‘Sem previsão’

Ausência de Lula em MG gera críticas de caciques do PT e tensão no Planalto

“Do mesmo jeito que existe aquela campanha: ‘O Acre existe’, sabe? Tem a campanha Minas Gerais existe, contou um interlocutor à reportagem

Por Manuel Marçal | Renato Alves
Publicado em 15 de janeiro de 2024 | 13:47
 
 
 
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A falta de previsão de agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Minas Gerais tem irritado os caciques do Partido dos Trabalhadores no Estado e também de auxiliares no Palácio do Planalto. 

Nos bastidores, interlocutores contam que já se queixaram com os responsáveis por fechar a agenda prioritária do petista de que é preciso ter compromissos oficiais em Minas Gerais. Mas, apesar dos alertas de que o Estado é o segundo maior colégio eleitoral do país e foi essencial para a vitória de Lula nas urnas, os apelos são ignorados.

E a preocupação de correligionários e de alguns governistas é justamente com o pleito e 2024, quando brasileiros vão eleger novos prefeitos e vereadores. Grandes cidades do país devem reproduzir o cenário de polarização de 2022, o que vai servir de termômetro para 2026. 

Conforme Lula havia anunciado, neste ano ele vai priorizar agendas pelo Brasil ao invés de compromissos no exterior – no primeiro ano do seu terceiro mandato, ele visitou 24 países em 15 viagens, ficando mais de dois meses fora. O plano prevê visitas a todos os Estados brasileiros já no primeiro semestre para acompanhar as entregas do governo.
 
Nesse sentido, Lula começa na próxima quinta-feira (18), em Salvador (BA), uma série de viagens que fará pelo Nordeste, região em que concentra sua maior popularidade. Além da Bahia, o petista passará por Ceará e Pernambuco. 

Caciques do PT de Minas Gerais esperavam que o petista iniciasse a peregrinação por Minas Gerais, o que não se concretizou. Desde que assumiu o terceiro mandato, o petista não pisou no Estado. Ano passado, uma agenda em Belo Horizonte chegou a ser preparada para o final de setembro e a base de apoio foi mobilizada.

Às vésperas, o compromisso no Estado foi cancelado, por causa da cirurgia no quadril de Lula, que ele postergou desde a campanha eleitoral. Uma comitiva de ministros do governo desembarcaram para uma maratona de atividades. O efeito não foi o mesmo. 

Em entrevista na manhã desta segunda-feira (15) ao Café com Política, da FM O TEMPO 91.7, o presidente do PT de Minas Gerais, Cristiano Silveira, disse que também aguarda o indicativo de quando o presidente irá ao Estado

“Boa pergunta. Estamos aguardando também. O presidente Lula já havia indicado que viria a Minas, mas em decorrência da cirurgia que ele teve que fazer, adiou. E agora a gente aguarda da equipe dele um indicativo de nova data. Ainda não tem”, afirmou.

Campanha no Planalto é por “Minas Gerais existe”


“Do mesmo jeito que existe aquela campanha: ‘O Acre existe’, sabe? Tem a campanha Minas Gerais existe”, contou irritado um interlocutor à reportagem de O TEMPO em Brasília. Ele não deu detalhes sobre que campanha seria essa, mas deu a entender que tem sido uma das vozes no Planalto para que o Estado seja inserido, o quanto antes, nas agendas do presidente da República. 
 
Sob a condição de anonimato, ele reportou ainda que já perdeu a paciência pela falta de retorno e ver que Minas Gerais não é contemplada na montagem das agendas do presidente da República. 

Segundo contou, os responsáveis por bater o martelo nas agendas oficiais no Palácio do Planalto não são tão próximos ao Estado e acabam, por assim dizer, contemplando outras regiões do país, a exemplo de São Paulo. 
 


Indefinição sobre futuro do PT na disputa pela PBH é apontada como um dos motivos


Um dos motivos apontados para demora de Lula em pisar na capital mineira seria uma indefinição do diretório nacional do PT se o partido vai seguir com o nome do deputado federal Rogério Correia para a disputa ou poderia se apoiar o nome do atual prefeito, Fuad Noman (PSD). 

Com isso, poderia se gerar um mal-estar na composição do palanque para anunciar obras. Cristiano Silveira, também em entrevista ao Café com Política, negou essa hipótese e ressaltou que agendas institucionais na capital mineira não podem se confundir com a de campanhas eleitorais. 

“A inauguração de uma obra evidentemente que é uma ação do governo federal com a prefeitura municipal. Cabe todo mundo. Não temos esse problema. O que for para Belo Horizonte do governo federal nós estaremos juntos na institucionalidade. Agora, a campanha é diferente. Tendo a candidatura do PT, evidentemente o presidente Lula terá sua posição que é do partido”, disse.
 
Fontes do Palácio do Planalto, no entanto, acreditam que ainda é muito embrionária uma aliança com Fuad. Isso porque o nome dele não é unanimidade dentro do próprio partido e nem do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD). 

Nesse sentido, avaliam que uma candidatura própria ganha peso, pelo menos em um primeiro turno. Contudo, é comentado nos bastidores do governo que Rogério Correia e outros nomes da sigla não têm conseguido fechar uma agenda com Lula.
 
Para esse interlocutor, é “um absurdo a falta de previsão de agendas para Minas Gerais”, uma vez que, na avaliação dele, a polarização nacional vai se repetir não apenas na capital paulista, mas também em Belo Horizonte. 
 
O deputado estadual Bruno Engler (PL), por exemplo, já se declara pré-candidato à PBH desde maio de 2023, quando afirmou ter o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Engler também foi candidato ao executivo municipal nas eleições de 2020.
 
Atualmente, a maior cidade do país comandada pelo PT é Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que tem Marília Campos à frente do executivo municipal. São mais de 660 mil habitantes, de acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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