BRASÍLIA — As movimentações dos partidos ganham corpo a pouco mais de um ano das eleições. Enquanto as siglas com bancadas pequenas no Congresso Nacional discutem estratégias para sobreviver às votações, os gigantes da Câmara e do Senado buscam abocanhar uma fatia ainda maior de poder. A conta é simples: quanto mais deputados, mais força um partido tem — é assim que ele engole as melhores comissões e cobiça um pedaço maior do orçamento.
A solução mais rápida e prática discutida pelos partidos é a federação. Esse instrumento é mais que eleitoral. Uma federação é a união de dois ou mais partidos, e esse casammento dura, obrigatoriamente, pelo menos quatro anos. Eles mantêm os próprios nomes e as suas identidades, mas, quando federados, começam a trabalhar juntos no Congresso.
A movimentação mais recente nesse sentido foi a federação entre União Brasil e PP. Unidos, os partidos passam a responder por 109 deputados e 14 senadores. A mudança garante a eles a maior bancada da Câmara, ultrapassando os 90 deputados do PL e os empata com o PSD no Senado.
O ganho expressivo de força da federação União e PP provocou reações entre os outros partidos do Centrão e resultou em novas costuras. A principal delas neste momento ocorre entre MDB e Republicanos. Hoje, os partidos presididos por Baleia Rossi (MDB) e Marcos Pereira (Republicanos) têm 44 deputados na Câmara, cada — são 88 juntos. No Senado, MDB ocupa 11 cadeiras, e o Republicanos, 4.
O tamanho das bancadas não é o único trunfo: enquanto União Brasil ocupa a presidência do Congresso com Davi Alcolumbre (AP), o Republicanos é dono do principal assento da Câmara — a presidência com Hugo Motta (PB). Esses quatro partidos também competem por espçao na Esplanada dos Ministérios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Lideranças do Republicanos têm dito que as conversas com o MDB estão avançadas, e a tendência é que os partidos optem, de fato, por uma federação. A ação é inevitavelmente uma resposta à atitude de União Brasil e PP, e mais: deputados avaliam que é uma estratégia para reequilibrar as forças na Câmara.
Para outros partidos, entretanto, a federação é uma estratégia para driblar a cláusula de barreira. A regra, que também é chamada de cláusula de desempenho, reduz o acesso de partidos pequenos a uma série de benefícios — tempo de televisão e dinheiro do Fundo Partidário, por exemplo. Ela define que só os partidos que atingem uma quantidade mínima de votos ou elegem um número mínimo de deputados podem ter acesso a esses recursos.
As federações viram um trunfo para contornar essa cláusula porque, pela regra, os partidos unidos são tratados como uma legenda só. Essa foi a opção feita por PSDB e Cidadania na última eleição. Sozinhos, os tucanos elegeram 13 deputados; o Cidadania, 5. Unidos, eles conseguiram atingir o número mínimo e puderam ter acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda eleitoral — o que não teria acontecido sem a federação.
Os partidos, entretanto, optaram pelo divórcio neste ano e não seguirão juntos nas eleições em 2026. O Cidadania está à procura de outras legendas para se federar. O PSDB escolheu uma solução mais radical: a fusão. Assim, o partido pretende se fundir ao Podemos; e os dois se tornarão um partido novo. A diferença entre fusão e federação é que na fusão os partidos deixam de existir para se tornar uma legenda nova — como aconteceu quando DEM e PSL se uniram para criar o União Brasil.
O fato de a federação respeitar a individualidade dos partidos e ser reversível a torna mais atraente para a maior parte das siglas. E é nela que algumas legendas pretendem apostar suas fichas para a próxima eleição. O PDT avalia internamente a possibilidade de se federar com PSB ou Cidadania. Deputados do partido cogitaram ainda uma federação com o PT, mas a ideia foi descartada de cara. Lideranças do PDT avaliam que o partido não deve se federar com siglas maiores e defendem que o melhor caminho é sempre optar por legendas que têm o mesmo tamanho ou são menores. A indisposição recente entre PT e PDT com a crise no Ministério da Previdência pôs uma pedra sobre o assunto.