O senhor é um deputado do PMDB, e seu partido é da base do governador Fernando Pimentel, no entanto o senhor age de maneira mais independente em relação à orientação do partido. Por quê? O PMDB sempre teve essa raiz. No PMDB eu posso criticar o Temer, o Sarney, o vice-governador, o Adalclever Lopes, ao contrário do que acontece em outros partidos. Fui um dos coordenadores da campanha de Alexandre Kalil em Belo Horizonte, contra uma candidatura do PMDB, e nem assim o partido teve retaliação. Eu vou sempre apoiar o governador em todas as grandes questões, tenho tido compreensão em várias decisões difíceis.

Quais decisões? Alguns reajustes de ICMS tiveram que ser feitos e a questão dos fundos, por exemplo. Particularmente não sou fã da maneira que os fundos foram montados, mas, no momento atual é necessário, tendo em vista que a alternativa para não criá-los é dar um calote no Estado, parar de pagar servidor e derrubar a economia do governo de Minas, igual se derrubou a economia do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. O problema desse mandato tem sido escolher entre o péssimo e o ruim. O Estado não se preparou. Nós estamos enterrados em nível de gestão pública, se gasta muito com o servidor, com Previdência. Acredito que o futuro da administração pública está em dar para os servidores ferramentas para que eles tenham mais produtividade e permitir que eles compartilhem de um orçamento maior no futuro. Mas nada foi feito. Eu me pergunto qual é a necessidade de 25 mil pessoas terem que ir ao UAI diretamente para utilizar um serviço do Estado, sendo que hoje, o Estado já poderia tecnologicamente chegar à casa das pessoas.

E por que isso não está sendo feito? É uma crítica que o senhor faz ao governo? Por falta de investimento. Isso é uma crítica que eu faço aos cinco últimos governos que não investiram na desburocratização. A maioria das empresas, hoje, por exemplo, não trabalha com holerite de pagamento, é tudo via internet. Pode parecer pequeno, mas a impressão de holerite para todos os servidores do Estado ultrapassa a cifra de milhões. O Estado não se preparou para isso.

Qual seria então a postura que o governo deveria ter nesse momento de crise? A postura do governo não está completamente errada, eles foram austeros em nível de administração. O que precisa ser discutido é o futuro. Não se consegue tirar o governo de Minas dessa situação em dois anos, estamos falando de mais de dez anos. É preciso rediscutir com os servidores o papel deles. O servidor precisa entender que, diferentemente do resto da população, ele é como se fosse sócio do Estado.

O senhor acha que seria o momento de congelar salários? Não acho. Como nós temos que conduzir isso com os servidores para os próximos tempos? Tem que parar essa febre de concurso atrás de concurso, a gestão pública tem que ser flexibilizada. O Ministério Público carregou essa bandeira de paralisação do Estado por meio de concurso e foi o primeiro a perceber, agora, durante a crise, que isso gerava problema. O MP pediu para a ALMG uma autorização para extinguir cargos concursados e substituí-los por de livre nomeação.

O senhor votou a favor? Votei. Sou completamente a favor e vou me justificar. Por exemplo, no desastre de Mariana, o fórum da cidade recebeu mais de 500 ações, o Ministério Público precisou designar um promotor para lidar com essa questão, mas ele não consegue levar nenhuma estrutura porque o assessor dele não pode ir, pois tem inamovibilidade, a estrutura do MP é congelada.

O senhor vem lutando há um tempo pela CPI do Mineirão. Por que ela não foi aberta até hoje? O que deve ser investigado? A CPI já não caminha há algum tempo dentro da ALMG por pressões dos dois lados. O deputado consegue inquirir sem a CPI, e foi o que eu fiz. Busquei documento, peguei provas, protocolei no Ministério Público. Apresentarei esse relatório completo, com todas as provas que eu colhi nesses últimos dois anos sobre a questão da Minas Arena. Posso adiantar que tenho provas, o processo é bastante robusto. Praticamente substitui o trabalho da CPI, montei um relatório, juntei as provas e agora é a parte que a CPI faria, encaminhar para Ministério Público, Tribunal de Contas, Justiça e para a Advocacia Geral do Estado e para a Procuradoria Geral do Estado.

O que o senhor suspeita que tenha acontecido? Não suspeito, tenho absoluta certeza de que a gestão da Minas Arena é prejudicial ao Estado. Ela foi beneficiada por uma série de cláusulas que fazem lesão ao Estado, aos clubes que utilizam o estádio e ao bolso do consumidor. A Minas Arena foi beneficiada em uma fiscalização muito frouxa, ou seja, ela conseguiu colocar em um jogo uma receita de R$ 2,5 milhões registrada no borderô e falar para o Estado que recebeu R$ 1,5 milhão. Tinha uma auditoria que estava obrigada a verificar isso, uma verificadora independente que fingiu que não viu. Depois que se analisam as documentações da verificadora independente, se vê que ela também está toda atrelada a esse processo fraudulento, com certidões e atos questionáveis.

A origem dessa problemática contada pelo senhor no contrato foram o modo como ele foi gerado e a relação do Estado com a empresa? Sim. A Minas Arena pega uma parte grande da principal receita que é a do futebol. Nos jogos do Cruzeiro, cerca de 65% deles são com prejuízo. É preciso 30 mil pagantes no Mineirão para poder empatar o custo. O Estado, que já tem prejuízo para todos os lados, ainda paga quase R$ 180 milhões por ano para poder garantir uma receita mínima. Há quatro anos, a Minas Arena registra lucro no balanço, já tem quase R$ 100 milhões de lucros retidos no balanço que ela publicou. E esse lucro não é compartilhado com o Estado. O Estado continua pagando como se ela estivesse operando no vermelho.

Joesley Batista disse ter comprado parte do Mineirão. A delação reforça a denúncia? Ele teria pagado 30 milhões por 3% da Minas Arena, o que avaliaria a empresa em R$ 1 bilhão. Agora, o simples fato de parte da Minas Arena ter sido vendida sem a anuência prévia do Estado, de acordo com o contrato, isso geraria caducidade imediata, ou seja, o contrato teria que ser rescindido. A Minas Arena alega que não foi vendida porque os bancos não deram autorização, a empreiteira HAP, que é a acionária, alega que vendeu, que a venda está dentro da lei e que isso foi feito de maneira correta.

Até que ponto essa situação vivida pelo presidente Michel Temer pode atrapalhar o desempenho de seu partido nas próximas eleições? Vai afetar muito. Fico imaginando o tanto que o nome do partido fica sujo pela atuação individual dos integrantes. Se nós continuarmos com essa cultura, nenhum partido no Brasil vai prestar. Algumas pessoas me sugerem a sair do PMDB, e eu me pergunto: ‘Para onde eu vou? Vou para PT, PSDB, PV, PSB, PP, PR?’. Todos estão no meio da Lava Jato.

O Aparte fez um levantamento da presença dos parlamentares da ALMG entre reuniões ordinárias e extraordinárias, e o senhor está entre os mais faltosos. Gostaria de saber o porquê de suas faltas? Eu não estava entre os mais faltosos até vocês juntarem as extraordinárias com as ordinárias. E eu falto às extraordinárias por um motivo muito simples: a ALMG marca extraordinária de manhã, de tarde e de noite, para contar as sessões para poder votar os projetos mais rápido. É uma forma que o governo tem de pressionar a oposição. Eu fui vereador de oposição, nunca me chame para poder participar de um processo para atropelar uma base de oposição.