Para quem nunca ouviu falar, a auroral boreal é um fenômeno que só acontece em regiões polares. Essas luzes que colorem o céu viraram uma obsessão e profissão para o empresário e blogueiro Marco Brotto. Desde 2011, ele viaja para observar o fenômeno em vários países do mundo. Nesta semana, Brotto lança um livro de fotografias para comemorar os dez anos da primeira expedição, "Aurora Boreal: Amor em Forma de Luzes e Cores" pela editora Edicom. Nesta entrevista, ele conta suas experiências em expedições para visualizar o fenômeno natural, que colore o céu da Groenlândia e de outros sete país.
Queria que você falasse sobre o lançamento nos próximos dias de um livro sobre a aurora boreal.
Estarei fazendo nesta semana o lançamento virtual do livro fotográfico “Aurora Boreal: Amor em Forma de Luzes e Cores”, pela editora Edicom (SP), comemorando os dez anos de minha primeira expedição. São mais de 140 fotografias. Há também dois livros infantis sobre o assunto. A pedagoga Renata Aguiar escreveu o livro infantil “Aurora Boreal: Uma Descoberta Além das Cores”, para crianças de 8 a 11 anos, sobre minha experiência com a aurora boreal. É a história de um menino que é caçador de aurora. O segundo volume vai ser lançado neste ano.
Como se forma a aurora boreal?
O Sol emite plasma, que é o quarto elemento da matéria, o tempo todo. Se esse plasma viesse direto para a Terra, não existiria vida no planeta. Esse plasma vem a uma velocidade entre 400 km/s e 1.400 km/s e, quando chega próximo à atmosfera, depara-se com o cinturão de Van Halen, um campo magnético que protege a Terra. Quando entra em contato com o cinturão, ele fica ionizado e forma uma espécie de autoestrada, que se encaminha para os polos. Como o campo magnético é mais fraco nos polos, ele se abre, e o plasma entra em contato com nitrogênio e oxigênio. Quando isso acontece, surgem reações em forma de luz.
Quais as condições climáticas ideais para poder ver o fenômeno?
Primeiro é preciso ter atividade polar, plasma chegando a 1.400 km/s, temperatura mais baixa, céu limpo e campo magnético próximo do negativo.
Quais os melhores locais no mundo para ver a aurora boreal?
Não tem um lugar ideal, tem uma zona auroral que parte do círculo polar, às vezes mais para baixo ou mais para cima. Sai da península de Kola, na Rússia, na divisa com a Finlândia, passa pela Escandinávia, na região conhecida como Lapônia, que é parte da Finlândia e o norte da Suécia e da Noruega, e continua pela Islândia e Groenlândia, chegando a Labrador e toda a parte setentrional do Canadá até Yukon e o Alasca, no estreito de Bering. Só não temos como chegar ao norte da Sibéria.
Se você tivesse que escolher uma noite para contemplar a aurora, qual seria?
Se tivesse que escolher uma única noite, seria Fairbanks, no Alasca, no dia 21 de dezembro. É a noite mais escura do ano, em que a atividade geomagnética é mais sensível. Por esse motivo, a região tem laboratórios da Noaa (National Oceanic Atmospheric Administration), agência ligada à Nasa, bases militares e centros de estudo de geomagnetismo. A temperatura lá é mais baixa, em torno de -40ºC, mas já peguei -46ºC no Canadá.
Existe o risco de um viajante ir a um desses destinos e não ver a aurora?
Você pode chegar lá e não ver, acontece. Da mesma forma que você pode ir para as ilhas Maldivas e chover o dia todo. Não existe certeza absoluta. Eu fiz até hoje 82 expedições e vi aurora boreal em todas elas. Comecei a me interessar pelo assunto em 2011, mas era apenas uma brincadeira com amigos. Com grupos em expedições, somente a partir de 2016.
A aurora boreal pode ter várias cores?
Sim, pode ter várias cores. Se a gente tivesse uma aurora perfeita, ela seria vermelha na parte de cima e com vários tons de verde – até algumas pessoas enxergam o amarelo no lugar do verde –, descendo para o branco e depois o rosa. Tem gente que, no lugar do rosa, enxerga o lilás. O mais raro é a aurora vermelha, algo que você só consegue ver só pelas lentes da câmera fotográfica.
Quanto tempo dura o fenômeno?
Ele pode durar de dez segundos a semanas.
Como são suas expedições e qual é o custo médio?
