BRASÍLIA - Em busca de proteger a delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a defesa do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid negou, nesta terça-feira (2/9), as acusações de que a Polícia Federal (PF) e o ministro Alexandre de Moraes tenham lhe coagido. A defesa do tenente-coronel do Exército utilizou 34 minutos dos 60 a que tinha direito na sustentação oral.

A colaboração de Cid é o principal alvo de parte dos outros réus. O advogado Jair Alves Pereira rebateu que as reclamações de Cid quanto à condução do depoimento pela PF provem a coação no curso do processo. “Isso não é coação. O Mauro Cid está reclamando da posição do delegado. Isso é direito. Qual é a versão que constou nos autos? A versão do Mauro Cid ou a versão do delegado?”, acrescentou.

Logo após prestar depoimento à PF, Cid disse a pessoas próximas, em áudios revelados à época pela revista Veja, que os policiais federais teriam lhe induzido a ratificar declarações de outras testemunhas. “Eles queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, criticou o tenente-coronel do Exército.

Segundo Pereira, um delegado que não confronta um investigado “não tem nada”. “Posso não concordar com o relatório do delegado, mas, nem por isso, posso dizer que ele coagiu o meu cliente. Preciso dizer que as equipes dos delegados foram extremamente éticas. Nunca tentaram falar com Mauro Cid sem antes acessar a defesa”, argumentou.

O advogado de Cid ainda minimizou qualquer coação de Moraes ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro quando lhe advertiu em uma audiência ao citar o pai do tenente-coronel e a filha mais velha. “Vossa Excelência tinha obrigação de fazer isso. Mauro Cid tinha um contrato vigente. Se Vossa Excelência não tivesse feito isso, eu estaria aqui reclamando. Isso não é ameaça”, alegou.

Para Pereira, a tentativa das defesas de outros réus, como, por exemplo, de Bolsonaro, de anular a colaboração premiada de Cid “não tem credibilidade”. “Não a credibilidade que estão tentando prestar a ela, a fé pública. Isso não existe”, pontuou o advogado, encarregado pelo também advogado Cezar Bittencourt de defender exclusivamente o acordo. 

O acordo de delação premiada firmado entre Cid e a PF dá benefícios ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O tenente-coronel solicitou, por exemplo, o perdão judicial ou a redução máxima da pena, com limite de dois anos de reclusão, a conversão da pena privativa de liberdade em apenas restritiva de direitos e a devolução de bens e valores apreendidos.