Para o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), a expressiva votação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Nordeste em 2022 está relacionada à taxa de analfabetismo na região.
“Só pega essa mapa e cruza com o mapa de onde o LULA teve mais votos por favor”, escreveu o parlamentar no Twitter, exibindo sob a legenda um vídeo com com índices do analfabetismo em todos os estados brasileiros. Ele credita a fonte ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de 2019.
Só pega essa mapa e cruza com o mapa de onde o LULA teve mais votos por favor pic.twitter.com/Erfq7YGpCQ
— Gustavo Gayer (@GayerGus) June 7, 2023
No entanto, eles trazem divergências tanto com o número mais recente divulgado pela Pnad quanto com os dados divulgados à época pelo próprio IBGE. Gayer também ignora que Lula venceu em Minas Gerais, estado com uma das taxas de analfabetismo mais baixas do país, assim como em metrópoles com o mesmo cenário.
A postagem do deputado goiano é seguida de comentários preconceituosos e xenófobos. Muitos seguidores inclusive sugerem uma campanha para separar o nordeste do resto do país.
Por outro lado, alguns comentários lembraram que Jair Bolsonaro (PL) teve quatro anos para mudar a situação e questionam o legado dele para a educação pública no país. Também lembram o bom desempenho dos estudantes nordestinos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e em competições nacionais de disciplinas como a matemática.
Também houve quem listou políticos eleitos nas regiões Sul e Sudeste e que acabaram denunciados e condenados pelos mais diversos crimes. Muitos destacaram os ricos São Paulo de Paulo Maluf e Rio de Janeiro das sequentes cassações e prisões de governadores.
Ataque a enfermeiros na pandemia e lucro com fake news
Dono de uma escola de inglês em Goiânia, Gustavo Gayer, que tem 42 anos, está no primeiro mandato de deputado federal. Ele foi eleito na onda conservadora. Ganhou notoriedade no estado com vídeos elogiando o governo de Jair Bolsonaro e atacando minorias, especialmente o público LGBTQIA+. Suas redes sociais também são conhecidas pela disseminação de fake news, com as quais ganha muito dinheiro.
Em outubro de 2022, a Justiça de Goiás mandou Gustavo Gayer publicar um vídeo de retratação por divulgação de mentiras durante a pandemia da Covid-19. Ele já havia sido condenado por divulgar tais informações falsas sobre as medidas tomadas pela Prefeitura de Goiânia diante da pandemia, mas entrou com recurso contra a decisão.
No início de maio de 2020, Gayer foi a um ato de enfermeiros na Esplanada dos Ministérios, homenageando os colegas mortos após contraírem Covid-19. Gayer espalhou nas redes sociais que tudo era falso, organizado por gente que fingia ser profissional da saúde. Na mesma manifestação vários enfermeiros foram agredidos por apoiantes de Bolsonaro.
Levantamento realizado pela Google e entregue à CPI da Covid-19 em junho de 2021 mostrou que o canal de YouTube de Gayer foi o segundo que mais lucrou com vídeos disseminando notícias falsas sobre a pandemia. Ele ganhou quase US$ 8 mil (cerca de R$ 40 mil) com 56 vídeos contendo fake news, ficando atrás apenas do canal do jornalista Alexandre Garcia.
O Facebook e o Youtube tiveram que remover uma série de vídeos de Gustavo Gayer atacando o sistema eleitoral brasileiro com informações falsas sobre a segurança das urnas. Ele chegou a divulgar de maneira distorcida duas declarações do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, levando falsamente a crer que o magistrado já havia sido favorável ao voto impresso, quando na verdade sempre foi contrário.
Gayer também está na mira das investigações sobre os atos criminosos de 8 de janeiro. Ele fez pagamentos com verba da cota parlamentar à empresa de um amigo e político que participou da invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Entre março, abril e maio deste ano, a Goiás Online Comunicações e Marketing Publicitário Ltda. recebeu, no total, R$ 24 mil por “publicidade das redes sociais”, conforme reportagem do portal Metrópoles.
Acusado de culpa em acidente com mortes e irmão condenado por homicídio
Gustavo Gayer é de uma família de políticos. Ele é filho da delegada, ex-vereadora e ex-deputada estadual Maria da Conceição Gayer. Falecida em dezembro de 2006, ela militou contra a ditadura militar no início dos anos 1980. Segundo declarou em entrevista, em outubro de 2020, seu pai abandonou a mãe ainda grávida, tendo sido criado por um irmão LGBTQIA+, dez anos mais velho.
Por causa desse irmão, ele prometeu, em 2020, durante campanha à Prefeitura de Goiânia pelo Democracia Cristã (DC), criar políticas de apoio à comunidade LGBTQIA+ caso fosse eleito. No seu plano de governo, no entanto, Gayer afirmava ser contra a ideologia de gênero, o que reforçou na corrida por uma cadeira na Câmara dos Deputados. Em tempo: em 21 de outubro de 2020, teve sua candidatura a prefeito indeferida pelo TRE de Goiás devido à ausência de certidões criminais de 1º grau da Justiça Estadual e Federal para o vice-prefeito, Alexandre Magalhães, não havendo, por isso, condições de registrabilidade.
Gayer é irmão do também empresário Frederico Gayer Machado de Araújo, casado com a deputada estadual do Tocantins pelo PR, Luana Ribeiro, filha do senador João Ribeiro. Em março de 2014, Frederico Gayer foi condenado a 12 anos e seis meses de prisão por homicídio qualificado, pela morte de Hebert Resende, na madrugada de 5 de abril de 1997, em frente à boate Draft, em Goiânia. À época Frederico Gayer exercia as funções de policial, nomeado pelo governo de Goiás sem ser concursado.
Na Câmara, Gustavo Gayer trava uma batalha pessoal com Silvye Alves (União-GO) – ambos são pré-candidatos a prefeito de Goiânia. Em bate boca, a deputada lembrou de um acidente ocorrido em 2000, no qual Gayer era o motorista do carro. Duas pessoas morreram no episódio. Por causa da declaração, Silvye disse ter sido ameaçada por pessoas ligadas a Gayer. O União Brasil pediu ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), escolta policial para a deputada.
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