Um erro grosseiro em um dos tanques de fabricação das cervejas da Backer foi o responsável pela morte de sete pessoas e a intoxicação de outras 22, que ficaram com sequelas graves. Em uma reportagem do programa "Fantástico", da TV Globo, os detalhes do inquérito de mais de 4.000 páginas foram revelados.
Por acreditar que o dietilenoglicol, uma substância tóxica que causou os óbitos e os diversos problemas de saúde entre as vítimas, estava evaporando, um funcionário fazia a reposição do produto periodicamente. Porém, o líquido estava vazando para dentro do tanque após um furo provocado por uma sonda.
O inquérito apontou ainda que o profissional não tinha a qualificação necessária para a função e, por isso, não foi indiciado. Para a Polícia Civil, apesar da Backer garantir que comprava o monoetilenoglicol, considerado menos tóxico, é indiferente qual substância estava presente no parque de fabricação – as duas causam efeitos similares no organismo.
As investigações duraram cinco meses e apontaram ainda omissão da empresa, que não realizava manutenções preventivas, apenas corretivas, em seus equipamentos. Em cada cerveja intoxicada pela substância, havia cerca de seis milímetros de dietilenoglicol, mais que o dobro da dose considerada fatal.
Sem seguir as recomendações
Conforme a reportagem do "Fantástico", a Backer ainda não teria seguido as recomendações do fabricante, que recomendava o uso de álcool na refrigeração, e não do mono ou dietilenoglicol – por isso, a empresa teria assumido o risco. Já a cervejaria declarou que possui um áudio do responsável pela fabricação do tanque que enfatizava não ter problema em relação ao uso da substância tóxica.
O furo da estrutura só foi descoberto após a Polícia utilizar um corante no duto de refrigeração. Com isso, foi descoberto que o material jorrava para dentro do tanque, de 18 mil litros. Em 2018, já havia sido encontrado outros furos no material usado pela Backer para fabricação dos produtos.
Dos 11 indiciados, dez são diretamente ligados à Backer, entre químicos, bioquímicos e engenheiros. No inquérito encaminhado para o Ministério Público, eles respondem por homicídio, lesão corporal e contaminação de produto alimentício. Já os três proprietários da cervejaria podem responder judicialmente por descumprir ordens de retirar a cerveja do mercado e não dar alerta aos consumidores sobre os riscos da contaminação.
Ao todo, foram cerca de 30 mil litros de cerveja contaminados. Nos últimos dois anos, o crescimento da marca provocou a aquisição de 44 novos tanques.
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