O ano era 2009 e Flávio Dino estava na Câmara dos Deputados. Ex-juiz federal em seu primeiro - e único - mandato na Casa, o parlamentar se referiu ao Supremo Tribunal Federal (STF), órgão que ele se prepara para ser nomeado e assumir a vaga de ministros pelos próximos 20 anos, como “órgão político”. Atual ministro da Justiça indicado à Corte pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dino tem, em seu passado, a defesa de teses abraçadas hoje pela direita aliada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e rechaçadas pela esquerda e pela magistratura.
Entre elas, a de que os ministros do STF não deveriam ter mandatos vitalícios, mas, sim, tempos delimitados que permitissem uma transição de poderes, como são nos cargos eletivos do Executivo e do Legislativo.
“Além de ser um legislador negativo, julgando se a Lei que é criada pelo parlamentar é constitucional ou não, o STF também tem feito normas, através de Súmulas Vinculantes. Me parece lógico que a vitaliciedade é negativa. Tem que haver uma alternância para quem exerce uma tarefa política”, disse Dino à revista Consultor Jurídico, em janeiro de 2009.
Naquele mesmo ano, ele anunciou que encaminharia à Mesa Diretora da Câmara uma proposta de emenda à Constituição para fixar em 11 anos o mandato de um ministro do Supremo. A tese vem sendo discutida e ressuscitada pelo Congresso Nacional como represália a decisões de ministros do tribunal que desagradam parte conservadora dos parlamentares, como a derrubada do marco temporal das terras indígenas.
A proposta previa ainda mudanças no método de nomeação, com três indicados pelo Congresso, três pela Câmara e cinco pelo presidente, alternadamente. Pelo atual modelo, a Presidência da República é responsável por todas as indicações, seguindo os critérios de que o escolhido seja brasileiro, com mais de 35 anos e notório saber jurídico. "Crescentemente o STF tem se tornado um órgão político - isso não é nenhuma crítica , é bom para a sociedade essa participação. Mas, sendo assim, tem que existir uma alternância de poder", defendeu ele.
Outro tribunal que deve ocupar, se aprovada sua indicação no Senado, também esteve na mira de Flávio Dino no passado: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Durante sua passagem pela Câmara, de 2007 a 2011, o então deputado foi relator de um projeto de reforma eleitoral e incluiu, no texto, a previsão de impressão de 2% dos votos do país. A medida, tão suscitada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, é tratada com horror pela Corte Eleitoral.
Em 2010, Flávio Dino se candidatou pela primeira vez ao Governo do Maranhão e saiu derrotado. No ano seguinte, disparou. "Há um ano, como relator da reforma eleitoral, parecia premonição, eu dizia, acolhendo uma proposição do PDT, de que havia necessidade de aprimorar o sistema de urnas eletrônicas no Brasil".
E emendou. "Quer dizer, um ano atrás eu já pensava assim, e hoje tive a oportunidade, não gostaria de ter tido, de ser vítima de processo que precisa ser aprimorado, precisa ser melhor auditado, precisa ser melhor acompanhado, que é o sistema das urnas eletrônicas".
Na sabatina da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, marcada para 13 de dezembro, esses e outros temas espinhosos que Dino tem evitado discutir e polemizar devem ser trazidos à tona pela oposição. Na última semana, o ministro percorreu gabinetes da Casa para defender sua nomeação e garantir votos suficientes para que ela seja aprovada, tanto na comissão quanto em plenário. A audiência, que deve durar o dia todo, promete ser tumultuada.