BRASÍLIA - Em depoimento à Polícia Federal e ao Supremo Tribunal Federal (STF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, confirmou que o general Walter Braga Netto pressionou o pai de Mauro Cid para tentar obter informações sobre o seu acordo delação. 

Além disso, confirmou que o ex-ministro no governo Jair Bolsonaro entregou dinheiro para a Operação Punhal Verde e Amarelo. 

"Delegado: Por telefone ligava para tentar obter informações do acordo de colaboração?  
MAURO CID: Isso, logo depois que eu fui solto naquele burbuinho, inicialmente. E não houve, aquelas perguntas, aquelas respostas que estavam lá, obviamente não confirmam o que eu falei na colaboração. Então talvez intermediários pudessem estar tentando chegar perto de mim, até pessoalmente, para tentar entender o que eu falei, querer questionar, mas como eu não podia falar, eu meio que desconversava e ia para outros caminhos, para não poder revelar o que foi falado.  
Delegado: O senhor confirma que ele tentou obter informações do acordo de colaboração, do General BRAGA NETTO?  
MAURO CID: Isso”. 

Segundo o ministro Alexandre de Moraes, do STF, investigações da PF revelaram que Braga Netto obteve e entregou recursos para a operação Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio ministro Alexandre de Moraes. Além disso, a casa do general em Brasília foi usada como local de reunião pelo grupo que discutia a trama. 

No entanto, em depoimento à PF, em março, Cid afirmou que, durante a reunião, foi discutida a "conjuntura nacional do pais, os pedidos de intervenção", entre outros assuntos. Mas no dia 21 de novembro, ao STF, ele confirmou que Braga Netto entregou dinheiro para a ação.

“O general repassou diretamente ao então Major RAFAEL DE OLIVEIRA dinheiro em uma sacola de vinho, que serviria para o financiamento das despesas necessárias a realização da operação”, afirmou Mauro Cid, em depoimento. 

A decisão de Moraes, de determinar a prisão preventiva do general neste sábado (14), por obstrução da Justiça, foi embasada nas declarações dadas por Mauro Cid.  Além da tentativa de atrapalhar as investigações, Moraes cita provas robustas da participação do ex-ministro do governo Bolsonaro na tentativa de golpe.  

“Conforme detalhado pela Polícia Federal, há diversos elementos de prova que evidenciam que WALTER SOUZA BRAGA NETTO atuou, dolosamente, para impedir a total elucidação dos fatos, notadamente por meio de atuação concreta para a obtenção de dados fornecidos pelo colaborador MAURO CÉSAR BARBOSA CID, em sua colaboração premiada, ‘com o objetivo de controlar as informações fornecidas, alterar a realidade dos fatos apurados, além de consolidar o alinhamento de versões entre os investigados”, diz trecho da decisão do magistrado. 

Moraes citou ainda como prova documento encontrado durante busca e apreensão da Polícia Federal na sede do Partido Liberal (PL), em Brasília. 

"Além dos elementos anteriormente conhecidos, houve apreensão de documento na sede do Partido Liberal relativo ao acordo de colaboração de Mauro César Barbosa Cid, a indicar que os investigados interpelaram o colaborador, ainda que por intermédio de seu genitor, para que revelasse o teor de seus depoimentos e assegurasse que a participação dos investigados não fosse integralmente revelada", acrescenta. 

Em outra frente, Moraes destaca a atuação de Braga Netto para pressionar os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano para impedir a posse do presidente Lula. 

“Além disso, também foram identificados fortes e robustos elementos de prova que demonstram a participação ativa, ao longo do mês de dezembro de 2022, do General BRAGA NETTO na tentativa coordenada dos investigados de pressionarem os comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito. Conforme consta nos autos, BRAGA NETTO utilizou o modo de agir da milícia digital, determinando a outros investigados que promovessem e difundissem ataques pessoais ao General FREIRE GOMES e ao Tenente-Brigadeiro BAPTISTA JÚNIOR, além de seus familiares”. 

Entenda

A PF indiciou 40 pessoas na trama que teria atuado para instaurar o golpe de Estado em 2022. Na lista, além de Braga Netto, estão o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e nomes de seu entorno. 

O relatório da PF com as informações foi enviado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes à Procuradoria-Geral da República (PGR), que ainda analisa se oferece denúncia sobre o caso. Caso decida que sim, os indiciados podem se tornar réus. 

A casa de Braga Netto, em Brasília, foi usada como local de reunião pelo grupo que discutia a trama. Agentes da PF também descobriram que, em meio à tentativa de golpe, militares das forças especiais do Exército, chamados de "kids pretos", planejaram o homicídio de Lula, Alckmin e Moraes.

Indiciados

Foram indiciados pela PF em 21 de novembro 37 pessoas envolvidas na tentativa de golpe identificada nas investigações. Em 11 de dezembro, mais três pessoas foram indiciadas, completando a lista com 40 nomes. Veja todos abaixo:

Ailton Gonçalves Moraes Barros                  
Alexandre Castilho Bitencourt da Silva        
Alexandre Rodrigues Ramagem                      
Almir Garnier Santos                                        
Amauri Feres Saad                                                
Anderson Gustavo Torres                                
Anderson Lima de Moura                                
Angelo Martins Denicoli                    
Aparecido Andrade Portella            
Augusto Heleno Ribeiro Pereira                  
Bernardo Romao Correa Netto                  
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha              
Carlos Giovani Delevati Pasini                      
Cleverson Ney Magalhães                            
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
Fabrício Moreira de Bastos                          
Filipe Garcia Martins                                      
Fernando Cerimedo                                        
Giancarlo Gomes Rodrigues                        
Guilherme Marques de Almeida                  
Hélio Ferreira Lima                                          
Jair Messias Bolsonaro                                
José Eduardo de Oliveira e Silva                  
Laercio Vergilio                                              
Marcelo Bormevet                                          
Marcelo Costa Câmara                                  
Mario Fernandes                                              
Mauro Cesar Barbosa Cid                                              
Nilton Diniz Rodrigues                                  
Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira            
Rafael Martins de Oliveira         
Reginaldo Vieira de Abreu
Rodrigo Bezerra de Azevedo                  
Ronald Ferreira de Araujo Junior              
Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros          
Tércio Arnaud Tomaz                                    
Valdemar Costa Neto                                    
Walter Souza Braga Netto                          
Wladimir Matos Soares

Todos foram indiciados pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.