Desaparecido

Bolsonaro diz que Dom era mal visto na Amazônia, deveria ter arma e mais atenção

Bolsonaro fez o comentário logo após o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, fazer a primeira manifestação pública sobre o caso e demonstrar preocupação com o paradeiro do jornalista britânico

Por Renato Alves
Publicado em 15 de junho de 2022 | 12:30
 
 
 
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Logo após o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, fazer a primeira manifestação pública sobre o caso e demonstrar preocupação com o paradeiro do jornalista britânico Dom Phillips, desaparecido na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o correspondente estrangeiro "era mal visto na região" porque fazia reportagens contra criminosos e que deveria ter tido mais atenção "consigo próprio".

"Esse inglês era mal visto na região, porque fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental, então, naquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais que redobrada atenção para consigo próprio e resolveu fazer uma excursão. A gente não sabe se alguém viu e foi atrás dele, lá tem pirata no rio, lá tem tudo que possa imaginar lá", disse o presidente à jornalista Leda Nagle, nesta quarta-feira (15).

Bolsonaro afirmou ainda que Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira, que desapareceu com o jornalista, deveriam estar armados para se protegerem na Amazônia. Ambos não dão notícias desde 5 de junho, quando estavam no Vale do Javari, no estado do Amazonas.

"É muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado pela Funai, que pelo que parece não estavam", ressaltou Bolsonaro. 

O presidente disse também que tudo indica que Dom e Bruno foram mortos.

“Você pode ver, pelo que tudo indica, mataram os dois, espero que não, estão dentro d’água, e dentro d’água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha no Javari. A gente lamenta, pede que nada tenha acontecido."

Há uma semana, em sua primeira declaração sobre o caso, Bolsonaro afirmou que Dom e Bruno haviam se metido em uma "aventura".

Bruno Pereira está licenciado da Funai há três anos, desde que foi exonerado de uma função na gestão de Bolsonaro, justamente por ir contra a política do atual governo, que tem defendido o garimpo e outras ações extrativistas na Amazônia, ao mesmo tempo que esvazia órgãos de fiscalização, como a Funai, diminuindo verbas e colocando militares no lugar de servidores de carreira para exercer funções de chefia.

Já Dom Phillips, que escreve regularmente pata o jornal britânico The Guardian, estava na Amazônia para apuração de um livro sobre as amaeças à florestas e aos povos que nela vivem.

Boris Johnson fala em preocupação e ajuda ao governo brasileiro

Em sua primeira manifestação pública sobre o caso, Boris Johnson, disse no parlamento do seu país, também nesta quarta-feira, que  está "profundamente preocupado" com o que pode ter acontecido com Dom Phillips.

Johnson disse ao parlamento britânico que ofereceu ajuda ao Brasil e que o Reino Unido está pronto para dar suporte ao governo brasileiro nas operações de busca a Dom Phillips e a Bruno Pereira. 

Bolsonaro não comentou as declarações de Boris Johnson. Ele sequer foi questionado por Leda Nagle, apontada como simpatizante do presidente e defensora de teorias negacionistas sobre a Covid-19.

Itamaraty pediu desculpas à família de Dom Phillips

A embaixada do Brasil no Reino Unido chegou a comunicar à família de Dom, na segunda-feira (13) que policiais federais haviam encontrado os corpos da dupla.

No mesmo momento, Bolsonaro fez uma declaração falando que tudo levava a crer que ambos haviam sido vítimas de um crime bárbaro. 

No entanto, em seguida, a PF desmentiu o presidente e o Itamaraty, que no fim do dia voltou atrás e pediu desculpas formais à família do jornalista.

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