De 9 de 11 setembro, Vargem Bonita deve quadruplicar sua população. É terceira edição do Festival Aromas e Sabores da Canastra, evento cancelado nos dois últimos anos. Cerca de 40 expositores montam suas barracas na praça Domingos Soares Vilela, a maioria com comidas e produtos típicos da região. A proposta do evento, segundo o secretário Municipal de Meio Ambiente, Turismo e Lazer, Ney Martins Ernandes, é fomentar a economia local. 
 
Neste ano, o evento gastronômico terá aulas de culinária e apresentações de Saulo Laranjeira (dia 9), da banda Biquíni Cavadão e do violeiro João Lima (dia 10), da banda nova-iorquina de blues Igor Prado Band & Koko-Jean Davis, da Cia. Valentina de Teatro e do grupo de seresta de Vargem Bonita (dia 11), entre outros artistas. Ernandes avisa que não há mais vagas nas pousadas locais. “A cidade fica lotada nesta época do ano”, salienta. 
 
A gastronomia passa invariavelmente pelo queijo, onipresente em muitas receitas. Duas delas são famosas na região: o barranco e o macarrão flambado. Como o arroz de barranco não está no cardápio de nenhum restaurante da cidade, o turista pode contratar um chef local para 
 

Arroz de barranco

 
Um forasteiro introduziu o arroz de barranco em São João Batista do Glória. O preparo se difundiu pela região e chegou a Vargem Bonita, onde a receita foi aprimorada e ganhou outros ingredientes. “Hoje, o arroz de barranco é um prato típico da Canastra”, afirma o chef Fernando Piriquito, do Fernandinho Fogo e Brasa. O prato chama a atenção pela forma como é feito: a virada da panela. 
 
O arroz de barranco é preparado como um bolo, em camadas. A primeira é de carne bovina ou suína picada em pedaços pequenos. A segunda leva couve, azeitona, cenoura, milho-verde, tomate e palmito. Por cima de tudo, vem o arroz. Depois de cozido, são colocadas fatias de queijo canastra. Tudo pronto, vira-se a panela e salpica-se cheiro verde e queijo canastra ralado. 
 

Cerveja artesanal

 
Na cidade, uma boa dica é a Cervejaria Canastra Bier, que produz as cervejas Carcará (blonde ale), Lobo-Guará (pilsen) e Pato-Mergulhão (witbier), além da Tamanduá (dry stout), preta, com sabor de café e defumado, resultado da junção de 11 maltes e oito lúpulos. Após o festival, @canastrabier será aberto à visitação. O preço é de R$ 26. 
 

Esquina da boêmia

 
A noite de Vargem Bonita se concentra na rua São Paulo, a principal via pública da cidade, ornamentada por palmeiras. Precisamente na esquina com a rua Ubirajara Lima. Simples, porém movimentado, o espaço de Tarcísio Moraes, o Badu, é um pouco de tudo: bar, restaurante, lanchonete. O sucesso são as porções, entre elas lambari, traíra e tilápia. 
 
Outro ponto forte do bar são os drinks e o hambúrguer gourmet recheado, é claro, com queijo canastra. Numa proposta de customização, o cliente monta o sanduíche da forma que achar melhor. A ideia inicial de Badu era montar uma churrascaria. Enquanto não coloca em prática o projeto, ele esquenta a boemia da noite vargiana. O outro bar é o Mamute. 
 

Pub famoso

 
Mais famoso e estiloso, o Garimpub tem um pé na gastronomia gourmetizada e no rock ’n’ roll. A casa de João Batista dos Reis Silva, 45, o João da Silva, lembra um pub londrino. A casa ficou famosa depois que atores da novela global “O Sétimo Guardião” começaram a frequentar o espaço. Silva ainda não morava na cidade, mas herdou a mídia gratuita. 
 
A comida tem um toque mineiro: quibe canastrinha e bolinho de ora-pro-nóbis e de costela entre os petiscos. O carro-chefe é o peixeim à mineira, um filé de tilápia servido em uma panela de ferro pequena, com camadas de queijo, palmito, azeitona e batata-palha. De vez em quando, conta Silva, ele faz arroz de barranco ou noite de sushi ou convida um chef. 
 

