BRASÍLIA – Um grupo de oração irá à casa de Jair Bolsonaro (PL) nesta quarta-feira (20/8). Entre as 16 pessoas autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a visitar o ex-presidente está Dirce Carvalho, pastora da Comunidade das Nações de Brasília e sócia de uma empresa ligada ao movimento cristão Legendários, que cobra por atividades em grupo ao ar livre.
A empresa tem sede em Águas Claras, região administrativa do Distrito Federal. Dirce comanda eventos para “esposas de legendários”. Dirce já participou de outras atividades religiosas organizadas por Michelle Bolsonaro, incluindo um culto com diversas mulheres evangélicas no Palácio da Alvorada, durante a campanha eleitoral de 2022.
O movimento Legendários é voltado para homens e diz “buscar a transformação de homens, famílias e comunidades, promovendo um reencontro com a fé e a essência masculina através de experiências ao ar livre e desafios físicos”. Tudo pago. Um fim de semana com o grupo pode custar mais de R$ 30 mil ao fiel.
Na última sexta-feira (15/8), um grupo de grupo de legendários foi atacado por um enxame de abelhas durante um evento em Caldas Novas (GO). Dezenas de integrantes do movimento foram picados. O Samu foi acionado para prestar os primeiros socorros. Outros três médicos que estavam no local também ajudaram no atendimento às vítimas.
O grupo de oração para o ex-presidente foi organizado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O marido dela está em prisão domiciliar desde 3 de agosto. Para Moraes, Jair Bolsonaro violou a medida cautelar que o proibia de usar as redes sociais, ao participar remotamente de manifestações contra o STF em 3 de agosto.
Jair Bolsonaro discursou em Copacabana pelo celular do filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e teve a imagem pelo celular exibida também em São Paulo pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), além da postagem do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), outro filho do ex-presidente.
Moraes apontou descumprimento deliberado por Bolsonaro das medidas restritivas, a última vez durante os atos de 3 de agosto. Para o ministro, houve “atuação coordenada dos filhos de Jair Messias Bolsonaro a partir de mensagens de ataques ao Supremo Tribunal Federal, com o evidente intuito de interferir no julgamento da AP 2.668/DF (ação penal do golpe)”.
Na última terça-feira (19/8), também pediram autorização para visitar Bolsonaro os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Sanderson (PL-RS), Alfredo Gaspar (União-AL) e Marcel van Hattem (Novo-RS), além dos senadores Carlos Portinho (PL-RJ), Magno Malta (PL-ES) e Marcos Rogério (PL-RO).
O pedido, feito pelos advogados de Bolsonaro, inclui ainda a influenciadora digital Bárbara Destefani, conhecida por seu canal no YouTube “Te Atualizei”, em que comenta notícias e temas políticos com viés conservador.
A defesa de Bolsonaro ainda pediu para antecipar para 27 de agosto a visita do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, originalmente marcada para o dia 28.
Moraes não havia respondido a todos os pedidos até a mais recente atualização desta reportagem. apenas familiares e médicos não precisam de autorização judicial para visitar o ex-presidente.
Apoiadores não fazem vigília nem manifestações
Apoiadores de Bolsonaro foram para frente do condomínio Solar de Brasília, onde ele mora, após a decretação da prisão domiciliar, na noite de 4 de agosto. Houve buzinaço, orações e a promessa de que lá permaneceriam até que ele fosse solto ou absolvido.
Anunciaram acampamentos também na porta das residências oficiais das presidências do Senado e da Câmara, para pressionar pela anistia a todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 e pelo impeachment de Alexandre de Moraes.
No entanto, desde então, nada foi adiante, a não ser a marcação do julgamento do ex-presidente e outros sete réus por suposta tentativa de golpe de Estado, que começará em 2 de setembro.
Desde o último sábado (16/8), quando Bolsonaro saiu para exames em um hospital particular, com autorização de Moraes, nenhum apoiador do ex-presidente foi ao condomínio onde ele mora, segundo moradores e funcionários.
Na ida de Bolsonaro ao hospital, 10 apoiadores dele apareceram em frente à unidade de saúde, com bandeiras do Brasil, de Israel e cartazes escritos em inglês e português. A jornalistas, disseram que fariam vigília em frente ao condomínio do líder político.
