O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve debater, nesta segunda-feira (8/9), o tarifaço determinado por Donald Trump com a cúpula dos países integrantes do Brics em reunião virtual convocada pelo chefe do Executivo brasileiro. O encontro, que será virtual, ocorre em um momento de acirramento das críticas do presidente norte-americano aos países integrantes do grupo, como Índia e Rússia, em função da proximidade com a China.
O presidente russo, Vladimir Putin, inclusive, vai participar da reunião, segundo informado pelo porta-voz do governo local, Dmitry Peskov, no Fórum Econômico do Leste. Na assembleia, os países devem reforçar o apelo pelo multilateralismo nas relações econômicas, rechaçando as negociações individualizadas estabelecidas por Trump com cada país.
Na última semana, Trump publicou nas redes sociais uma mensagem com crítica indireta ao bloco. “Parece que perdemos a Índia e a Rússia para a China mais profunda e sombria. Que eles tenham um longo e próspero futuro juntos!", escreveu.
O comentário foi feito após o presidente chinês, Xi Jinping, ter recebido Putin e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, dentre outras lideranças para o encontro da Organização de Cooperação de Xangai.
Brasil em risco?
As declarações de Trump ocorrem após uma série de ameaças da Casa Branca de impor novas taxas aos integrantes do Brics. Coordenador do curso de Relações Internacionais e professor de Ciência Política do Ibmec-BH, Adriano Gianturco crê que em um eventual incremento de sanções vindas dos Estados Unidos, o Brasil deverá ser um dos principais alvos.
A tese, segundo o docente, é justificada por posicionamentos do governo brasileiro como a busca por uma nova moeda alternativa em relação ao dólar. “Toda essa composição de gestos é muito simbólica. O Brasil está liderando, pelo menos nas declarações, a oposição aos Estados Unidos. A China, que é o maior inimigo dos Estados Unidos, está negociando o tarifaço, e junto com a Rússia já deslegitimaram Lula sobre a iniciativa de desvinculação do dólar, dizendo que não é uma iniciativa dos Brics. O Brasil está se expondo muito neste sentido”, comentou.
Gianturco ainda acredita que, ao se colocar em oposição a Washington e fortalecer relações comerciais com a China, o Brasil também pode enfrentar resistências com países europeus. “Essa tendência mostra ao ocidente, à União Europeia, que o Brasil pode não ser mais um aliado em termos econômicos”, frisou.
O professor de direito internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) Evandro Menezes de Carvalho reforçou que o debate do tarifaço no Brics, bem como o encontro dos presidentes em Pequim, pode gerar consequências.
“Mas isso vale para todos os presidentes. O problema é que Donald Trump insiste em uma abordagem que se restringe a estabelecer negociações bilaterais em que os Estados Unidos serão sempre o país mais forte economicamente”, avaliou. Menezes ainda defendeu que o Brasil mantenha uma política externa ecumênica que mire o desenvolvimento econômico e social.
“Eu discordo da ideia de submeter os interesses do país apenas aos caprichos da Europa e dos Estados Unidos. Essa dicotomia não existe mais. Uma política externa soberana vai estabelecer relações com absolutamente todos os países que atendam aos interesses do país”, finalizou Menezes.
Brics x Trump
A união do Brics busca não apenas resistir ao protecionismo de Trump, mas também construir uma nova ordem econômica global. A ampliação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), criado pelo bloco, e outras iniciativas de cooperação econômica são vistas como passos importantes para diminuir a dependência do dólar e criar um sistema comercial mais equitativo para economias emergentes.