BRASÍLIA - O presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), repreendeu a oposição por ocupar plenários da Câmara e do Senado nesta terça-feira (5/8), impedindo que as sessões acontecessem. Alcolumbre evitou ir ao Congresso, mas o líder do governo, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), o procurou no início da tarde na residência oficial, em Brasília. 

A mensagem de Alcolumbre foi um recado direto à oposição. "A ocupação das mesas constitui exercício arbitrário das próprias razões, algo inusitado e alheio aos princípios democráticos", afirmou. "Faço, portanto, um chamado à serenidade e ao espírito de cooperação. Precisamos retomar os trabalhos com respeito, civilidade e diálogo", acrescentou. 

Apesar da bronca, o presidente prometeu uma reunião com os líderes para distensionar o clima no Congresso. "Realizarei uma reunião de líderes para que o bom senso prevaleça e retomemos a atividade legislativa regular, inclusive para que todas as correntes políticas possam se expressar legitimamente em sessões do Senado e da Câmara", encerrou. 

Minutos depois da declaração de Alcolumbre, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), quebrou o silêncio e se manifestou. Motta não passou o dia em Brasília, e só tem previsão de desembarcar na capital federal no período da noite. "Determinei o encerramento da sessão do dia de hoje e amanhã chamarei reunião de líderes para tratar da pauta, que sempre será definida com base no diálogo", publicou em uma rede social, seguindo o tom do presidente do Congresso.

Pressão por anistia e impeachment de Moraes 

A ação orquestrada pela oposição com a ocupação dos plenários da Câmara e do Senado é uma reação à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Pela manhã, deputados e senadores expuseram a estratégia: eles decidiram ocupar os plenários e impedir a realização das sessões marcadas para terça-feira. A medida deu certo. 

No Senado, para conter as manifestações, Alcolumbre determinou o fechamento do plenário, permitindo apenas a entrada dos próprios parlamentares. Na Câmara, por outro lado, houve indisposição e bate-boca entre deputados governistas e da oposição. Os parlamentares só começaram a se retirar das mesas após as declarações dos presidentes. 

A ação combinada ocorria com intuitos diferentes. A prioridade na Câmara era pressionar Motta a pôr para votação o projeto de lei que anistia réus dos atos de 8 de janeiro e beneficia Bolsonaro diretamente. No Senado, a busca é pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Vice-presidente da Câmara ameaça pautar anistia

O vice-presidente da Câmara, deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), ameaçou colocar a anistia para votação na ausência de Motta no comando da Câmara. Altineu era líder da bancada do Partido Liberal (PL) até assumir o cargo na direção da Câmara, e é quem detém o poder sobre a pauta na ausência de Motta. 

"Como primeiro vice-presidente da Câmara e do Congresso, sempre busquei equilíbrio e diálogo, e sempre respeitei o presidente Hugo Motta, que decide a pauta", afirmou Altineu nesta manhã. "Diante dos fatos que se apresentam, quero registrar que, no primeiro momento em que eu exercer a presidência plena da Câmara dos Deputados, portanto, quando o presidente Hugo Motta se ausentar do país, eu irei pautar a anistia", acrescentou. Altineu afirmou, ainda, que informou Motta sobre o que fará. 

A declaração reflete uma mudança na postura do vice-presidente. No início do ano, quando Motta se afastou do país, Altineu Côrtes assumiu interinamente o comando da Câmara e afirmou que, apesar de seu apoio pessoal à anistia, não colocaria a proposta para votação à revelia do presidente.