Oitava melhor fruta do mundo segundo ranking do TasteAtlas, plataforma mundial que se autointitula uma “enciclopédia de sabores”, a jabuticaba é rica em antocianina, substância de ação antioxidante, e em sais minerais como potássio e fósforo, que colaboram para o bom funcionamento do intestino. Há quem diga também que contribui para a saúde do coração e o equilíbrio das taxas de colesterol, além de ter grande quantidade de vitaminas do complexo B.

É essa fruta de cor roxa, escura e adocicada, vendida nas feiras e encontrada em quintais mineiros, que será protagonista de dois festivais neste mês. De 8 a 10 de novembro, a 32ª Festa da Jabuticaba movimenta Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto; e um fim de semana depois, de 15 a 17 de novembro, é a vez de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, promover o 38º Festival da Jabuticaba, mostrando por que é considerada a “capital da jabuticaba”.

Os produtos derivados da Jabuticaba da Ouro Negro Derivados de Jabuticaba e Mel - Foto: Débora Magalhães / Divulgação

O que há de comum entre esses dois eventos é a venda da fruta in natura e de seus produtos derivados por pequenos produtores locais. Do fruto da jabuticabeira podem-se produzir geleias, licores, molhos, vinagres, vinhos, cachaças, compotas, doces e sorvetes. Por ser perecível, ele deve ser colhido até três dias depois de maduro. Outra desvantagem que desestimula a plantação em larga escala é o ciclo lento de crescimento: entre plantio e colheita leva cinco anos.

No Brasil, a jabuticaba prevalece principalmente em Estados do Sudeste. Em Minas Gerais, só não é encontrada nas áreas extremamente quentes, como Norte, Noroeste e Leste do Estado. Sabará é referência por conta de uma tradição: o fruto se transformou em fonte de renda para muitos moradores, que “alugam” os pés para que outras pessoas possam saborear o fruto, chamado de “ouro negro”, em referência à extração do ouro ocorrida durante o período colonial.

A Festa da Jabuticaba em Cachoeira do Campo ocorre no entorno da igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, no centro histórico - Foto: Gilson Antunes / Divulgação

No distrito de Cachoeira do Campo, o mesmo fruto, apelidado de “pérola negra”, ajudou na diversificação econômica de Ouro Preto, graças ao projeto “Jabuticaba de Ouro Preto – A Pérola Negra para o Desenvolvimento Produtivo e Econômico Local”, cujo objetivo é transformar a região em um Arranjo Produtivo Local (APL), fortalecendo a cadeia produtiva ao promover a organização de todos os produtores locais e incentivar o empreendedorismo.

Enquanto Cachoeira do Campo busca o selo de Indicação Geográfica (IG) para ter reconhecimento da tradição da jabuticaba e seus derivados, Sabará teve seu selo de IG de Procedência concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 2018. Nesta edição, produtores de geleias, molhos, compotas, licores, vinhos, cascas cristalizadas e doce serão certificados. Para ganhar a certificação, eles precisam ter o alvará liberado pela Vigilância Sanitária.

Selo de procedência

Para manter a tradição da jabuticaba e a produção dos derivados, foi criada, em 2018, a Associação dos Produtores de Derivados de Jabuticaba de Sabará (Asprodejas), hoje formada por 25 produtores, dos quais 24 são mulheres. Desses produtores, dez já entregaram o alvará de fiscalização e podem ser certificadas com o selo de procedência. “Esse selo é um marco importante que valoriza nossos produtos”, destaca a associada Meire Ribeiro.

A chef Elaine Cristina Torres, 48, é uma dessas produtoras que mantêm a tradição da família, que desde 1930 planta e produz derivados de jabuticaba no sítio Quintal Torres. Aos 13 anos, aprendeu a fazer geleias e licores e hoje comanda seu próprio negócio, a Ouro Negro Derivados de Jabuticaba e Mel (Instagram / @quintaltorres oficial), em parceria com o irmão, dono de um apiário. Todo ano participa do festival em Sabará e lança um produto com um sabor novo, diferenciado – em 2023, ela ganhou quatro prêmios.

Beth Torres, presidente da Asprodejas, colhe jabuticaba no Quintal Torres - Foto: Débora Magalhães / Divulgação

Concurso

Nesta terça-feira (5), a associação promove o concurso da melhor geleia e do melhor licor. Cerca de 12 jurados se reunirão no Solar do Padre Correia para avaliar as receitas. “A ideia do concurso é provocar os associados para a melhoria da qualidade dos produtos e lançar as novidades”, conta Beth Torres, 64, presidente da Asprodejas. Segundo ela, em Sabará é difícil encontrar alguém que não tenha um pé de jabuticaba no quintal de casa.

Nesta edição, as novidades são as geleias de jabuticaba com laranja, de jabuticaba com amora e o que ela chama de “elixir de jabuticaba com laranja”, um molho versátil que pode ser utilizado para fazer drinks, para temperar carne ou colocar em bolo ou geleia. “É algo muito diferenciado no sabor”, resume. No Quintal Torres, ela cultiva 30 jabuticabeiras, muitas delas centenárias. “Nosso quintal já existe há cinco gerações”, conta a empreendedora sabarense.

Depois de anos, Elaine abriu, em 2023, o quintal localizado a poucos metros da inacabada igreja de Nossa Senhora do Rosário, no centro de Sabará, para visitação. Ao preço de R$ 50 por pessoa, ela convida o visitante a degustar o fruto direto no pé e fazer uma visita à cozinha, onde ensina ao vivo como se produz a geleia de jabuticaba. A visita termina em um empório, onde são exibidos mais de 40 produtos – os preços variam de R$ 15 (cachaça) a R$ 100 (geleia de 150 ml).

