BRASÍLIA – Investigação da Polícia Federal (PF) aponta que agente a serviço da chamada “Abin Paralela” monitorou um homônimo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ou seja, o araponga seguiu os passos do alvo errado.
A informação consta no relatório final da PF sobre a “Abin Paralela”, divulgado nesta quarta-feira (18). Investigação apurou instrumentalização da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com intuito de beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o seu governo.
Entre outras coisas, investigadores identificaram três pesquisas a homônimo de Alexandre de Moraes em maio de 2019. “O Agente de Inteligência THIAGO GOMES QUINALIA realizou diversas pesquisas no sistema First Mile, dentre elas o homônimo do Exmo. Ministro Relator”, diz trecho do relatório remetido.
Thiago Quinalia, que em 2024 foi designado para o posto de auxiliar de adido na França, deveria ter retornado ao Brasil em abril de 2024, o que não ocorreu. Ele abandonou o cargo público e não há, conforme as investigações, informações sobre o paradeiro do ex-servidor.
O documento foi enviado ao STF, onde o caso está sob relatoria de Moraes. Nesta quarta, o ministro retirou o sigilo dos autos da investigação. Segundo a Corte, a decisão foi tomada após a constatação de vazamentos seletivos de trechos do relatório policial.
A investigação da PF gira em torno da utilização da Abin para o monitoramento de opositores e adversários políticos de Jair Bolsonaro entre 2019 e 2021, sob a gestão do então diretor do órgão, Alexandre Ramagem, hoje deputado federal.
PF diz que Bolsonaro era 'principal destinatário' de ações da 'Abin paralela'
A PF diz que Jair Bolsonaro era o principal beneficiário das ações realizadas pela “Abin Paralela”. De acordo com o relatório divulgado nesta quarta, o ex-presidente era integrante do “núcleo político” da organização, ao lado de seu filho Carlos Bolsonaro (PL), vereador do Rio de Janeiro.
A PF concluiu que o vereador Carlos Bolsonaro idealizou a suposta estrutura clandestina de inteligência no governo anterior, “exercendo papel de comando na estratégia de desinformação e na articulação de estruturas clandestinas”.
“Carlos Bolsonaro teria idealizado a criação de uma estrutura paralela de inteligência por não confiar nas instituições oficiais”, diz trecho do documento. Ele era o “destinatário final dos produtos das ações clandestinas e principal beneficiário das ações delituosas”.
Mensagens acessadas pelos investigadores mostram, por exemplo, que uma assessora de Carlos Bolsonaro pediu ajuda ao então chefe da Abin, Alexandre Ramagem em inquéritos “envolvendo PR e 3 filhos”.
A PF indiciou na terça-feira (17) Carlos Bolsonaro e Alexandre Ramagem no inquérito que investiga o suposto uso ilegal de ferramentas na Abin para investigar autoridades.
A estrutura montada incluiu a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país.
De acordo com o relatório da PF, mesmo trabalhando na Presidência da República, os funcionários públicos integrantes da “Abin paralela” ainda estavam vinculados a Carlos Bolsonaro.
O documento diz também que esses servidores atuavam de forma alinhada aos interesses do vereador, mesmo fora da estrutura da Presidência.
“Do exposto, as evidências constantes nos autos, indicam a integração dolosa e consciente de CARLOS BOLSONARO na ORCRIM, atuando na guerra informacional, na articulação de estruturas paralelas de inteligência e produção de campanhas de desinformação”, diz a PF.
Ao todo, 36 pessoas foram indiciadas no caso. Na lista estão ainda nomes que integram a atual gestão da agência, como os delegados Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega e o corregedor-geral José Fernando Chuy. Todos eles são delegados de carreira da PF nomeados ao cargo no governo Lula. Procurada, a Abin não comentou.
Na tarde de terça-feira, Carlos Bolsonaro escreveu em sua rede social que o indiciamento seria uma ação ligada à movimentação para a eleição de 2026 e considerou não ser uma "coincidência".
“Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, disse, no X.