A presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Nely Aquino (PRTB), foi denunciada ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por ato de improbidade na administração pública. Segundo o documento, ela teria colocado um carro oficial de seu gabinete, além de dois funcionários de sua equipe, à disposição do seu filho, de 6 anos, para levá-lo e buscá-lo na escola todos os dias da semana. 

Para embasar a denúncia, foram anexados ao documento vídeos que monitoram a rotina do filho de Nely. As imagens foram as mesmas utilizadas nas ameaças contra a presidente da Casa, realizadas um dia antes da votação que cassou o vereador Cláudio Duarte (PSL), na última quinta-feira. “Eles pegarem as fotos do vídeo que utilizaram para me coagir e me ameaçar, para fazer denúncia no MP. Chega a ser vergonhoso”, disse Nely durante a reunião plenária de ontem. 

A presidente da Câmara afirmou que se apresentou ao MPMG e se colocou à disposição para prestar esclarecimentos. “Sou servidora pública e tenho que ser investigada. Estou à disposição como presidente do Legislativo, coloco meu nome à disposição do Ministério Público, da Polícia Civil e de todas as instituições. Essas intimidações não me fazem tremer. Então, se o intuito é fazer com que eu recue ou trema, estão enganados”, disparou a vereadora. 

O documento alega que a parlamentar vem obtendo enriquecimento, uma vez que, ao se utilizar do carro e da mão de obra que são pagos com recursos públicos, leva vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo. “Em vez de contratar serviço particular de transporte com motorista e uma babá para acompanhar seu filho, a vereadora Nely Aquino tem utilizado veículo oficial, bem como o trabalho de servidores públicos. Assim ela tem se locupletado com a economia, bem como realizado a conduta típica do crime chamado ‘peculato de uso’, sendo que a notícia que se tem é que tais atos se iniciaram no começo do calendário escolar de 2019, após a vereadora ser eleita presidente da CMBH”, diz a denúncia. 

Nely contou que a Câmara ainda não foi notificada. “Assim que for, responderemos a todas notificações, e eu estou à disposição de todos os Poderes para responder a todos os questionamentos”, disse. Ainda durante a sessão, Nely afirmou que a “instituição tem que zelar” pela segurança de seu filho. Ela declarou que sofreu diversas ameaças, durante muito tempo, por causa de sua atuação na presidência da Casa. 

Nos bastidores da Câmara, a informação era que a denúncia teria partido do vereador cassado Cláudio Duarte (PSL). A coluna entrou em contato com o parlamentar afastado, que negou ser o autor da acusação e declarou que a ação teria partido de seus assessores na Casa. “Não partiu de mim, é coisa dos meus assessores”, disse Duarte, indicando o nome de um dos ex-funcionários lotados no gabinete dele. O Aparte procurou o servidor citado pelo ex-parlamentar, que também negou ser o autor do documento. Segundo o assessor de Duarte, a denúncia ao MPMG foi “feita de forma anônima”. Ao ser questionado sobre o nome dele ter sido citado como autor pelo próprio vereador cassado, o ex-assessor afirmou que tinha cópia da denúncia na íntegra, mas voltou a afirmar que o autor não era ele nem saberia dizer quem é. 

Nely não estaria sendo o único alvo do grupo de Duarte. Desde o início da semana, a antiga equipe dele estaria atuando nos bastidores divulgando processos trabalhistas envolvendo o presidente da Federação dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado de Minas Gerais (Fettrominas), Ronaldo Batista (PMN), que assumiu a vaga do parlamentar cassado na Câmara Municipal.

O vereador Jair Di Gregório (PP) também sofreu ameaças no dia anterior à votação da cassação de Duarte. As intimidações contra Gregório são originadas do mesmo número de telefone que enviou as mensagens ameaçadoras para Nely Aquino.