BRASÍLIA — Sem posição pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a PEC do Semipresidencialismo, a bancada do PT na Câmara dos Deputados optou por não aderir à proposta, que angariou o apoio de partidos do centrão e da oposição.
O autor, deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), protocolou o texto na última quinta-feira (6) e aguarda resolução do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para o início da tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A perspectiva é que a movimentação aconteça em março.
A opinião dos petistas em relação à PEC não foi demonstrada apenas com a rejeição em assiná-la, como também foi expressa em declaração da presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR). No domingo (9), ela criticou a proposição repetindo argumentos que têm ganhado coro entre parlamentares da bancada.
“O povo brasileiro já rejeitou o parlamentarismo em dois plebiscitos. Mesmo disfarçada de 'semipresidencialismo', a proposta que voltou a circular na Câmara visa tirar da maioria da população o direito de eleger um presidente com poderes de fato para governar”, publicou no X. “Quem tem um 'semipresidente', não tem presidente nenhum”, completou.
O povo brasileiro já rejeitou o parlamentarismo em dois plebiscitos (1963 e 1993). Mesmo disfarçada de “semipresidencialismo”, a proposta que voltou a circular na Câmara visa a tirar da maioria da população o direito de eleger um presidente com poderes de fato para governar. Quem…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) February 9, 2025
Apesar da indisposição do principal partido da base em relação à PEC, o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) avalia que há ambiente na Câmara dos Deputados para discutir a proposição. Cotado como relator, ele rejeita a pecha de 'golpista' para a proposta.
“Vários deputados do PT disseram: 'prefiro não assinar, não sei qual será a posição do Lula'. Mas, tenho certeza que o PT não vai se furtar ao debate”, afirmou. “O Brasil hoje está amadurecido para enfrentar essa discussão. Vamos apresentar uma proposta sem nenhum tipo de desejo de golpismo. A gente quer consenso”, acrescentou.
Além do PT, outros quatro partidos não assinaram a PEC: Novo, Psol, PRD e Rede. Parlamentares das outras 15 legendas que compõem a Câmara dos Deputados aderiram à proposta, rendendo 181 assinaturas a ela; divididas assim:
- Republicanos: 36
- PL: 33
- União Brasil: 27
- PP: 23
- PSD: 16
- MDB: 14
- PSDB: 8
- PDT: 7
- Podemos: 6
- Avante: 3
- Cidadania: 2
- PSB: 2
- Solidariedade: 2
- PCdoB: 1
- PV: 1
Como começou?
As críticas ao presidencialismo ressurgem no Brasil com intervalos frequentes desde que a Constituição Federal de 1988 garantiu a implementação do modelo — defendido pela população em um plebiscito em 1993, que perguntou aos brasileiros se eles preferiam parlamentarismo ou presidencialismo e ainda república ou monarquia.
Na contramão da crítica de Gleisi, Lafayette argumenta que a PEC não confronta o resultado da consulta popular, mas, propõe um meio-termo para corrigir eventuais distorções no regime atual.
“Estamos propondo o semipresidencialismo porque o parlamentarismo foi derrotado”, explicou. “Qual é a grande vantagem? A criação da figura do primeiro-ministro sem mandato fixo. Se ele é bom, continua no cargo. Começou a desagradar? Tira. Mas, você tira de maneira natural e sem os rompimentos traumáticos do presidencialismo”, acrescentou.
Uma declaração recente do novo presidente da Câmara, Hugo Motta, estimulando que o Congresso debata o parlamentarismo, agitou defensores do modelo. No início do mês, a PEC alcançou o número mínimo de assinaturas, 171, para ser protocolada.
A proposição é fruto de outra PEC, que tramitou em comissão especial em 2001 e recebeu parecer favorável — de autoria, inclusive, do pai do deputado Lafayette Andrada, o então deputado Bonifácio de Andrada.
Remetida ao gabinete de Hugo Motta, a PEC aguarda um despacho do presidente da Câmara para começar a tramitar do zero. Inicialmente, é necessário que ele a envie para análise da Comissão de Constituição e Justiça, que avaliará se a proposta é constitucional ou não.
Depois, o regimento determina a criação de uma comissão especial, que produzirá um relatório sobre o texto — podendo, inclusive, alterá-lo. A proposta só chega à votação no plenário quando é aprovada nesse colegiado criado com o único objetivo de analisá-la.
O que mudaria?
O presidencialismo implementado pela Constituição impõe a concentração dos poderes de chefe de Estado e chefe de Governo nas mãos do presidente da República.
Ele reúne, portanto, todas as competências que cabem ao Poder Executivo — enquanto as outras funções são distribuídas entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, representados pelo Congresso Nacional e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente é eleito pelo sistema majoritário e em votação popular para cumprir um mandato de quatro anos, podendo concorrer a uma reeleição.
A PEC propõe a divisão dos poderes do Executivo entre o presidente eleito pelo voto popular e o primeiro-ministro — designado pelo próprio presidente.
Ao premiê caberia a função de elaborar um plano de governo e controlar o orçamento. Ele responderia a um comitê de ministros, indicado por sugestão dele próprio ao presidente, e ao Congresso Nacional.
Outras funções caberiam ao presidente, como a possibilidade de dissolver a Câmara dos Deputados em ocasiões extraordinárias. Outro encargo dele seriam as indicações para cargos nas grandes instituições do país — STF, Procuradoria-Geral da República (PGR) e Advocacia-Geral da União (AGU), por exemplo.
O presidente também poderia decidir sobre vetos e sanções às propostas aprovadas pelo Legislativo — como ocorre hoje.