O pomar de Iara Biasi produz frutas além da jabuticaba - Foto: Jonathan Fidelis / Divulgação

A mesma toada segue Iara Biasi, 63, que acompanhou a mãe em seus ensinamentos. A primeira geleia, a de pimenta, teve como inspiração a novela global “Chocolate com Pimenta”. Na empresa Sabará & Sabor (Instagram / @sabarasabor), ela produz 300 caixas de geleias, 1.000 L de licor e 12 mil potes de uma linha sustentável, em que aproveita a casca e o caroço da jabuticaba, geralmente eliminados na produção, para produzir doces e geleias. “Aproveito 95% dos resíduos”, comemora.

Como sua produção é pequena, Iara não costuma receber pessoas no sítio nem “alugar” pé de jabuticaba. Os interessados, no entanto, podem fazer uma visita gratuita à fábrica, mas sob agendamento prévio. Ela ainda mantém um terreno no povoado de Pompeu, a 16 km de Sabará, onde está ampliando a plantação de jabuticaba para se tornar autossuficiente na produção de seus derivados.

Em Sabará, todo o quintal tem uma jabuticabeira - Foto: Débora Magalhães / Divulgação

Aluguel de pés de jabuticaba

Como a tradição de “alugar” pés de jabuticaba vem perdendo força em Sabará nos últimos anos, nesta edição uma parceria entre a Sabarabuçu – Produtos de Jabuticaba e a empresa Anglogold Ashanti vai promover, pós-festival, o aluguel de pés de jabuticaba no bairro de Arraial Velho. Cerca de seis sítios serão abertos para a pessoa saborear o fruto no pé, ao custo de R$ 50 por pessoa e sob agendamento (Instagram / @sabarabucu). Serão dois fins de semana para rememorar essa rica tradição.

“Quando fui presidente da Associação dos Produtores de Derivados de Jabuticaba de Sabará (Asprodejas), a maior demanda era por locação de pés de jabuticaba. Por esse motivo, estamos criando a oportunidade para que o visitante tenha uma jabuticabeira para chamar de sua”, convida Meire Ribeiro, 45, proprietária da Sabarabuçu – Produtos de Jabuticaba. Segundo ela, muitos moradores deixaram de receber os visitantes devido ao medo e à insegurança.

Para Deny Sanábio, coordenador técnico estadual de Fruticultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), toda a produção de jabuticaba em Minas é local, geralmente predominando em quintais e fazendas. A produção está restrita a duas vezes por ano, entre abril e março e outubro e novembro. Sabará concentra 50% dessa produção de jabuticaba-branca, sabará, azeda, de coroa, de cabinho e paulista.

Os festivais

Vista aérea de Cachoeira do Campo, com a igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré em primeiro plano - Foto: Edgar Henrique / Divulgação

Promovida pelo Lions Club de Cachoeira do Campo, a Festa da Jabuticaba terá palcos com bandas locais e regionais centenárias executando dobrados em cortejos em volta da matriz de Nossa Senhora de Nazaré. O evento acontece na praça Filipe dos Santos, com uma das igrejas barrocas mais antigas do país, e um casarão do século XVIII, que foi a antiga sede da banda civil mais antiga do Estado e um armazém com cerca de 200 anos de história. Tudo isso reunido em uma praça que foi palco de uma guerra e da condenação do líder do movimento considerado o embrião da Inconfidência Mineira. 

Desde 2022, a festa assumiu novo formato. Os pratos nas barracas de alimentação têm de ter em seu preparo um produto vindo da jabuticaba, e isso, segundo os realizadores, contribui para a descoberta das potências da fruta e o incentivo à presença dela em receitas dos restaurantes. Um grande destaque é a Cozinha Show, com chefs importantes do cenário gastronômico de Minas. 

“É importante frisar que, ao integrar a IG e o APL na Festa da Jabuticaba, nós fomentamos o impacto do evento, promovendo a economia local e ampliando o alcance cultural e turístico de Cachoeira do Campo. Além disso, o APL ajudou a organizar e mobilizar os produtores da Jabuticaba a participarem da festa, promovendo não apenas a fruta, mas também produtos de inovação, derivados – como licores, doces e vinhos. O APL também facilita o acesso a capacitações e treinamentos para melhorar a qualidade dos produtos e fortalecer a comercialização durante o evento”, explica Saulo Filardi, do Lions Club de Cachoeira do Campo.

Já no Festival da Jabuticaba de Sabará, 25 estandes de produtos derivados da fruta e 16 espaços gastronômicos ocuparão as praças Melo Viana e Santa Rita. A expectativa de público é de 100 mil pessoas. A área gastronômica vai comercializar comidas com ingredientes derivados da jabuticaba, como pastéis, tropeiro, acarajé, espetinhos, macarrão na chapa e drinks. Durante o evento, também acontecem apresentações culturais e venda de produtos artesanais sabarenses.

Serviço:

32ª Festa da Jabuticaba
Onde: Cachoeira do Campo
Local: no entorno da igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, no centro histórico
Quando: 8 a 10 de novembro
Entrada: gratuita
Informações: acesse 32ª Festa da Jabuticaba e Instagram / festadajabuticaba 

38º Festival da Jabuticaba
Onde: Sabará
Local: praças Melo Viana e Santa Rita, no centro histórico
Quando: 15 a 17 de novembro
Entrada: gratuita
Informações: acesse Festival da Jabuticaba, Prefeitura de Sabará e Instagram / @festivaldajabuticabasabara