BRASÍLIA - O analista de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira, que atuou no Ministério da Justiça no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse que recebeu ordens para produzir análises eleitorais que pudessem, eventualmente, vincular o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a facções criminosas. As informações são dos portais G1 e R7.

Ele fez o relato em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (14) como uma das testemunhas na ação da suposta trama de golpe de Estado. Serão ouvidas, até a próxima semana, pessoas indicadas pela defesa e pela acusação dos réus dos chamados núcleos 2, 3 e 4.

Clebson foi questionado, no depoimento, sobre uma troca de mensagens com sua esposa à época, Camila. Ele teria citado o surgimento de uma “demanda daquelas” da “diretora”. De acordo com ele, o pedido foi feito por Marília Alencar, réu no STF, que em 2022 chefiava a Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça. 

“Surgiu uma demanda daquelas, diretamente da diretora. Eu estou muito mal, mas tenho que acelerar”, escreveu na mensagem à sua então esposa. O servidor acrescentou que costumava compartilhar com sua ex-esposa a chegada de demandas “com algum tipo de viés político, referente a tentar ajudar o governo". 

Clebson contou que houve o pedido por um levantamento para identificar a concentração de votos em Lula em territórios ocupados pela facção Comando Vermelho, no Rio de Janeiro. Nas eleições de 2022, Lula concorreu contra Bolsonaro, que perdeu a tentativa de reeleição para o petista. 

"Eu lembro que tinha mencionado que chegou um pedido para tentar ver análise e correlação estatística da concentração de votos em territórios do Comando Vermelho no Rio de Janeiro, para ver se tinha correlação se o candidato Lula tinha maior concentração de votos em área dominadas por facção criminosa", destacou ao STF, como informou o G1.

Segundo os veículos, o analista também relatou ordens para alimentar um painel de inteligência com dados sobre em quais regiões do país outros candidatos além de Bolsonaro, como Lula, lideravam eleitoralmente com mais de 75% dos votos.  

O depoimento foi conduzido por Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, juiz auxiliar do gabinete do relator, ministro Alexandre de Moraes. Além de Clebson, foram ouvidos como testemunhas nesta segunda-feira Eder Lindsay Magalhães Balbino, dono de uma empresa que auxiliou o PL em um documento para contestar as urnas eletrônicas, e Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF). 

Também deve depor, na parte da tarde, o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro. Cid firmou acordo de delação premiada com a Justiça e, por isso, deve falar nas audiências de todos os núcleos de réus.