BRASÍLIA - O líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, reagiu às sanções que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs aos produtos brasileiros nesta quarta-feira (9). Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o norte-americano criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e garantiu que os produtos brasileiros serão taxados em 50% nos Estados Unidos. A medida de retaliação começa a valer em 1º de agosto.

Lindbergh antecipou que o presidente Lula e seu núcleo-duro se reúnem nesta quarta-feira à noite para definir a posição que o governo adotará diante das medidas. O líder disparou críticas à posição de Donald Trump e avaliou que a imposição de sobretaxas às exportações brasileiras é um ataque às instituições e à democracia. O deputado disse que as sanções, entretanto, não serão suficientes para frear o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal.

"Eu não consigo lembrar na história de um ataque tão grande à soberania. Ao atacar o Supremo estão atacando uma instituição democrática brasileira, um poder independente", afirmou. "A resposta do Brasil será um país unido em apoio ao Supremo e ao julgamento independente. Não vai ser um governante de país estrangeiro que impedirá que a Justiça brasileira faça seu trabalho", completou.

O líder do PT também atribuiu ao deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a responsabilidade pelas sanções impostas ao mercado brasileiro. "Não tenho dúvidas de que seja uma articulação construída pelo Eduardo Bolsonaro", disparou.

Anúncio de Trump

Trump anunciou a decisão na tarde desta quarta-feira, em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ele, a medida foi tomada, entre outros motivos, pela forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em referência ao julgamento no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.

Ele também citou decisões do Supremo, sob relatoria de Alexandre de Moraes, que determinaram que empresas norte-americanas, como Rumble e X, retirassem conteúdos do ar e bloqueassem perfis. Para Trump, essas decisões representam censura e configuram ataques do Brasil contra eleições livres e contra a liberdade de expressão de cidadãos americanos.

“Como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, escreveu. 

Nos últimos dias, o presidente dos EUA já havia saído em defesa de Bolsonaro ao afirmar ele é alvo de uma “caça às bruxas”. O julgamento no STF trata de uma suposta tentativa de golpe de Estado liderada por Bolsonaro para continuar no poder depois de ter perdido as eleições em 2022. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente liderou uma organização criminosa, composta também por seus aliados políticos. 

Balança comercial

O endurecimento da política tarifária ocorre mesmo com a balança comercial entre os dois países sendo mais favorável aos EUA. Em 2024, considerando todos os setores, o Brasil exportou R$ 40,3 bilhões para os Estados Unidos. As importações de insumos norte-americanos, porém, somaram R$ 40,6 bilhões.

Trump argumentou que a tarifa de 50% é menor do que o necessário para se chegar a uma condição de igualdade. "E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual", escreveu. Após o aumento de taxas, Trump ameaçou novos aumentos, caso o governo brasileiro anuncie uma retaliação.

"Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos", ameaçou.

A tarifa de 50% só poderá ser revista, conforme o norte-americano, caso o Brasil decida abrir mercados comerciais que estão fechados aos Estados Unidos. Ele também colocou como condições a eliminação de tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais.

"Nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América", finalizou Trump. 

Procurado, o STF informou que não se posicionará sobre o comunicado de Trump. 

Queixas contra o Brics

A reação de Trump também tem como pano de fundo a reunião da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. O encontro reuniu representantes de 11 nações, entre elas o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em uma rede social, Trump disse que as políticas do Brics são 'antiamericanas'. 

Em sua declaração de líderes, divulgada no domingo (6/7), o Brics criticou medidas protecionistas adotadas no comércio global.  "Reiteramos nosso apoio a um sistema multilateral de comércio baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo, não discriminatório e consensual, com a OMC em seu núcleo, com tratamento especial e diferenciado (TED) para seus membros em desenvolvimento", destaca a declaração do Brics.

Pressão sobre produtos brasileiros

Com o anúncio de Trump, alguns setores da economia brasileira serão mais prejudicados. Entre eles estão as indústrias de alumínio e de aço, que já tinham uma alíquota de 25% estabelecida por Trump anteriormente. A nova taxação impõe, agora, uma tarifa de 75%. 

Do total de produtos comercializados com outros países pelo Brasil em 2024, cerca de 12% do volume total foi destinado aos EUA. Os principais produtos exportados à indústria norte-americana pelo Brasil são óleos brutos de petróleo, produtos semimanufaturados de aço e ferro, aviões e café.