Uma equipe de O TEMPO esteve no Solar de Brasília na segunda (18/8) e terça-feira (19/8). Só encontrou a calmaria habitual do lugar. Apoiadores do ex-presidente também não apareceram na frente das residências oficiais do Senado e da Câmara.
Tampouco continuaram com as carretas e buzinaços, que realizaram na Esplanada dos Ministérios nos três primeiros dias de prisão domiciliar de Bolsonaro. A Praça dos Três Poderes foi cercada com grades desde que o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) tentou estabelecer um acampamento, ainda no fim de julho.
A casa onde Bolsonaro mora é alugada, paga pelo PL, partido que tem ele como presidente de honra. Ela fica a cerca de 10 km (20 minutos de carro, dependendo do fluxo) do Congresso Nacional. Bolsonaro e família chegaram a morar em outra casa no mesmo condomínio.
Em novembro de 2024, após reclamar do pouco espaço e da falta de privacidade devido à curiosidade dos vizinhos, o ex-presidente mudou para a casa atual, onde a PF cumpriu a ordem judicial de Moraes em 4 de agosto. Desde então, ele só saiu de lá para fazer os exames, que não apontaram nada de grave.
Nessas duas semanas de prisão domiciliar, Bolsonaro recebeu discretas visitas de aliados políticos. A exceção foi o líder da oposição na Câmara, o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS), que foi repreendido pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro após o parlamentar anunciar, em redes sociais, que faria um churrasco para o ex-presidente na casa dele.
“A visita tinha caráter restrito, breve e voltado exclusivamente a fins humanitários — e não conforme divulgado pelo parlamentar em vídeo, no qual, ao deixar sua residência, afirmou que realizaria um churrasco em minha casa. Tal evento não ocorreu”, escreveu Michelle em rede social.
Vizinhos disseram ao O TEMPO que nunca houve sinal de churrasco na casa do ex-presidente nessas duas semanas de prisão domiciliar. O único movimento que aumentou na frente da residência foi a de vigilantes do condomínio que fazem rondas em motos.
O conjunto de casas de alto padrão, dividido em três quadras (quarteirões) interligadas, ganhou mais câmeras de vigilância, mas isso já estava previsto antes da medida de Moraes contra Bolsonaro. Os moradores com as tags em carros e os rostos cadastrados têm acesso a todas as quadras. Visitantes continuam precisando de autorização para adentrar, mediante identificação.
Mas nem há mais jornalistas de plantão em frente ao Solar de Brasília. A movimentação dos profissionais de imprensa e, principalmente, o barulho dos apoiadores de Bolsonaro, que promovem carreatas, buzinaços e até soltaram foguetes em frente ao residencial, foram motivo de muitas e exaltadas queixas dos moradores do condomínio.
Reportagens de O TEMPO revelaram conteúdos do grupo de Whatsapp do Solar de Brasília, com posicionamentos ideológicos e a preocupação com o acampamento de bolsonaristas, que não ocorreu.
Na rota das duas pistas de pouso e decolagem do aeroporto de Brasília, os moradores do Solar de Brasília por enquanto voltaram a se queixar apenas do barulho das turbinas dos aviões comerciais, que nos horários de maior tráfego passam em intervalos de dois a três minutos sobre as casas do condomínio.
O Solar de Brasília fica ao lado do Centro Hípico Lago Sul, onde há uma creche particular e muita área verde. A menos de 50m do condomínio e da hípica há uma área com cerrado nativo, onde ouvem-se pássaros cantando o dia inteiro e quero-queros andam pela vegetação rasteira à procura de insetos.
Confira abaixo detalhes do residencial onde Bolsonaro mora e cumpre a prisão domiciliar:
- Cada imóvel do condomínio Solar de Brasília precisa pagar uma taxa mensal de R$ 976 ou R$ 887, se pagar até o dia 5 do mês para manutenção das áreas comuns;
- Cada quadra tem ao menos um parque infantil. Há uma área grande de convivência na quadra 2, com campo de futebol gramado, rampas de skate, quadra de futsal e basquete, quadra de tênis e uma quadra de areia para vôlei. Há ainda churrasqueiras;
- O síndico está no início do mandato e tem investido bastante em eventos para unir os moradores. Entre outros, já realizou festas para comemorar o Dia das Mães, dos Pais e o período junino;
- A festa de Halloween já é tradicional no condomínio. Recentemente, o síndico criou um happy hour às sextas-feiras, com comidas e bebidas vendidas em food trucks.