A saga para encontrar os quatro irmãos colombianos, achados com vida nessa sexta-feira (9), teve início em 1º de maio, quando o monomotor Cessna 206 caiu após decolar em Araracuara com destino a San Jose del Guaviare, uma das principais cidades da Amazônia colombiana.
Além das crianças, estavam a bordo três adultos; o piloto, Hernando Murcia Morales, o líder indígena Herman Mendoza e a mãe dos menores, Magdalena Mucutuy.
Segundo um militar responsável pelas buscas, todos fugiam dos dissidentes do acordo de paz entre o antigo grupo guerrilheiro Farc e o governo -eles recrutam e aterrorizam os habitantes da região.
Uma mamadeira, restos de frutos e abrigos improvisados na selva foram algumas das pistas que nortearam as equipes da Colômbia nas operações de buscas das quatro crianças - com 13, 9, 4 e um ano - que estavam desaparecidos havia 40 dias.
A aeronave só foi localizada 15 dias depois, quando militares anunciaram que o corpo do piloto havia sido encontrado. Os outros dois adultos também morreram, embora as autoridades não tenham especificado a data e o local dos óbitos. O avião ficou preso entre as árvores e teve a parte frontal destruída. As crianças não foram localizadas.
No mesmo dia, um cão farejador encontrou uma garrafa numa área afastada do local do acidente. Mais de cem soldados foram mobilizados para a região, e a esperança de que as crianças fossem encontradas com vida aumentou.
Operação Esperança
As buscas foram batizadas de Operação Esperança e seguiram rastros em uma área de 323 quilômetros quadrados, equivalente à província de Buenos Aires, segundo autoridades. Dezenas de indígenas de cidades próximas, acostumados a se deslocar na Amazônia, se juntaram aos militares.
Fátima Valencia, a avó das crianças, chegou a gravar uma mensagem no idioma indígena huitoto avisando os netos que eles estavam sendo procurados e pedindo que não avançassem pela floresta. As equipes de busca reproduziram o áudio em um alto-falante ao sobrevoar a área.
Em 17 de maio, os soldados encontraram um acampamento improvisado feito de galhos e gravetos, e um cachorro farejador localizou uma tesoura e laços de cabelo.
Nesse mesmo dia, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nas redes sociais que as crianças haviam sido encontradas com vida. Ele apagou a publicação e se retratou horas depois, quando instituições e familiares negaram a informação.
Três semanas após o acidente aéreo, os militares encontraram duas fraldas e um par de chinelos e garantiram que haviam passado a menos de 100 metros dos menores. Autoridades, então, decidiram reduzir as buscas para uma área de 20 quilômetros quadrados.
Cão Wilson segue desaparecido
Já na última quinta-feira (8), quando as buscas ficaram em segundo plano na mídia colombiana devido à crise no governo Petro que explodiu devido a um escândalo de escutas telefônicas, os militares relataram que Wilson, um cão farejador envolvido na operação, havia desaparecido na selva.
O pastor belga de seis anos foi o cachorro que encontrou a mamadeira de Cristín, o bebê de um ano, no meio da vegetação. Segundo boletim do Exército, é possível que ele tenha ficado "desorientado com a complexidade do terreno". Os militares encontraram as pegadas do cão próximas às dos menores.
Resgate
Na sexta, as autoridades anunciaram que os menores haviam sido encontrados e divulgaram uma foto em que as crianças estão cercadas por militares e indígenas que participaram das buscas. Todos eles aparecem magros e sem sapatos. Wilson, o cachorro, não estava com eles e permanece desaparecido.
"Ele estão juntos e fracos; vamos deixar os médicos avaliá-los", disse o presidente Petro, atribuindo o episódio a um "exemplo total de sobrevivência". Os irmãos foram encontrados a cinco quilômetros do ponto onde a aeronave caiu, segundo o Ministério da Defesa.
Segundo a Organização Indígena da Colômbia, os huitotos vivem em harmonia com as condições hostis da floresta amazônica e preservam tradições como a caça, a pesca e a coleta de frutas silvestres. (FolhaPress)