BRASÍLIA - Em depoimento à Polícia Federal, o advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel do Exército Marcelo Câmara, afirmou que manteve conversas com familiares de Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), mas negou que tenha tentado interferir na delação premiada firmada por Cid com a PF.
O depoimento foi divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (3) e revelado pelo G1.
No último dia 25, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou o interrogatório de Kuntz, Fábio Wajngarten e de Paulo Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro, por suspeita de tentativa de obstrução de investigações, ao tentar obter informações sobre a colaboração de Cid.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid e Marcelo Câmara são réus no processo sobre tentativa de golpe de Estado.
Kuntz relatou que trocou mensagens com a filha de 14 anos de Mauro Cid pelo Instagram e pelo WhatsApp, mas negou qualquer tentativa de influenciar a delação ou obter informações sigilosas. De acordo com o depoimento dele, o contato era motivado por interesse em ajudar a adolescente em competições na hípica de São Paulo, e não para tratar das investigações.
O advogado também afirmou que esteve com Mauro Cid e a filha em fevereiro deste ano, na Hípica de Brasília. Segundo ele, o encontro foi marcado via redes sociais e a conversa envolveu desabafos sobre a condução do processo, mas que o acordo de colaboração já havia sido homologado na ocasião.
Ainda no depoimento, Kuntz afirmou que Cid manifestou o desejo de trocar de defesa no inquérito que apura a suposta trama golpista. Ele também afirmou que conversou diretamente com o militar pelo Instagram, por meio da conta @gabrielar702, que teria o nome da esposa de Cid.
A troca de mensagens do tenente-coronel motivou o pedido de nulidade da delação de Mauro Cid, por descumprimento de medidas restritivas, que proibiam o uso de redes sociais. Em depoimento, o militar negou a troca de mensagens.
Assim como Bueno, Kuntz ainda relatou ao STF o encontro com Agnes Barbosa Cid, mãe do tenente-coronel, na Sociedade Hípica Paulista, mas negou o conteúdo da conversa relatado por Cid, de que tentara convencê-la a influenciar o delator a mudar de defesa. Segundo ele, Agnes demonstrou insatisfação com a antiga defesa do filho, e, diante disso, Kuntz se colocou à disposição para advogar para Cid.
Em depoimento à PF, na terça-feira (1º), o advogado de Bolsonaro Paulo Bueno declarou, sobre o episódio, que “o encontro foi bastante breve, amistoso e absolutamente protocolar”. Ele também negou a versão de Mauro Cid.
Fábio Wajngarten rebateu, em seu depoimento, as acusações de que tenha tentado atrapalhar as investigações. Questionado sobre telefonemas que fez para a esposa de Mauro Cid em 2023, ele disse que o objetivo foi manifestar solidariedade à família por causa do momento difícil que o militar passava.
Marcelo Câmara diz que não sabia
O cliente de Kuntz, Marcelo Câmara, afirmou à Polícia Federal que não sabia que seu advogado mantinha contato com Cid e familiares. Câmara, que era da equipe de ajudância de ordens da Presidência da República, subordinado a Cid, disse que não pediu que Kuntz fizesse esses contatos e que o defensor não lhe contou sobre eles.
Câmara está preso preventivamente desde o mês passado por causa dessa suspeita de obstrução de Justiça. Para o ministro Alexandre de Moraes, há indícios de que ele descumpriu a ordem de se comunicar, direta ou indiretamente, com outros réus do processo da tentativa de golpe.