BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) telefonou para a presidente do México, Claudia Sheinbaum, na quarta-feira (23). A conversa aconteceu em um contexto de crise comercial e diplomática entre o Brasil e Estados Unidos pelo tarifaço de 50% – Sheinbaum também foi alvo do presidente norte-americano Donald Trump no início deste ano.
O contato foi divulgado por meio de nota pelo Palácio do Planalto. O comunicado diz que Lula “ressaltou a importância de aprofundar as relações econômicas e comerciais” entre Brasil e México, “principalmente diante do atual momento de incertezas”.
A partir disso, foi acordada a visita oficial do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) ao México em 27 e 28 de agosto, em uma comitiva com empresários e outros ministros do governo Lula. Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, tem liderado as negociações brasileiras em reação ao tarifaço de Trump.
"Como resultado da visita, Lula propôs o início de negociações para ampliar acordo comercial Brasil-México, que favoreça a expansão do fluxo comercial entre os dois países. A presidenta Claudia e o presidente Lula destacaram os setores da indústria farmacêutica, agropecuária, de etanol, biodiesel, aeroespacial, bem como de inovação e educação como áreas estratégicas na relação bilateral”, completa a nota.
A conversa também foi divulgada por Sheinbaum. “Esta tarde, falei por telefone com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva; demos continuidade ao acordo para receber autoridades e líderes empresariais brasileiros no México, com o objetivo de aprofundar nossa colaboração em vários assuntos”, publicou no X na quarta-feira.
Trump anunciou que irá cobrar ampliar a taxa de exportações brasileiras aos EUA em 50% a partir de 1º de agosto. A sanção comercial tem motivação política, pois foi acompanhada de citações diretas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para Trump, Bolsonaro é alvo de uma “caça às bruxas” por ser réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
A última ofensiva do presidente dos EUA contra o México foi um tarifaço de 30%, anunciado em 12 de julho, que também prejudica as exportações de produtores mexicanos. Trump também tem criticado as ações contra o narcotráfico, indicando que cartéis “têm um controle muito forte sobre o México” e que ele não pode permitir esse cenário.
Como resposta, Sheinbaum disse que Trump precisa “estar bem-informado” e “admitir que [os EUA] têm um problema sério com o consumo de drogas”. “Enquanto os EUA não reconhecerem o quanto a juventude deles está viciada, nada vai mudar. Isso não é só questão da polícia, da Guarda Nacional ou do Exército”, declarou.
Além disso, depois que tomou posse em janeiro, Trump iniciou uma disputa pelo Golfo do México. O presidente dos EUA assinou uma proclamação para que a bacia oceânica passasse a se chamar Golfo da América, e Sheinbaum sugeriu, depois, que os Estados Unidos fossem rebatizados de "América Mexicana".
A mudança para Golfo da América foi acatada por plataformas como o Google, que foi alvo de processo do México após mudar o nome do Golfo do México em seus mapas virtuais.