Condenado a mais de 52 anos de prisão e considerado um dos homens mais procurados de Minas Gerais após fuga cinematográfica de presídio da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Dalmo Gomes dos Santos, traficante conhecido como "Anjo Rebelde" que é apontado como um dos principais líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Minas Gerais, voltou a aparecer nos noticiários nesta segunda-feira (1º de setembro). O motivo, porém, não foi a sua recaptura, mas, sim, a celebração pelos seus 44 anos, completados no último domingo (31 de agosto) em meio a um série de foguetórios em diversas comunidades comandadas por ele na Grande BH. 

Conforme apurado por O TEMPO com um policial que não será identificado, Dalmo, o Rebelde, seria um importante líder da organização criminosa que comanda um grande número de comunidades, especialmente na região das cidades de Sarzedo e Mário Campos. Além das cidades, a polícia também recebeu informações de foguetes que foral soltos em Betim, também na Região Metropolitana da capital mineira, e no bairro Nova Cachoeirinha, na região Nordeste de BH. 

"A informação que chegou para gente foi essa, que os foguetes seriam para comemorar o aniversário dele, que, de fato, é no dia 31 de agosto. Ele está foragido do Brasil, e estaria escondido na Bolívia", disse o policial, que não será identificado. Nas redes sociais, moradores de diversas regiões comentaram sobre os foguetórios. 

"Gente, para que esse monte de foguetes? Esse povo não trabalha segunda-feira não?", escreveu uma moradora de Sarzedo. "Quebrada está em festa. Aniversário do homem", respondeu um outro morador. "Em Mário Campos também está com os fogos desde cedo. É aniversário do traficante", publicou um morador da outra cidade. 

Veja o vídeo: 

 

Quem é o aniversariante? 

Dalmo Gomes dos Santos, que fez aniversário no último domingo, conta com cinco mandados de prisão em aberto, conforme o Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Natural de Contagem, na Grande BH, ele é apontado como líder do tráfico de drogas em diversas áreas no entorno da capital mineira, tendo ligações com a organização paulista PCC e sua aliada carioca, a facção evangélica Terceiro Comando Puro (TCP).

Em abril de 2021, o criminoso, que também é conhecido pelos apelidos de "Anjo Rebelde", "Natureza", "Truta" e "Pantera", apareceu pela primeira vez na lista dos 21 criminosos mais procurados pela polícia de Minas Gerais. Naquela época, as autoridades já suspeitavam que ele estivesse foragido no exterior, sendo considerada, inclusive, a possibilidade de ele ter se submetido a cirurgias plásticas, que alteraram sua fisionomia, para escapar à caça das polícias. 

O "Anjo Rebelde" também foi citado pela polícia, em 2023, como uma das partes envolvidas em uma guerra que deixou reféns os moradores das vilas da Paz, em Contagem, e Joana D'Arc, no Barreiro. Na ocasião, Dalmo e "Rael", líderes das duas comunidades, teriam iniciado uma disputa sangrenta com "Marcelinho Pisca-Pisca", do Comando Vermelho (CV), que terminou em mais de 20 mortes em poucos meses. 

Entre as condenações de Dalmo estão penas de 13 anos e quatro meses por roubo, em Santa Luzia; 16 anos e quatro meses por homicídio qualificado, em Contagem; 13 anos de cinco meses por tráfico de drogas e formação de quadrilha, em BH; e 9 anos e dois meses por extorsão mediante sequestro na cidade de Carmópolis de Minas, na região Centro-Oeste de Minas. 

Além disso, há ainda um quinto mandado de prisão preventiva, emitido pela Justiça de Santa Luzia em 2023, referente à associação criminosa, falsificação de documentos e fuga da Apac do município, ocorrida em 2017. Se condenado por todos os crimes, Dalmo poderá pegar até outros 13 anos de reclusão, elevando suas penas para mais de 65 anos de reclusão. 

Fuga de Apac teve auxílio de advogado e diretor 

O TEMPO teve acesso à uma decisão judicial que trouxe à tona detalhes da fuga de Dalmo, ocorrida em junho de 2017, na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Santa Luzia. Para que o criminoso de alta periculosidade fosse transferido para a unidade prisional — centro com metodologia humanizada e focada na recuperação dos presos —, um advogado, uma estagiária e o diretor da Apac se associaram criminalmente em um esquema de corrupção para, com documentos falsos, facilitar a fuga de criminosos da unidade. 

Conforme o processo judicial que apura o caso, a organização formada pelo advogado e o diretor da Apac ofereceu a Dalmo "Rebelde", que estava preso na Penitenciária Jason Albergaria, a transferência pelo pagamento de R$ 35 mil. Para se ter ideia, foi firmado um contrato que previa a devolução da quantia caso a transferência não ocorresse em 45 dias. 

A fuga se concretizou cerca de dois meses após a transferência de Dalmo, no dia 8 de junho de 2017. Por volta das 9h, o diretor da unidade prisional solicitou a condução do líder do PCC para a sala de atendimento dos advogados. Minutos após a chegada dele e de seu advogado na sala, um homem que se passou por outro advogado e duas mulheres, que estavam com armas de fogo, renderam os porteiros da Apac, chamaram outros dois homens armados e concretizaram o resgate.