A bancada de esquerda da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) divulgou, na noite de segunda-feira (9), uma nota de repúdio à viagem do prefeito Álvaro Damião (União Brasil) a Israel. O prefeito embarcou no domingo (8 de junho) para o país, que está em guerra contra a Palestina desde outubro de 2023, e deve permanecer até o dia 21. Embora a nota esteja assinada como posição da bancada de esquerda, o vereador Pedro Rousseff (PT), que integra o grupo, não assinou o documento.
Questionado por O TEMPO sobre o motivo de não ter endossado a nota, Rousseff mencionou apenas que está focado em aproximar o prefeito de outros países. "Vamos levar o prefeito para a China para ele conhecer o sistema de segurança mais avançado do mundo. Estou focado em aproximar o Álvaro da China e dos BRICS. Vamos trazer milhões em investimentos pra BH", afirmou.
O vereador faz parte do grupo interno do secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira, e tem mostrado participação no tema dentro da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Segundo ele, recentemente, foi responsável pela indicação do chinês naturalizado brasileiro Qu Cheng para o cargo de assessor especial da secretaria municipal de Relações Institucionais.
Apesar de já ter afirmado a O TEMPO que a relação com a bancada continua normal após se integrar à Família Aro - grupo com posições políticas não alinhadas à esquerda - outra ausência na nota de repúdio foi a do vereador Wagner Ferreira (PV). Segundo a assessoria do vereador, ele não foi convidado nem consultado sobre a assinatura.
Nota de repúdio
A nota de repúdio da "bancada de esquerda" é assinada pelos vereadores Dr. Bruno Pedralva (PT), Pedro Patrus (PT), Luiza Dulci (PT), Juhlia Santos (PSOL), Cida Falabella (PSOL) e Iza Lourença (PSOL). No texto, os parlamentares afirmam ter recebido com “surpresa” e “indignação” a notícia da viagem de Álvaro Damião a Israel, onde o prefeito participa do evento “Projetos Municipais para a Segurança Pública e o Desenvolvimento Local”.
Segundo publicação oficial, a ida do prefeito é a convite da Embaixada de Israel, enquanto o secretário de Segurança Pública, Márcio Lobato, acompanha o prefeito na viagem no mesmo período, que está registrada como "com ônus parcial para o município de Belo Horizonte".
Na nota, os vereadores destacam que "a visita se dá em meio a sucessivos ataques ao povo palestino, que vive em condições sub-humanas em Gaza", e lembram da detenção da ativista Greta Thunberg e do brasileiro Thiago Ávila após tentarem levar ajuda a Gaza de barco. "Israel segue cometendo crimes de guerra sem receber qualquer punição", denunciam.
"Rejeitamos qualquer estreitamento de relações com um governo que viola direitos humanos, impedindo ações humanitárias e sequestrando cidadãos, e reafirmamos nosso compromisso com a defesa dos direitos humanos e com a justiça social. Em 18 meses, são mais de 50 mil palestinos mortos e 113 feridos".
"Além disso, as forças israelenses estão destruindo todos os meios de vida para os palestinos em Gaza por meio de táticas de guerra físicas e psicológicas. Deslocamentos forçados de mais de 1 milhão de pessoas são parte da campanha de limpeza étnica operada por Israel em relação à população palestina, que não tem para onde ir e padece sem acesso a alimentos, água e medicamentos"
Para os vereadores, as políticas de segurança do país não pode ser um exemplo para a capital mineira. "O modelo de segurança pública e as tecnologias desenvolvidas e empregadas por Israel são utilizados para a destruição em massa do povo palestino, inclusive crianças e bebês. Nota-se, ainda, a insistência reiterada do governo israelense em desrespeitar tratados internacionais e manifestações da Organização das Nações Unidas e de outros organismos internacionais que condenam o genocídio que está em curso na Palestina".
"Na contramão desse modelo, o Brasil luta há décadas pela consolidação de um sistema de segurança pública democrático e cidadão, que valorize os direitos humanos, a autodeterminação dos povos e a defesa da paz, conforme atesta nossa Constituição Federal", avaliam.
"Da mesma forma, as diretrizes do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania orientam que União, Estados e Municípios adotem políticas e ações de promoção dos direitos humanos, intensificando uma cultura de paz, de apoio ao desarmamento e de combate sistemático aos preconceitos de gênero, étnico, racial, geracional, de orientação sexual e de diversidade cultural", continuam.
"Nos perguntamos: que tipo de aprendizados pretende o prefeito adquirir para empregar em nossa cidade? Ao invés de ódio, racismo e repressão, Belo Horizonte precisa de mais cidadania, respeito à diversidade e inclusão", finalizam o comunicado.