Uma ideia potente na sinopse

Às vezes, basta ler a sinopse para sacar a metáfora que um filme quer desenvolver. Juntos, dirigido por Michael Shanks, parte de uma ideia forte: um casal que se muda para uma casa isolada na mata e começa a viver fenômenos estranhos em seus corpos, como se um tentasse absorver o outro.

A proposta é clara: discutir a codependência e a perda da identidade individual em relações onde já não se sabe onde começa uma pessoa e termina a outra. E, para sustentar essa alegoria de amálgama, o filme aposta no terror corporal.

Bons momentos que não se sustentam

Essa premissa garante sustos no início, cria uma mitologia curiosa e até abre espaço para reflexões sobre a dificuldade de deixar para trás um relacionamento acabado. Mas, à medida que o filme avança, o roteiro começa a mostrar suas falhas.

O casal convence (até porque Alison Brie e Dave Franco já são um casal fora das telas) e conseguem transmitir tanto a ameaça quanto a urgência de investigar o que está acontecendo. 

A diferença de trajetórias também pesa: Millie crescendo na carreira, enquanto Tim se recusa a encarar os próprios problemas, afundando em ressentimento.

Mas, mesmo com personagens interessantes e conscientes da loucura que enfrentam, a execução se perde. Em alguns momentos o filme não sabe como entreter; em outros, parece esquecer qual mensagem deseja transmitir.

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Terror que fica no rascunho

O horror corporal, que poderia ser o grande diferencial, acaba ofuscado. Talvez pela falta de orçamento, talvez pela falta de ousadia. Apesar do marketing vender reações extremas do público, o filme entrega apenas algumas cenas pontuais.

Curiosamente, outros elementos de terror (que não vou contar pra não entregar spoilers), surgem logo nas primeiras cenas, e são bem mais impactantes do que os que estão nos trailers. Eles até tem propósito na trama, mas desaparecem rápido demais. Se tivessem sido levados até o fim, o filme ganharia muito mais força.

Entre metáfora e previsibilidade

O roteiro ainda oscila entre criticar e romantizar a fusão das duas personalidades, criando um tom confuso sobre a mensagem. Essa indecisão poderia render incerteza, mas o que aparece mesmo é previsibilidade.

Conforme a trama se desenrola, fica fácil deduzir cada resultado. Parece que o filme nasceu de algumas ideias de cenas específicas, e só depois o roteiro foi costurado em volta. Isso pesa no final, que acaba fraco e sem impacto.

Vale a pena?

Aqui a resposta é mais pessoal do que universal. Juntos começa com uma ideia promissora, mas não consegue sustentar a tensão até o final. Para quem busca metáforas sobre relacionamentos tóxicos e codependência, pode render alguma reflexão. Mas, como experiência de terror, decepciona.

Se a curiosidade falar mais alto, o filme está em cartaz nos cinemas. Mas, no geral, é daqueles que valem mais pela discussão que poderiam provocar do que pelo resultado que entregam.


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