AGENDA DE LULA

Quadros de longa data do PT avaliam que 'Lula 3' está distante de aliados

A indefinição da agenda do presidente em Minas e a falta de acesso a ministros do “núcleo duro têm incomodado apoiadores de longa data do partido

Por Manuel Marçal
Publicado em 16 de janeiro de 2024 | 11:20
 
 
 
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A indefinição da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Minas Gerais e a falta de acesso a ministros do “núcleo duro” do governo federal têm incomodado prefeitos e apoiadores de longa data do partido. O entendimento é de que o governo “Lula 3” está distante de aliados que foram cruciais para a eleição do petista. 

Um dos exemplos que interlocutores contam para explicar essa mudança da postura da gestão do presidente - se comparado com mandatos anteriores - é o caso de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, que é atualmente a maior cidade administrada pelo PT no Brasil. 

A prefeita Marília Campos é figura constante nas agendas do presidente em Brasília, sobretudo no Palácio do Planalto. No Salão Nobre da sede do Executivo, onde ocorre a maioria das solenidades de lançamento de programas do governo federal, ela costuma se sentar nas cadeiras reservadas para autoridades e partilha fileira com ministros do governo do presidente.

Apesar dos gestos solenes do cerimonial do Palácio do Planalto e do “cercadinho” restrito aos convidados VIPs, a credencial de maior gestora municipal do PT não tem sido suficiente para ela conseguir atenção necessária com auxiliares do presidente Lula e do próprio petista. 

Interlocutores próximos de Marília Campos, sob reserva, contaram à reportagem de O TEMPO Brasília que a prefeita de Contagem está insatisfeita e “não se sente contemplada”. As críticas recaem tanto na dificuldade dela acessar diretamente Lula, quanto os próprios ministros de Estado. 

Nesse sentido, ela tem sido recebida por secretários executivos na capital federal, mas não pelos titulares dos ministérios. Ainda segundo uma fonte ouvida pela reportagem, ela espera, há mais de um ano, que o petista retribua o gesto e visite a maior cidade administrada pela legenda. Contagem possui mais de 660 mil habitantes, segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Apoiadores avaliam que há blindagem nas agendas do presidente

 
Desde que assumiu o terceiro mandato, o petista não pisou no Estado. Conforme O TEMPO Brasília mostrou, a falta de previsão de agenda do presidente Lula em Minas Gerais tem irritado os caciques do PT e também auxiliares no Palácio do Planalto. 
 
Nos bastidores, interlocutores contam que já se queixaram com os responsáveis por fechar a agenda prioritária do petista de que é preciso ter compromissos oficiais em Minas Gerais. Mas, apesar dos alertas de que o Estado é o segundo maior colégio eleitoral do país e foi essencial para a vitória de Lula nas urnas, os apelos são ignorados.
 
Comentários do ex-ministro do governo Lula e atual diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci, vão na mesma direção. Ele tem dito a interlocutores no Estado que não entende a estratégia do governo federal ao deixar Minas Gerais fora das prioridades de viagem de Lula. 
 
Na avaliação de pessoas que ouviram os depoimentos de Dulci, o governo “Lula 3” se mostra mais distante de aliados, prefeitos e de atores políticos importantes. Em resumo, está mais difícil ter acesso ao presidente, algo que não acontecia no primeiro e segundo mandato (2003-2010). 

Luiz Dulci foi ministro chefe da secretaria-geral da presidência da República por oito anos, cargo hoje ocupado por Márcio Macêdo (PT-SE). 

A preocupação de correligionários e de alguns governistas é justamente com o pleito de 2024, quando brasileiros vão eleger novos prefeitos e vereadores. Grandes cidades do país devem reproduzir o cenário de polarização de 2022, o que servirá de termômetro para 2026. 
 
Em entrevista, na manhã da última terça-feira (15) ao Café com Política, da FM O TEMPO 91.7, o presidente do PT de Minas Gerais, Cristiano Silveira, disse que também aguarda o indicativo de quando o presidente irá ao Estado. 

“Boa pergunta. Estamos aguardando também. O presidente Lula já havia indicado que viria a Minas, mas em decorrência da cirurgia que ele teve que fazer, adiou. E agora a gente aguarda da equipe dele um indicativo de nova data. Ainda não tem”, afirmou.
 
Relatos de fontes de dentro do Palácio do Planalto confirmam a fala de Cristiano Silveira. Sob reserva, um interlocutor contou que os responsáveis por bater o martelo nas agendas oficiais de Lula não são tão próximos ao Estado e acabam contemplando outras regiões do país, a exemplo de São Paulo. 
 
Conforme Lula havia anunciado, neste ano ele priorizará agendas pelo Brasil ao invés de compromissos no exterior. O plano prevê visitas a todos os Estados brasileiros já no primeiro semestre para acompanhar as entregas do governo. 

Na próxima quinta-feira (18), ele dará a largada, por Salvador (BA), a uma série de viagens que fará pelo Nordeste, região em que concentra sua maior popularidade. Além da Bahia, o petista passará por Ceará e Pernambuco.

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