Com um histórico de prefeitos que foram afastados do mandato por determinação da Justiça Eleitoral, chegando a contar com três administrações diferentes nos últimos quatro anos, e marcada pela realização de duas eleições suplementares na última década, a cidade de Ipatinga, no Vale do Aço, chega ao pleito de 2020 com um cenário político ainda indefinido e com a sombra das intervenções judiciais.

Eleito na disputa suplementar de 2018, o atual prefeito Nardyello Rocha (Cidadania) tentará reeleição e terá como um de seus adversários o ex-prefeito Sebastião Quintão (MDB). O emedebista renunciou dois anos após sua eleição, em 2016. Logo depois sua chapa foi cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – decisão que fez o então vice-prefeito, Jésus Nascimento (PSDB), que havia assumido a gestão, também deixar a prefeitura.

Em dezembro de 2016, pouco depois de ser eleito, Sebastião Quintão foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa, tendo o registro cassado por condenações judiciais por abuso de poder econômico e captação ilícita de recursos. O gestor assumiu o cargo após liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal, que foi cassada em 2018 pelo TSE.

“Escolhemos o nome dele por conta da tradição, da capacidade de realização, pelo reconhecimento da população de Ipatinga e pelos serviços prestados ao município”, disse o deputado federal Newton Cardoso Jr, presidente do MDB em Minas, sobre a escolha de Quintão novamente para a disputa.

Questionado sobre os impactos da cassação da chapa na eleição atual, o parlamentar destacou que são momentos políticos diferentes, mas disse que não comentaria o caso. “Quanto a questões pessoais e particulares, não tenho como comentar. Foi uma decisão pessoal e unilateral dele (a renúncia). Nem na presidência do partido eu estava”, destacou.

O atual prefeito, Nardyello Rocha, que era presidente da Câmara Municipal, surgiu para a disputa na esteira dos desdobramentos judiciais na cidade, assumindo interinamente a gestão e depois vencendo o pleito de 2018. No entanto, assim como aconteceu com Quintão, Rocha também teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, três meses após assumir a gestão da cidade.

Na época, o entendimento do Ministério Público Eleitoral foi de que Rocha cometeu abuso de poder econômico na época em que assumiu a gestão interinamente, e, com isso, também seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa, ficando inelegível por oito anos. No entanto, em março do ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) reverteu a decisão e garantiu a permanência do prefeito à frente da cidade.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Ipatinga, mas não obteve um retorno do prefeito até o fechamento desta edição.

 

Partidos discutem formação de frente

Em meio à indefinição do cenário na cidade, algumas forças políticas já se organizam e podem formar uma frente única para a disputa. Partidos como o PSD, PDT, PSDB e o Podemos iniciaram ontem as articulações para definirem se caminham ou não juntos. Nesse cenário, a depender das conversas, é possível que o grupo se una em torno de uma provável candidatura da deputada estadual Rosângela Reis (Podemos), ex-vereadora da cidade.

“Estou na expectativa de que nós entremos no consenso e que possamos unir todos os esforços para o bem do município”, disse a deputada, destacando, que seu nome é um dos cotados, mas que há outras possibilidades sendo estudadas. “Não estou fazendo imposição. A questão eleitoral tem que ser trabalhada e temos outros nomes com chances (de ser o cabeça de chapa)”, complementou.

Nesse cenário, a deputada reforçou que a melhor estratégia política é a união das siglas. “A fragmentação (em diversas candidaturas) não compensa e quem só perde com isso são as pessoas. Temos que buscar união e diálogo”, disse, pontuando que os pré-candidatos precisam estar “desprendidos das vaidades e dos interesses pessoais”, priorizando “o interesse da cidade”. 

Embora a deputada tenha citado o PDT como um dos partidos para a composição da possível frente, o diretório municipal da sigla em Ipatinga enviou uma nota a O TEMPO negando a informação dada pela parlamentar.

"Em sua fala, a deputada estadual afirma que na noite anterior (11/08) teria iniciado conversações entre alguns partidos, incluindo o PDT, para a formação de uma chapa para a disputa majoritária na cidade. Tal afirmação não condiz com o posicionamento do PDT de Ipatinga, que não participou da reunião informada", disse a sigla.

Ainda segundo a nota, que é assinada pelo presidente municipal do PDT em Ipatinga, Denilson Freitas, a sigla vai apoiar o Professor Sávio, pré-candidato do Partido Verde. "Qualquer conversa que tenha por participação filiado do PDT com outro objetivo não encotnra eco dentro de nossa militância, bem como dentro desta comissão", reforçou o partido.

PT aposta em ex-prefeito para retornar ao comando da cidade

O campo da esquerda será marcado pela tentativa de o ex-prefeito e ex-deputado federal João Magno (PT), que governou a cidade entre 1993 e 1996, de voltar ao comando da cidade. De acordo com o pré-candidato, o PT é o partido “que tem mais memória em termos de competência para gerir a cidade”. A sigla comandou Ipatinga por cinco mandatos desde a redemocratização, sendo a última gestão finalizada em 2016.

“Entendo que a minha experiência pode trazer condições de superação da cidade, trazendo uma união”, disse o petista, referindo-se aos impactos da pandemia de coronavírus. “Estamos preparando alguns eixos estruturantes, que podem trazer um nível de desenvolvimento econômico sustentável para a população, como nas questões sociais”, complementou.

Sobre as alianças, o PT está aberto a conversas com outros partidos de esquerda, como o PCdoB, o PCB e o PSOL, mas ainda é possível que a candidatura à vice não venha de nenhuma sigla. “Poderá vir de um partido de esquerda ou de outro segmento da sociedade”, explicou Magno, destacando que vem se articulando com movimentos sociais e com outros setores, a exemplo do empresarial.