'Tentativa de golpe'

Seis aliados de Bolsonaro falam à PF e general será ouvido sobre 'kids pretos'

Nem todos seguiram estratégia do ex-presidente Jair Bolsonaro de permanecer em silêncio no interrogatório simultâneo realizado pela PF na quinta-feira (22)

Por Renato Alves
Publicado em 23 de fevereiro de 2024 | 11:03
 
 
 
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O general Estevam Theóphilo Gaspar de Oliveira, que integrou o Alto Comando do Exército até novembro de 2023, é esperado na Superintendência da Polícia Federal em Fortaleza (CE) nesta sexta-feira (23). 

Ele é o único dos 23 intimados a depor no inquérito sobre suposta tentativa de golpe de Estado que não teve de comparecer a uma unidade da PF na quinta-feira (22), quando 16 dos 22 investigados permaneceram em silêncio diante de um delegado.

Um deles foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sergio Nogueira também não responderam às perguntas. Assim como Bolsonaro, alegaram que não tiveram acesso integralmente aos autos. 

Ainda não se sabe qual será a estratégia de Teóphilo, que, segundo a investigação, integrava o núcleo de oficiais de alta patente que tramavam para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para  manter o Bolsonaro no poder.

Teóphilo era comandante de Operações Terrestres (Coter) e, segundo a PF, cabia a ele o “emprego do Comando de Operações Especiais (COpESP)”, os chamados “kids pretos”, na execução do golpe de Estado. 

Esse grupo é treinado em operações de contra-inteligência, insurreição e guerrilha e seria acionado para prender autoridades assim que o plano de golpe de Estado fosse colocado em prática, segundo as investigações da PF. 

No último dia 8, Bolsonaro e militares de alta patente que integraram o primeiro escalão do seu governo ou a cúpula das Forças Armadas foram alvo da Operação Tempus Veritatis, da PF. 

Eles são suspeitos de formar uma “organização criminosa” para promover um golpe de Estado após a derrota para Lula na eleição de 2022. O ex-presidente foi proibido de manter contato com os demais investigados e seu passaporte foi apreendido.

Dias após a ofensiva da PF, Bolsonaro convocou uma manifestação para este domingo, 25, na Avenida Paulista, em São Paulo. O ex-presidente declarou que pretende aproveitar o ato para se defender das suspeitas que o atingem.

Aliados de Bolsonaro rompem pacto de silêncio e falam à PF

Após analisar a documentação colhida na operação desencadeada em 8 de fevereiro, a PF intimou 23 investigados a depor na quinta-feira, no mesmo horário. Advogados de Bolsonaro tentaram evitar o depoimento. Alegaram que o ex-presidente não teve acesso à íntegra do inquérito da PF. Mas todos os pedidos foram negados pelo STF.

A expectativa era que todos os intimados ficassem calados na quinta-feira, usando a mesma alegação da defesa de Bolsonaro. Mas nem todos seguiram o ex-chefe do Executivo. 

Confira abaixo quem decidiu fala em depoimento na quinta-feira:

  • Anderson Torres (ex-ministro da Justiça)
  • Valdemar Costa Neto (presidente do PL)
  • Tércio Arnaud (ex-assessor da Presidência)
  • Filipe Martins (ex-assessor para Assuntos Internacionais; está preso)
  • Bernardo Romão Correa Netto (assistente do Comando Militar Sul)
  • Cleverson Ney Magalhães (coronel da reserva) 

Anderson Torres respondeu a todas as perguntas da PF durante o depoimento que ocorreu na tarde de quinta-feira. Ele chegou às 14h30 e só foi embora às 19h27. Não assinou delação premiada, segundo seus advogados.

Por meio de nota, a defesa de Torres, feita pelo advogado Eumar Novacki, informou que seu cliente “respondeu serenamente a todas as perguntas que lhe foram formuladas”. 

Adicionou que “Torres esclareceu todas as dúvidas em relação aos fatos investigados e reafirma sua disposição para cooperar com as investigações". E que "o ex-ministro acredita na Justiça e confia nas instituições brasileiras”.

Torres ficou preso por quatro meses devido a alegações de omissão durante os atos criminosos de 8 de janeiro, quando ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Sua liberdade foi restabelecida em maio de 2023, e desde então ele tem enfrentado o processo em liberdade. Desde sua libertação, o ex-ministro optou por não conceder entrevistas nem fazer publicações na internet.

Já o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, falou por quatro horas durante depoimento na sede da PF. Ao sair do prédio, ele se limitou a acenar aos jornalistas. Sua defesa divulgou uma nota para confirmar que ele respondeu todas as perguntas que foram feitas. Os advogados afirmaram, no entanto, que não iriam fazer comentários sobre as investigações.

No dia da operação da PF, o presidente do PL foi alvo de buscas, mas acabou preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo. Os policiais também apreenderam uma pepita de ouro de 39,18 gramas.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, concedeu, em 10 de fevereiro, liberdade provisória a Valdemar, mas sob medidas cautelares, como não deixar o país nem se comunicar com os demais investigados.

Já os advogados João Vinícius Manssur, William Iliadis Janssen e Ricardo Scheffer, que defendem Filipe Martins, divulgaram uma nota sobre o depoimento. Eles disseram esperar a revogação da prisão preventiva do cliente. 

“O depoimento do Sr. Filipe Martins, como era de se esperar, foi claro e objetivo. Filipe está tranquilo, mas inconformado com a sua prisão, que julga precipitada e ilegal. Aguardamos agora a decisão referente ao requerimento de revogação da prisão preventiva, pontuando que essa só deve persistir em casos excepcionalíssimos, quando a liberdade em si for um risco, o que demonstrado não ser o caso de Filipe, sob pena de a medida se transmutar em um cumprimento antecipado de uma eventual e absolutamente incerta pena, que naturalmente só poderá ser determinada após o trânsito em julgado, e não antes, em respeito ao princípio constitucional da presunção de inocência”, diz a nota.

 

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