Eu faço toda a parte terrestre, só a aérea não está inclusa. Uma equipe acompanha o grupo, a maioria escolhe o voo oficial. Vamos para a Islândia em setembro. No dia 3, pegamos um voo da British Airways para Londres e depois para Reykjavík. Eu já estarei na Islândia aguardando o grupo. Uma expedição custa entre US$ 4.000 e US$ 5.000 por pessoa a parte terrestre, mas depende do destino escolhido, época do ano e passeios. Alguns pacotes têm jantar incluso. Faço um mix de valores para poder atender todas as pessoas. O mínimo são sete noites, porque é o tempo da rota solar, assim a gente aumenta as chances.
“Uma expedição custa entre US$ 4.000 e US$ 5.000 por pessoa a parte terrestre, mas depende do destino escolhido, da época do ano e dos passeios. Alguns pacotes têm jantar incluso”
Todo dia tem caçada à aurora?
Todo dia tem previsão de caçada. Precisamos seguir as leis de transporte do local, não posso usar o motorista 24 horas. O motorista está conosco o tempo todo, mas precisa de descanso. Os ônibus são equipados com tacógrafos com chips e bafômetros. Tenho que ter bom senso e prezar pela segurança. Além da caçada à aurora, há outros programas, como snowmobile, encontro com renas, passeio com cachorros e subida em teleférico. Na época do Natal, tem, por exemplo, concerto na catedral de Tromsø, na Noruega, já em outubro não tem snowmobile. Cada época do ano é um programa diferente.
Dos destinos que citou para ver a aurora, qual é o mais barato e o mais caro?
A Groenlândia é o mais caro; o mais barato, a Lapônia, que custa em torno de 12 vezes de R$ 1.690 na Black Friday.
O que você pensa dos aplicativos que preveem a aparição da aurora boreal?
Tem muitos aplicativos hoje, mas os dados são irreais. O aplicativo não pode observar dados que a gente vê a olho nu. Ele faz previsão, mas não dá certeza. O aplicativo é uma ferramenta que pega alguns elementos e faz uma fórmula. É o mesmo recurso utilizado na previsão meteorológica. Eu estava em um local vendo a aurora, e o aplicativo indicava 3% de chance de visualização. Isso porque ele não consegue atualizar todos os dados do momento.
"Se a gente tivesse uma aurora boreal perfeita, ela seria vermelha na parte de cima e com vários tons de verde, descendo para o branco e depois o rosa"
O que levar para uma expedição?
Cada viagem tem uma dinâmica. se você vai viajar comigo em setembro, você faz a inscrição, e eu vou monitorando e informando o que você precisa levar em termos de roupa. Eu já observei a aurora a 18°C. Na Islândia, por exemplo, você tem de ter jaqueta corta-vento e bota antiderrapante.
Qualquer celular capta a aurora boreal ou precisa ter equipamento específico?
Se você tiver celular a partir do Samsung Galaxy 8 ou iPhone 8, consegue filmar e fotografar a aurora. Se tem muita escuridão, às vezes a tela de um celular não capta. Já as câmeras fotográficas com controle de tempo, de exposição e de abertura captam muito bem. O tripé também é importante para não deixar tremer a foto.
Você já passou algum perrengue em expedição?
No ano passado, estava com um grupo circulando de ônibus na costa sul da Islândia, quando o motorista reduziu repentinamente a velocidade para cerca de 30 km/h. Veio uma rajada de vento tão forte que jogou o veículo para fora da estrada. Uma roda do ônibus ficou na neve, e as outras três, no asfalto, e o ônibus não teria como continuar a viagem. O resgate dos passageiros chegou em duas horas. Demorou sete horas para um guincho retirar o ônibus do lugar. Imagina se você está fazendo esse trajeto sozinho de carro. Para se ter uma ideia, só passaram dois carros pela gente na estrada. Não é bom ir sozinho numa viagem dessa, o brasileiro não sabe dirigir na neve nem colocar corrente no veículo. É arriscado!
Quem é o público que viaja com você? Existe restrição para uma pessoa fazer uma expedição?
São pessoas que já têm uma bagagem de viagens muito grande, que sonha com a aurora desde criança ou viu em filmes. O público maior são mulheres acima de 35/40 anos, porque a mulher tem algo mais lúdico, romântico. Não há restrição nenhuma, o único senão é não ter condições de levar cadeirante. Já levei pessoas com mais de 74 anos e até uma senhora que teve AVC (Acidente Vascular Cerebral). Meu pai é cadeirante, e ia levá-lo uma vez, mas tive que abortar o projeto na hora que vi algumas situações que poderiam acontecer.