Longe de ser um fenômeno isolado, o início precoce das articulações para as eleições, como já ocorre em Minas Gerais, a um ano e cinco meses do próximo pleito, segue um padrão estratégico, conforme explicam especialistas ouvidos por O TEMPO.
Na avaliação do doutor em ciência política Leonardo Silveira Ev, as razões para a antecipação das tratativas são tanto institucionais quanto conjunturais. “O processo de alinhamento político para definir coligações, apoios e a construção das candidaturas é demorado. Quanto antes os partidos se organizarem, melhor conseguirão planejar suas campanhas”, explica. Além disso, ele lembra que há prazos legais que exigem, por exemplo, a filiação partidária de candidatos até seis meses antes da eleição, o que impõe a necessidade de uma definição prévia dos quadros.
A cientista política Marta Mendes, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Política Local, aponta que há também um componente estratégico de “teste” de candidaturas. “Ao anunciar uma pré-candidatura cedo, você marca território, desencoraja possíveis concorrentes e se afirma dentro do próprio partido”, analisa. Segundo ela, essa movimentação inicial é uma tentativa de ocupar espaços internos e externos e de projetar força.
Apesar das vantagens de uma articulação precoce, ambos os especialistas argumentam que há riscos consideráveis. Para Marta, expor um nome por muito tempo pode gerar desgaste. “Se o pré-candidato não conseguir manter o crescimento em apoio ou popularidade, pode sofrer um efeito de cansaço, além de dar mais tempo para adversários explorarem fraquezas e eventuais escândalos”, considera.
Além disso, Leonardo Ev acrescenta que o lançamento antecipado coloca o pré-candidato sob constante ataque. “É uma vitrine aberta para os adversários se prepararem contra ele ou ela”, diz.
Escolha dos nomes
A definição dos pré-candidatos, conforme apontam os especialistas, é um processo que combina fatores pessoais e políticos. “Os partidos buscam nomes que tenham boa reputação, projeção social ou popularidade. A conexão do eleitor é muito mais com a pessoa do que com o partido”, ressalta Ev.
O especialista ainda destaca que, em legendas com ideologias mais consolidadas, como PT e PL, a afinidade política também pesa, mas, nos partidos do chamado “centrão”, o fator personalista é ainda mais decisivo.
Marta complementa que, na ausência de prévias formais, como ocorre em outros países, a definição dos candidatos depende da dinâmica interna da elite partidária. “Quem consegue mobilizar mais apoios internos geralmente é visto como mais viável eleitoralmente”, conclui.
Pesquisas são ferramenta de validação
Ferramenta que já tem sido usada pelos partidos mineiros na preparação para o pleito de 2026, as pesquisas internas são adotadas pelas legendas para “avaliar o capital eleitoral real de seus quadros, sobretudo para cargos majoritários”, aponta o doutor em ciência política Leonardo Ev. O especialista explica que há uma tendência de que nomes que já ocupam algum cargo eletivo partam com alguma vantagem, mas a popularidade medida nas sondagens pode consolidar ou inviabilizar pré-candidaturas.
As redes sociais também têm papel fundamental nessa escolha, tornando-se um componente indispensável, conforme analisa a cientista política Marta Mendes. “Candidatos que demonstram capacidade de comunicação direta com o eleitor e grande alcance digital são vistos como mais viáveis”, afirma. Isso, ela explica, não apenas fortalece o nome perante o partido, mas também atrai financiadores e aumenta a exposição na mídia, transformando-se em ativo eleitoral.
Leonardo Ev, no entanto, adverte que o peso das redes sociais varia conforme o perfil do partido. “Nas legendas tradicionais, como PT, MDB e PSDB, o capital político interno ainda é decisivo”, avalia.
Saiba quais cargos serão disputados em 2026 e entenda as principais regras do pleito
No próximo ano eleitores vão às urnas para escolher:
- Presidente da República
- Governador
- Deputados estaduais
- Deputados federais
- Senadores
Disputa no Legislativo
Câmara dos Deputados
Vagas para Minas: 53
Cada partido ou federação pode lançar até 54 candidatos (100% +1)
Assembleia Legislativa
Vagas: 77
Cada partido ou federação pode lançar até 78 candidatos (100% +1).
As eleições para deputado federal e estadual ocorre pelo sistema proporcional. Ou seja, não se considera apenas a votação individual do postulante ao cargo, mas o total de votos dados ao partido ou à federação.
Renovação do Senado
Em 2026, a renovação do Senado será de dois terços, ou seja, cada Estado terá duas vagas para o cargo de senador. Neste caso, a eleição é majoritária. Ou seja, é necessária a maioria simples de votos para que o candidato vença a disputa.