Tensão

Deputados de partidos que integram governo assinam pedido de impeachment de Lula

Dos 96 assinaturas do pedido de impeachment na noite desta segunda-feira, 23 eram de deputados do PP, Republicanos, PSD ou União Brasil, que comandam pastas do governo

Por Lucyenne Landim
Publicado em 19 de fevereiro de 2024 | 14:52
 
 
Presidente Lula em discurso na Etiópia, na abertura da 37º Cúpula da União Africana Ricardo Stuckert / PR

Pelo menos 23 deputados federais de partidos que integram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinaram o pedido de impeachment do petista. O documento, articulado pela oposição, aliada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mira a comparação de Lula entre os ataques de Israel na Faixa de Gaza, em meio à guerra contra o Hamas, ao Holocausto, que foi a perseguição e o assassinato de judeus na Alemanha nazista por Adolf Hitler

Até o início da tarde desta segunda-feira (19), o pedido de impeachment contava com 96 assinaturas. A maioria é de deputados do PL, mas há também rubricas do PP, do Republicanos, do União Brasil e do PSD. Juntos, os quatro partidos comandam oito dos 38 ministérios totais de Lula.

O PSD tem três cadeiras no primeiro escalão desde o início do governo Lula: Carlos Fávaro na Agricultura; André de Paula na Pesca; e Alexandre Silveira em Minas e Energia.

O União Brasil tem a mesma quantidade. Juscelino Filho e Waldez Góes, das Comunicações e Integração e Desenvolvimento Regional, respectivamente, estão nos cargos desde janeiro de 2023. Já a pasta do Turismo começou sob o comando de Daniella Carneiro, mas passou para Celso Sabino em uma disputa interna do partido.

Já o PP e o Republicanos entraram no governo em setembro, em uma negociação direta do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A troca foi aceita por Lula, que esperava ter maior apoio na aprovação de projetos de interesse do governo na Câmara.

Na ocasião, Silvio Costa Filho, do Republicanos, assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos, enquanto André Fufuca, do PP, ficou com o comando da pasta do Esporte. Apesar da presença no governo, esses dois partidos permaneceram "rachados" no Congresso Nacional, com parlamentares que se dividiram entre apoio e oposição a Lula.

Veja abaixo os nomes dos deputados de partidos que integram o governo que assinaram o pedido de impeachment:

  • Alfredo Gaspar (União-AL) 
  • Clarissa Tércio (PP-PE) 
  • Coronel Assis (União-MT) 
  • Coronel Ulysses (União-AC) 
  • Coronel Telhada (PP-SP) 
  • Cristiane Lopes (União-RO) 
  • Dayany Bittencourt (União-CE) 
  • Delegado Fábio Costa (PP-AL) 
  • Evair Vieira de Melo (PP-ES) 
  • Mariana Carvalho (Republicanos-MA) 
  • Nicoletti (União-RR) 
  • Messias Donato (Republicanos-ES) 
  • Reinhold Stephanes Jr (PSD-PR) 
  • Roberto Duarte (Republicanos-AC) 
  • Rodrigo Valadares (União-SE) 
  • Sargento Fahur (PSD-PR)
  • Kim Kataguiri (União-SP)
  • Rosângela Moro (União-SP)
  • Zucco (Republicanos-RS)
  • Zacharias Calil (União-GO)
  • Pedro Lupion (PP-PR)
  • Delegado Palumbo (MDB-SP)
  • Dr. Fernando Máximo (União-RO)

Entenda fala polêmica de Lula sobre Israel

O pedido de impeachment pede que Lula perca o cargo de presidente por "crime de responsabilidade contra a existência política da União". O grupo aponta que o petista cometeu "ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade". A ação é passível de punição.

No domingo (18), em entrevista à imprensa na Etiópia, Lula declarou: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus". A fala foi entendida como direcionada a Israel, que faz ataques em Gaza.

A declaração gerou uma série de reações. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a classificou como "vergonhosas e graves". "Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa e fá-lo ao mesmo tempo que defende o direito internacional", acrescentou, anunciando a convocação imediata do embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, "para uma dura conversa de repreensão".

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, decidiu levar Meyer ao Yad Vashem, o memorial oficial de Israel para lembrar os judeus que foram vítimas do Holocausto. Normalmente, o encontro aconteceria na sede da pasta no país. Katz declarou que Lula é "persona non grata" e não será bem-vindo ao país até que se retrate de declarações. "Não esqueceremos nem perdoaremos", destacou. Essas reações das autoridades israelenses devem pautar os discursos do ato de Bolsonaro.

A primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, declarou que "a fala [de Lula] se referiu ao governo genocida e não ao povo judeu". "Tenho certeza que se o Presidente Lula tivesse vivenciado o período da Segunda Guerra, ele teria da mesma forma defendido o direito à vida dos judeus", completou.