João Deitado

 
Um prédio antigo, rosa-quase-choque, chama muito a atenção na praça dos Capangueiros. A edificação, uma das primeiras da cidade, foi a antiga Casa do Baile. Os proprietários Renata Souza Oliveira, 34, e Vander Eduardo Lopes, 36, oferecem a comida típica mineira bem-feita e saborosa, sem invencionices: frango com quiabo, feijão tropeiro, filé de tilápia e lasanhas. 
 
Uma dica é experimentar o João Deitado, uma quitanda feita de mandioca com queijo canastra e assada na folha de bananeira, uma receita de família. Para Renata, do salão de beleza para a cozinha, foi um pulo e uma mudança de vida radical. Com um dos primeiros restaurantes da cidade, ela narra as dificuldades de encontrar comida à noite antigamente. 

 

Praia turística

 
No comando do Restaurante Praia da Criolla, na pousada homônima, está o jovem chef Rangel Batista, outro que retornou a Vargem Bonita, depois de se graduar em gastronomia pela Unifranca (SP). Sua pegada é a culinária regional, em receitas clássicas com a cara da Canastra. Entre as mais pedidas estão nhoque de mandioca e lasanhas feitas artesanalmente. 
 
Uma sobremesa já virou a queridinha dos hóspedes. “Eu coloco o queijo canastra na chapa e faço a goiabada no fogão a lenha. Quando o queijo cria uma crosta, eu jogo a goiabada por cima e vira uma sobremesa”, explicou Batista, que define sua cozinha como “intuitiva”. “Tenho dificuldade de seguir receita”, revela. À noite, ele prepara um lanche/caldo para os hóspedes no fogão a lenha. 
 

Macarrão flambado

 
Para finalizar nosso tour, ninguém sai da Canastra sem experimentar o macarrão flambado. A iguaria tem história curiosa: em 2016, um francês experimentou o queijo canastra, que o fez lembrar-se do italiano grana padano. Ao pesquisar, Domingos, proprietário do restaurante Caipirão da Canastra, descobriu que o macarrão era servido flambado no queijo. 
 
Para participar do festival Aromas e Sabores com a iguaria, ele resolveu incrementar a receita. Depois de ter assistido a um documentário em que o piloto Airton Senna contava que, depois das corridas em Monza, sempre comia macarrão com farofa de pão com bacon e azeite tostado, acrescentou a ideia ao prato. 
 
Faltava só encomendar o maçarico. Como a ferramenta demorou a chegar, a solução foi flambar o macarrão com conhaque. O sucesso foi tão grande que a massa virou uma atração no Caipirão e ganhou pelo menos três concursos. 
 
Serviço 
 
Rancho Mineiro: Experimente o filé de tilápia (R$ 65) ou frango à parmegiana (R$ 30). 
 
Esquina de Minas: Facebook / Esquina de Minas. Porções entre R$ 6 e R$ 80. Funciona de sexta-feira a domingo, das 19h à 2h. 
 
Garimpub: Experimente o peixeim à mineira, um filé de tilápia servido em uma panela de ferro pequena, com camadas de queijo, palmito, azeitona e batata-palha, a R$ 135. Instagram / @garimpub 
 
Restaurante da Criolla (Pousada da Criolla): Experimente as lasanhas à bolonhesa (R$ 45) e ao molho de queijo (R$ 48) e o nhoque de mandioquinha (R$ 40). A sobremesa feita com goiabada e queijo canastra, a R$ 7, é imperdível. praiadacrioula.com 
 
Caipirão da Canastra: Experimente o macarrão flambado (R$ 40), a costela de tambaqui (R$ 90) e a galinha caipira (R$ 180, serve 4 pessoas). Instagram / @caipirao_da_canastra ou (37) 98806-2010.
 
Arroz de barranco: Fernando Piriquito. Contrate pelo Instagram @/reidaculinarianacanastra ou pelo teçefone (37) 99935-5063. A partir de R$ 40 dependendo da porção e do número de pessoas.