Frustração

Travar na hora H pode ser uma questão emocional

Para especialistas, ansiedade excessiva é um dos principais fatores para disfunções sexuais


Publicado em 26 de novembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Entre os vários dilemas sexuais abordados ao longo das três temporadas da série britânica “Sex Education”, a dificuldade de se entregar a uma relação ganha protagonismo ao menos duas vezes. O problema aparece, por exemplo, na história de um dos personagens principais da trama, Otis Milburn, interpretado por Asa Butterfield, que, apesar de desejar o sexo, tem dificuldade em manter uma ereção – seja quando está sozinho ou quando está acompanhado. Já Lily Iglehart, vivida por Tanya Reynolds, sofre com um quadro de vaginismo, um tipo de Transtorno Sexual Doloroso (TSD) caracterizado pela contração involuntária da musculatura pélvica, causando dor e impossibilitando a penetração. 

Nos dois casos, a disfunção tem fundo emocional e gera frustração para os personagens que, apesar do desejo, simplesmente travam na hora H. Histórias que, para além da ficção, geram identificação na vida real. “Cada vez mais recebo, no meu consultório, homens e mulheres jovens com relatos de medo de chegar à relação sexual. Muitos têm tanto medo de falhar que não chegam nem mesmo a transar. Outros ficam apavorados temendo a desaprovação do outro”, aponta a terapeuta sexual psicossomática Tami Bhavani, citando que essa supervalorização da performance é reforçada por uma educação sexual pautada pelo consumo de material pornográfico. 

Além disso, assim como nas trajetórias de Otis e de Tanya, o entrave pode estar associado a traumas e idealizações. A visão que temos do sexo também vai impactar nossa disposição de se entregar: se o sujeito acredita que o prazer sexual é errado, que ele será punido se tiver um orgasmo, pode ser que passe a se sabotar e travar no ato, explica Tami. 

Em boa parte dos casos, a ansiedade excessiva se revela o principal fator por trás de disfunções que impedem que a atividade sexual se desenrole – situação em que a pressão social acaba deixando tudo ainda mais complicado. “Lembro que, na minha época de escola, ser ‘BV’ (abreviação para a expressão ‘boca virgem’, usada para designar pejorativamente pessoas que nunca trocaram beijos) era sinônimo de vergonha. A virgindade, em muitos ambientes, tem ocupado esse mesmo lugar para muitos jovens. Mas é importante dizer que não é preciso ter pressa para iniciar uma vida sexual, que é preciso construir maturidade, de forma que a pessoa consiga ultrapassar essa barreira do medo e da vergonha”, assegura a terapeuta. 

No seu tempo 

Tami Bhavani adverte que um indivíduo não deve se forçar a consumar o ato sexual. Se há um entrave, é preciso primeiro investigar a causa daquele fenômeno e tratá-lo. Só depois, ao alcançar as condições ideais, é que a transa poderá acontecer de maneira satisfatória. “Se você não está pronto, seja por qual motivo for, o seu corpo vai entender o ato como um abuso, o que vai só piorar o quadro, causando ainda mais travas”, observa. 

Entre os transtornos que podem levar a dificuldades nas relações sexuais, a terapeuta cita o vaginismo e a dispareunia, caraterizada pela dor genital persistente ou recorrente que surge pouco antes, durante ou após a relação sexual. O transtorno, que pode ter raiz emocional, pode ocorrer tanto no sistema reprodutor ovariano quanto no testicular, embora seja mais comum no primeiro. A disfunção erétil é outro problema comumente relatado, podendo ser causado por fatores como estresse, tensão no relacionamento e baixa autoconfiança. 

Procurando ajuda. No caso da manifestação de qualquer desordem sexual, é importante a busca de ajuda profissional, uma vez que esses distúrbios podem ser sinal de doenças físicas, como a diabetes, e mentais, como a depressão – hipóteses que vão exigir um tratamento amplo, para além da questão sexual em si. Mesmo se não for o caso, os entraves sexuais não serão solucionados com um simples “relaxa e goza”. Alguns quadros de vaginismo, por exemplo, exigem acompanhamento fisioterápico. 

“Nos meus atendimentos, gosto muito de indicar para a realização de rituais de automassagem. A prática da masturbação consciente, de maneira que a pessoa vai investigando como seu corpo reage aos estímulos, também ajuda”, cita Tami Bhavani, adicionando que até a leitura de contos eróticos pode ajudar o indivíduo a se soltar à medida que vai se desprendendo daquela imagem do sexo como algo errado.

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