BRASÍLIA – A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) desembarcou no aeroporto de Roma, na Itália, na manhã de quinta-feira (5), pouco antes de ter o nome incluído na lista de foragidos internacionais da Interpol.

A Polícia Federal (PF) chegou a montar uma operação para prender a parlamentar, mas ela conseguiu passar pelo controle de migração antes de ter o nome na lista de difusão vermelha da Interpol.

Conforme integrantes da PF, Zambelli desembarcou no aeroporto de Roma por volta das 11h, mas seu nome foi inserido na lista da Interpol apenas às 12h45.

Desde então, integrantes da Interpol na Itália tentam descobrir o paradeiro dela, que pode ser presa em qualquer um dos 196 países que integram a Interpol.

Zambelli tem cidadania italiana. O governo brasileiro deve pedir a extradição da parlamentar, seguindo determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Moraes decretou a prisão preventiva de Zambelli na quarta-feira (4), atendendo pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), após a deputada anunciar, terça (3), que havia deixado o Brasil.

Zambelli foi condenada pelo STF a 10 anos de prisão por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2023. O hacker Walter Delgatti Neto recebeu uma pena de 8 anos e 3 meses de reclusão.

O Supremo ainda impôs multas individuais de cerca de R$ 2,1 milhão para a deputada e de aproximadamente R$ 520 mil para o hacker. Os valores exatos ainda serão calculados no processo.

Em live no Youtube na terça, a deputada disse que já estava na Europa havia alguns dias. Mas, desde então, a parlamentar tem mudado versões sobre a viagem, em especial sobre seu destino.

Ainda na terça, o marido da deputada afirmou, em entrevista à CNN Brasil, que ambos estavam nos Estados Unidos. Já na noite do mesmo dia, Zambelli disse, também à CNN, que estava na Flórida.

Na manhã desta quinta, o youtuber e empresário Paulo Figueiredo Filho, que mora nos EUA e é aliado de Zambelli, disse, em rede social, que ela “já está bem e em segurança na Itália”. 

Banco Central vai rastrear Pix feitos para Carla Zambelli

Além de ordenar a prisão de Zambelli, Moraes mandou abrir inquérito contra a deputada para apurar “suposta prática dos crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa”.

Para Moraes, Zambelli pretende adotar o “mesmo modus operandi” usado por Eduardo Bolsonaro para a “prática de condutas ilícitas”. O filho de Jair Bolsonaro se mudou para os EUA em março. Ele tem dito que busca sanções contra Moraes e outras autoridades brasileiras. Zambelli disse querer fazer o mesmo.

Na ordem para abertura de novo inquérito, Moraes pediu à PF que ouça Zambelli sobre os crimes investigados em no máximo dez dias, e afirmou que os esclarecimentos poderão ser feitos por escrito, já que ela está fora do país.

Moraes ainda mandou o Banco Central (BC) levantar todos os valores e os remetentes de transferências via Pix recebidas pela deputada. Zambelli recebeu ao menos R$ 285 mil de apoiadores, via Pix, antes de deixar o Brasil. 

A parlamentar dizia que a “vaquinha” virtual, organizada por ela mesma, visava pagar multas decorrentes de decisões do STF. Zambelli deu início à campanha de arrecadação em 19 de maio. 

No mesmo dia, ela publicou um extrato bancário com saldo de R$ 166 mil e disse que sua conta estava com R$ 14 mil negativos antes do início da arrecadação. Já em 21 de maio, a deputada anunciou que estava com R$ 285 mil em sua conta. 

Mesmo após deixar o Brasil, Zambelli continua pedindo Pix nas redes sociais. Ela ainda colocou os dados bancários na descrição de seus perfis. Também repassou a administração de suas redes sociais para sua mãe, Rita Zambelli. 

“Tomei a decisão de transferir oficialmente a titularidade das minhas redes sociais, como herança, para minha mãe, Rita Zambelli, uma mulher íntegra, de princípios sólidos, que carrega os mesmos valores que sempre defendi”, disse a deputada.

Zambelli ainda prosseguiu afirmando que sua mãe é também sua “pré-candidata a deputada federal no próximo ano, justamente para dar continuidade a essa luta que é de toda a nossa família e de milhões de brasileiros que se recusam a se curvar diante do autoritarismo”.

Câmara suspende pagamentos a Zambelli, após ela pedir licença

A Câmara dos Deputados publicou a licença de Zambelli na noite de quinta-feira. Com isso, ela deixará de receber salários de parlamentar. Em seu lugar assume o deputado Coronel Tadeu (PL-SP). 

Segundo a Casa, o pedido de licença de Zambelli chegou antes da decisão de Moraes que determinou o bloqueio dos vencimentos.

A Câmara concedeu sete dias de licença a Zambelli para “tratamento de saúde” – alegado por ela – e outros 120 dias para “interesse particular”. Ela fez o pedido em 29 de maio, antes de Moraes ordenar a prisão dela. 

“A decisão do STF foi recebida na quarta-feira e o bloqueio de valores nela previsto teve o cumprimento determinado pela presidência. A Câmara não foi notificada acerca dos demais itens da decisão, motivo pelo qual não há outras providências a serem tomadas até o momento”, disse a Casa.