Você fez uma skincare bem feita, colocou rodelas de pepinos nos olhos e teve uma ótima noite de sono. Ao acordar, foi até o banheiro, pensando: “minhas olheiras certamente desapareceram.” Mas, ao se olhar no espelho, percebe que elas continuam exatamente do mesmo jeito do dia anterior.
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Talvez se sinta frustrado com isso, mas saiba que não fez nada de errado. Isso porque o aparecimento das manchas escuras debaixo dos olhos nem sempre está associado a noites mal dormidas e tem mais a ver com genética. Isso não significa, porém, que não existam soluções para elas. E para descobrir o tratamento mais adequado, é preciso entender qual tipo de olheira que você tem.
Antes de tudo, é necessário identificar qual é a causa provocadora da olheira. Como mencionado, a herança genética é uma das razões mais comuns, especialmente em pessoas com tendência à hiperpigmentação ou vascularização mais evidente na região dos olhos.
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Outro fator que contribui para o surgimento delas é a estrutura do rosto: pessoas com olhos fundos ou sulcos marcados têm mais chances de terem olheiras. Além, é claro, de sintomas externos, como fadiga, privação de sono e estresse, que podem contribuir para a congestão vascular e edema.
Com o passar dos anos, a tendência é a de que as olheiras tornem-se ainda mais visíveis, porque acontece a perda de colágeno e de gordura subcutânea. Isso faz com que os vasos fiquem mais visíveis sob a pele fina da região ocular.
“Rinites alérgicas e dermatites, por sua vez, estimulam o ato de coçar a área, o que agrava a pigmentação local. Portanto, as olheiras são um fenômeno multifatorial, que exige uma abordagem diagnóstica precisa para definição do tratamento mais adequado”, aponta o dermatologista Lucas Miranda, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O próximo passo é entender qual o tipo de olheira é a sua. Na medicina, elas podem ser classificadas em quatro tipos principais:
- pigmentares,
- vasculares,
- estruturais e
- mistas.
“As olheiras pigmentares apresentam coloração amarronzada e são causadas pelo acúmulo de melanina na região periorbital, mais comum em pessoas com fototipo mais elevado. Já as olheiras vasculares têm coloração arroxeada ou azulada, associadas à presença de vasos visíveis ou congestão venosa. As olheiras estruturais resultam da anatomia facial, como a presença de sulcos profundos ou bolsas de gordura que criam sombras. Por fim, as olheiras mistas combinam duas ou mais dessas causas, sendo frequentemente encontradas na prática clínica”, explica o médico.
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Mas nem sempre é fácil saber qual tipo de olheira que alguém tem. Portanto, é fundamental se consultar com um especialista para fazer uma análise correta. Mestre em medicina estética e biomédico, Thiago Martins esclarece que, no consultório, acontece uma análise clínica minuciosa.
“Isso envolve exame físico sob diferentes condições de iluminação, incluindo a luz de Wood, que auxilia na diferenciação entre pigmentação epidérmica e dérmica. Além disso, a observação da anatomia facial, do padrão de vascularização, da espessura cutânea e da presença de sulcos ou bolsas é fundamental para um diagnóstico preciso. Em casos mais complexos, pode-se recorrer a exames de imagem facial, como a análise por plataformas de mapeamento digital”, identifica.
Veja quais são os tratamentos para olheiras
Depois de identificada o tipo de olheira, é hora de partir para um tratamento adequado. O mercado oferece diferentes alternativas, muitas vezes vendidas como milagrosas, mas é preciso estar muito atento para não cair em cilada.
O biomédico Thiago Martins comenta que muitos pacientes chegam em seu consultório com expectativas de resolução rápida, “sem compreender que se trata de uma condição multifatorial que exige avaliação precisa e, muitas vezes, combinação de terapias.” “A abordagem profissional, baseada em evidências e com recursos tecnológicos adequados, é essencial para alcançar resultados naturais e duradouros”, reflete.
São variadas as opções estéticas eficazes para o tratamento das olheiras. Dentre elas, a mais utilizada envolve preenchimento com ácido hialurônico, especialmente indicado para olheiras estruturais.
“Essa técnica permite suavizar a transição entre a pálpebra e a bochecha, promovendo um efeito de rejuvenescimento imediato”, explica o biomédico. Já para as olheiras pigmentares ou vasculares, os recursos mais seguros e eficazes incluem lasers como o Nd:YAG e a luz intensa pulsada, porque são “capazes de clarear a região e melhorar a qualidade da pele.”
