BRASÍLIA - Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), Paulo Cunha Bueno, advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), negou nesta terça-feira (1º) que tenha atuado para conseguir detalhes da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.
No último dia 25, o ministro Alexandre de Moraes determinou o interrogatório de Fábio Wajngarten e de Paulo Cunha Bueno, por suspeita de tentativa de obstrução de investigações, ao tentar obter informações sobre a colaboração de Cid.
Cunha Bueno é um dos advogados da equipe de defesa de Jair Bolsonaro no STF. Wajngarten também foi advogado do ex-presidente e é ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República na gestão de Jair Bolsonaro.
Segundo Mauro Cid, advogados teriam feito abordagens indiretas ao delator, inclusive por meio de sua filha de 14 anos, com o objetivo de influenciar sua colaboração com as autoridades.
Ainda de acordo com depoimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Paulo Bueno e Luiz Eduardo Kuntz teriam abordado a mãe de Cid em um evento na Hípica de São Paulo para tentar convencê-la a influenciar o delator a mudar de defesa.
Bueno confirmou ao STF que foi apresentado a Agnes Barbosa Cid, mãe do tenente-coronel, na Sociedade Hípica Paulista, mas negou o conteúdo da conversa relatado por Cid. O advogado afirmou que “o encontro foi bastante breve, amistoso e absolutamente protocolar”.
De acordo com a defesa dele, Bueno e Cid se conheceram em março de 2023, pouco depois de o advogado ter assumido o caso das joias presenteadas pela Arábia Saudita.
Segundo o advogado dele, o contato à época foi necessário porque “parte do processo de recebimento, catalogação e encaminhamento de presentes oficiais, era de atribuição da pasta da Ajudância de Ordens, função por ele liderada durante o governo Bolsonaro”.
O relato diz ainda que Bueno manteve contatos esporádicos com o militar até a prisão de Cid, em maio de 2023, e depois só voltariam a se encontrar na sessão de interrogatórios da suposta trama golpista, em junho deste ano, “ocasião em que se limitou a um breve cumprimento com gesto de cabeça”.
O advogado de Bueno afirma que o tenente-coronel tenta impor outra narrativa diante de evidências de que violou seu acordo de colaboração.
Wajngarten ameaça processar quem o acusou
Em fala a imprensa, após o depoimento ao STF nesta terça-feira, Wajngarten afirmou que não tem participação com a suposta trama golpista e disse que pretende processar quem o acusou.
"As duas últimas linhas do meu depoimento eu repudio de forma veemente a acusação de tentativa de tumultuar, de desorganizar, de atrapalhar, embaraçar a investigação. Afirmo que estou estudando a possibilidade de ingressar com ações de denunciações caluniosas quem quer que seja".
"Não tenho pressa para isso, não vou meter os pés pelas mãos. Não vou tolerar injustiça", acrescentou.
Wajngarten não descartou que Mauro Cid possa ser um dos alvos dos processo.
Segundo o relato do ex-ajudante de ordens entregue à Polícia Federal, Cid afirmou que recebeu visitas na prisão, em maio de 2023, de Eduardo Kuntz, advogado do réu Marcelo Câmara, e de Fábio Wanjgarten.
"Que ao analisar o telefone celular de sua filha, identificou que os advogados Luiz Eduardo de Almeida Kuntz e Fábio Wajngarten estavam mantendo contato constante com sua filha menor G.R.C, por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram", aponta o relatório do depoimento de Cid.