ser candidato a vereador, vereadora, prefeito, prefeita, vice-prefeito, vai ter que trabalhar com base na lei. Então, aqui eu acho que as pessoas têm que ajudar a encontrar quem ainda passa fome. Se tiver alguém arriscando ali, se colocando, cometendo crime, vai pagar. Vai pagar porque aqui hoje é um sistema bem mais potente”.
Conforme pontuou, o sistema de fiscalização e auditoria é unificado com a Controladoria-Geral da União (CGU), Polícia Federal (PF), Advocacia Geral da União (AGU), Tribunal de Contas da União (TCU) e Cortes de contas estaduais. “Eu digo sempre: é o olho do cidadão que melhor faz a fiscalização”.
Regra de proteção e ascensão social
O governo federal calcula que cerca de 9 milhões de beneficiários do programa Bolsa Família formalizaram sua situação no mercado de trabalho e regularizaram seus negócios ao longo do ano de 2023. O ministro do Desenvolvimento Social avalia o número como saldo positivo, uma vez que sinaliza que muitas pessoas saíram da informalidade.
Isso quer dizer, segundo ele, que quem assina cadeira de trabalho não perde automaticamente o benefício do Bolsa Família, e passa a entrar na regra de proteção. Em vigor desde junho de 2023, essa regra permite que famílias cujos membros consigam emprego e melhorem a renda recebam 50% do benefício a que teriam direito por até dois anos, contanto que cada membro receba até meio salário mínimo.
Nesses casos, o benefício médio concedido foi de R$ 372,39. “Criamos a regra de proteção. A pessoa não sai do Cadastro Único, a gente fica ali acompanhando a renda: perdeu o emprego, caiu o salário aqui, ou vem para 50% do Bolsa Família ou vem para 100% do Bolsa Família”, explicou.
“É uma regra e que depois que entra no Bolsa Família, só sai para cima. De primeira, a pessoa entrava na pobreza, saía da pobreza e voltava de novo, vinha para a miséria, ficava aqui navegando entre a miséria e a pobreza. Agora não, agora a gente dá a mão e quer levar aquela pessoa para crescer, através do emprego, através do empreendedorismo de alguma atividade”, pontuou.
Sobre zerar a fila do Bolsa Família
Wellington Dias listou que 95 milhões de pessoas estão no Cadastro Único. E, deste montante, cerca de 56 milhões estão inscritas no Bolsa Família. Sobre o desafio de tentar zerar a fila, ele explicou que, ao assumir a gestão da pasta, em janeiro do ano passado, o número de pessoas aguardando o benefício era de 2,7 milhões. Em dezembro de 2023, esse número foi reduzido para 175 mil.