Crianças

Bactéria em MG: Ministério da Saúde visita São João del-Rei após mortes

A visita também será acompanhada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG); visita acontece dois dias depois de secretário de saúde de Minas criticar medidas adotadas pelos municípios da região

Por José Vítor Camilo
Publicado em 28 de outubro de 2023 | 12:41
 
 
 
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A Secretaria de Estado de Saúde (SES) e o Ministério da Saúde farão, neste sábado (28 de outubro), uma visita técnica ao município de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, região onde existe a suspeita de um surto de infecções pela bactéria Streptococcus. A viagem acontece dois dias depois do secretário de Estado de saúde, Fábio Baccheretti, criticar as medidas adotadas por prefeituras - como suspensão de aulas, desinfecção de escolas e aquisição de testes rápidos -, que, segundo ele não são "efetivas" e "alimentam" preocupação e pânico entre os pais.

Conforme divulgado pelo Governo de Minas, a equipe técnica do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs-Minas), estará em São João del-Rei para "realizar trabalho de campo a fim de verificar indícios e informações a respeito dos recentes casos de infecção em crianças".

Ainda conforme a pasta, o objetivo é  "identificar quais foram os agentes infecciosos, o tratamento que deve ser adotado e quais serão as orientações para o atendimento dos casos suspeitos". Os técnicos do Estado se reuniram, na sexta-feira (27) com representantes do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde (EpiSUS), do Ministério da Saúde. ,

“Estamos acompanhando os casos desde a primeira notificação, por meio da atuação do Cievs-Minas e da nossa Gerência Regional de Saúde de São João Del Rei e atuando continuamente para entender o que está acontecendo no município e dar uma resposta qualificada à situação, que tranquilize a população”, disse Eduardo Prosdocimi, subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, após a reunião.

Coordenadora admite que situação "foge do cotidiano"

Também presente no encontro de sexta, a coordenadora do Cievs-Minas, Eva Lídia Medeiros, afirmou, a despeito das afirmações do secretário, de que não há motivo para preocupação, que São João del-Rei "está em uma situação que foge do cotidiano da cidade", e que, por isso, o apoio e orientação da SES-MG e do Ministério da Saúde são primordiais.

“Quando a gente tem uma situação fora do habitual, temos que fazer a investigação de campo, identificar o que é que está acontecendo no território e avaliar a possibilidade de existência de surto ou não. Tendo essa visão de campo, vamos conseguir detectar os fatores envolvidos, o evento que está acontecendo no território e quais são as medidas de prevenção e controle para aquele determinado evento”, garantiu a coordenadora.

Amostras seguem sendo analisadas

Ainda de acordo com a SES-MG, as amostras que foram coletadas relativas aos casos ocorridos no município continuam passando por análise da Fundação Ezequiel Dias (Funed) e os resultados são aguardados. 

"A SES-MG destaca que não há critérios que comprovem surto ou risco à saúde da população de São João del-Rei, até o momento, bem como nenhuma evidência epidemiológica que justifique a alteração na rotina das atividades da população. Além disso, a Secretaria não indica o fechamento de escolas", completa a pasta estadual.

Por fim, a secretaria aproveitou para reforçar que, em casos de sintomas como febre, garganta inflamada e descamação da pele, a orientação à população é procurar imediatamente uma Unidade Básica de Saúde para diagnóstico correto e tratamento adequado.

Relembre o caso

As causas da morte de três crianças com idades entre 3 e 10 anos, em São João del-Rei, e a internação de outras após suposta contaminação pela bactéria streptococcus seguem sendo investigadas pela Secretaria Municipal de Saúde da cidade, que aguarda o resultado dos exames realizados pela Fundação Ezequiel Dias (Funed).

Inicialmente, na última terça-feira (24), a pasta afirmou que amostras laboratoriais confirmaram o contágio de uma criança, que já recebeu alta hospitalar, pela bactéria streptococcus pyogenes. No entanto, nessa quarta-feira (26 de outubro), a secretaria voltou atrás e disse que o resultado identificou a subespécie streptococcus sp. alfa-hemolítico. (Veja a diferença entre as duas espécies abaixo).

A reportagem de O TEMPO conversou com a infectologista Karina Nápoles que explicou as diferenças entre as duas bactérias investigadas. Segundo a médica, elas pertencem ao gênero streptococcus, mas são de subespécies diferentes. Apesar disso, os microrganismos podem causar sintomas semelhantes, com infecções na garganta e na pele. No entanto, a classe pyogenes aparentemente é mais comum e menos letal. Já a streptococcus sp. alfa-hemolítico, apesar de ser mais rara, pode causar infecções mais graves devido a produção de toxina. 

Streptococcus sp. alfa-hemolítico

De acordo com a especialista, a bactéria do grupo A pode causar infecção na garganta, no ouvido e na pele, podendo evoluir para febre reumática, insuficiência renal e infecções graves. Apesar de não ser o mais comum, ela explica que a produção de toxinas desse tipo de bactéria costuma causar a evolução para casos graves. 

“Aparentemente a infecção pelo pyogenes é mais comum e menos grave do que a infecção do grupo alfa-hemolítico, que devido a produção das toxinas desses grupos costumam evoluir para casos mais graves, apesar de ser mais rara”, conta. Ela explica que essas toxinas podem causar a síndrome do “choque tóxico”, além de uma septicemia. “É uma infecção bem mais grave e com risco de vida”, aponta. 

A médica afirma ainda que o tratamento é feito à base de antibióticos. “Opção geralmente é o clavulin ou azitromicina e, em casos graves com internação, usamos ceftriaxona”, aponta. 

Streptococcus pyogenes

Karina Nápoles detalha que as contaminações pela bactéria do grupo pyogenes costumam ser mais frequentes e menos letais. A infectologista afirma que os sintomas após a contaminação são semelhantes. Segundo ela, uma das complicações que o microorganismo pode causar é a febre escarlatina, típica em crianças de idade escolar durante a primavera. 

“Causa as principais doenças das amigdalites e complicações como febre reumática e a escarlatina, que é quando se complica com infecções de pele. A escarlatina ela se manifesta com sintomas de febre, mal-estar, vômito e lesões de pele características”, detalha. 

A médica afirma ainda que, assim como no caso da espécie alfa-hemolítico,  o tratamento também é feito à base de antibióticos. Ela explica que a diferenciação entre as duas bactérias só pode ser feita com análises laboratoriais. 

“Não tem diferença no tratamento, como são streptococcus o tratamento são com antibióticos que cobrem bactérias Gram-positivas. Pelos sintomas não dá para saber qual é, apenas com a identificação da microbiologia. Então o tratamento não sofre prejuízos ao se esperar essa identificação porque os exames às vezes demoram 3 a 5 dias para ter resultado”, garante. 

Transmissão 

A transmissão é feita de uma pessoa para a outra, por meio de contato próximo ou através de tosses ou espirros. “Por estar na mucosa da região da faringe, ela pode contaminar ainda alimentos. Então se a pessoa contaminada fala, pode haver respingos e contaminação de alimentos. Água também pode ser contaminada”

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