Permeabilidade do solo

Plano Diretor prevê 930 km de corredores verdes em BH

A partir da lei em vigor, prefeitura pretende criar novas áreas permeáveis na cidade

Por Clarisse Souza
Publicado em 05 de fevereiro de 2020 | 21:00
 
 
 
normal

A permeabilidade do solo belo-horizontino, tão discutida nas últimas semanas por causa das enchentes que deixaram debaixo d’água algumas das principais ruas e avenidas da capital durante os temporais do fim de janeiro, pode começar a ser ampliada com a implantação de diretrizes previstas no novo Plano Diretor, que entrou em vigor hoje. Entre as estratégias previstas pela legislação – que reúne normas base para o ordenamento da cidade –, está a possibilidade de ampliar em 930 km as chamadas conexões ambientais viárias, corredores verdes com potencial para aumentar a capacidade de drenagem da água da chuva. 

A Secretaria Municipal de Política Urbana afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que calçadas e canteiros são os terrenos com maior potencial para se tornarem aliados no escoamento pluvial urbano. Não há no texto, no entanto, especificação sobre um prazo para que a população comece a perceber as primeiras mudanças na cidade. 

Para potencializar a capacidade de absorção da água da chuva em BH, o Plano Diretor prevê que as conexões ambientais sejam áreas verdes e permeáveis que passem a integrar “uma rede de qualificação ambiental voltada para a proteção dos cursos d’água e nascentes, para a prevenção de processos erosivos”, entre outras funções. 

“São eixos viários muito estratégicos e importantes que vão ligar áreas verdes existentes às novas com uma taxa de permeabilidade maior. Vai ocorrer plantios de árvores e implantação de mecanismos de drenagem, chamados jardins de chuva, por todas as calçadas, todos os espaços públicos”, explicou a secretária municipal de Política Urbana, Maria Caldas, em entrevista ao jornal O TEMPO na semana passada.

Cursos d’água

Centro das discussões sobre o que provocou a enchente que arrastou carros, arrancou placas de asfalto e invadiu imóveis nas regiões Centro-Sul e Oeste da capital há pouco mais de uma semana, o tamponamento e a canalização de córregos, rios e outros cursos d’água que ainda correm em leito natural devem se tornar coisa do passado, pelo menos conforme as diretrizes do novo Plano Diretor. 

No lugar das soluções de engenharia adotadas desde a construção da capital, córregos e rios que ainda não foram sufocados pelo concreto devem ter o leito respeitado, com a qualificação dos fundos de vale e recuperação das margens. No entanto, a implantação desses corredores ambientais viários e de fundo de vale só deve ser vista a médio e longo prazo, segundo especialistas. Por demandarem intervenções em boa parte dos casos, o Plano Diretor prevê “a execução de obras públicas comprometidas com a qualificação ambiental”. (Com Letícia Fontes)

Para urbanista, nova legislação falha ao não detalhar projetos

A criação de novas áreas verdes, com a ampliação da taxa de permeabilidade em edificações privadas e a possibilidade de agregar ao sistema de drenagem trechos da área pública hoje cobertos por concreto, é vista por especialistas como uma medida positiva. No entanto, para o arquiteto e urbanista e vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura em Minas Gerais (Asbea-MG), Júlio Torres, o novo Plano Diretor de Belo Horizonte falha ao não ser mais específico e detalhar quais áreas da cidade precisam passar por intervenções, além de não estabelecer prazos.

“O Plano Diretor aponta caminhos, mas não traz nenhuma medida específica. É muito genérico. A lei deveria ser mais clara sobre quais obras serão feitas para tornar a cidade mais permeável”, analisou Torres. Ele acredita que as medidas trarão resultados a médio e longo prazo.

Na avaliação do especialista, além da adoção de corredores verdes, com implantação de jardins e áreas de proteção ambiental, BH precisa de projetos de engenharia capazes de reverter o quadro de inundações e alagamentos constantes. “O Plano Diretor é o caminho, mas, sozinho, ele não vai resolver o problema das enchentes na cidade. É preciso pensar em grandes obras. As bacias de contenção são uma opção. Mas serão necessárias outras alternativas para dar conta de tanta água que desce das partes mais altas da cidade”, apontou. 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!