O profissional também menciona que peelings químicos suaves, com ácidos como o mandélico ou o tranexâmico, são indicados para tratar hiperpigmentação leve a moderada.
“Além disso, a microinfusão de medicamentos na pele (MMP) permite a entrega de ativos diretamente na derme, otimizando o clareamento e a resposta clínica. Em alguns casos, radiofrequência ou ultrassom microfocado são utilizados como estímulo de colágeno, contribuindo para a firmeza da pele ao redor dos olhos. Todos esses tratamentos devem ser realizados com planejamento personalizado e por profissionais capacitados”, aponta o biomédico Thiago Martins.
A durabilidade dos resultados depende da manutenção, exposição solar e rotina de cuidados. Dentre os tratamentos disponíveis, é preciso ter muita atenção com a micropigmentação ou tatuagem corretiva.
“É um procedimento controverso”, indica o dermatologista Lucas Miranda. “Embora possa camuflar temporariamente a coloração da olheira, existe o risco de mudança de cor com o tempo, além da possibilidade de um resultado artificial. Como dermatologista, não recomendo o procedimento”, alerta o médico.
Necessidade de cirurgia
Há situações em que apenas a cirurgia apresenta resultados significativos. Esses são casos de pessoas com olheiras estruturais associadas à presença de bolsas de gordura palpebral, flacidez cutânea ou sulcos profundos, aponta Miranda.
“Nesses casos, a blefaroplastia inferior pode ser indicada para remover ou reposicionar a gordura, além de promover a tração da pele. Esse procedimento é recomendado quando os recursos minimamente invasivos, como preenchimentos e lasers, não são suficientes para corrigir a deformidade anatômica. A indicação é feita com base em avaliação clínica detalhada e análise tridimensional da face”, conta.
Sinal de alerta
Em relação à saúde no todo, as olheiras não representam gravidade na maioria dos casos, significando apenas uma condição estética. No entanto, é importante observar se elas não estão associadas a outros sinais, como fadiga persistente, icterícia, palidez acentuada ou emagrecimento inexplicado.
“É importante investigar possíveis causas sistêmicas, como anemias, disfunções hepáticas ou distúrbios metabólicos. Ainda assim, esses casos são menos comuns, e a grande maioria das queixas está relacionada a fatores benignos e corrigíveis com abordagem dermatológica”, salienta o dermatologista Lucas Miranda.
Qual creme usar?
A depender do tipo de olheira, alguns cremes clareadores podem ajudar na prevenção e tratamento das manchas escuras debaixo dos olhos. Mas “o uso desses produtos deve ser orientado por um profissional qualificado para garantir segurança e resultados satisfatórios”, afirma o biomédico Thiago Martins. Confira o que ele diz sobre alguns dos ativos mais comuns usados neste propósito:
Vitamina C
“Antioxidante potente que uniformiza o tom da pele e estimula a produção de colágeno”
Niacinamida
“Atua reduzindo a transferência de melanina dos melanócitos para os queratinócitos, o que diminui a pigmentação”
Ácido tranexâmico
“Eficaz na modulação da inflamação e na inibição da síntese de melanina, sendo bastante indicado para olheiras pigmentares”
Ácido kójico e cafeína
“Age como despigmentante, enquanto a cafeína é utilizada por seu efeito vasoconstritor, contribuindo para a melhora das olheiras vasculares”
Mitos e verdades
Confira, abaixo, os principais mitos e verdades no que diz respeito ao tratamento de olheiras, segundo o dermatologista Lucas Miranda:
- Qualquer creme e laser podem resolver o problema das olheiras
MITO! “Na prática, os clareadores têm ação limitada sobre olheiras vasculares ou estruturais.”
- Peelings profundos são mais eficazes
MITO! “Na verdade, eles podem causar efeitos adversos, como hiperpigmentação pós-inflamatória, especialmente em peles morenas.”
- Soluções naturais, como uso de pepino, saquinho de camomila ou gelo podem ajudar a diminuir as olheiras.
VERDADE! (porém depende) “Essas soluções caseiras têm efeito paliativo e temporário. O pepino e a camomila possuem ação calmante e anti-inflamatória leve, podendo reduzir discretamente o inchaço da região. O gelo, por sua vez, promove vasoconstrição e ajuda a melhorar momentaneamente a congestão vascular. No entanto, nenhum desses métodos é capaz de tratar as causas estruturais ou pigmentares das olheiras de forma definitiva.”