O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou, em entrevista nesta segunda-feira (24), que investigação realizada pela Polícia Federal aponta que há outras pessoas envolvidas no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além dos três militares já presos.
“Sem dúvida há a participação de outras pessoas, isso é indiscutível. As investigações mostram a participação das milícias e do crime organizado do Rio de Janeiro no crime”, ressaltou Dino, ao lado do diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, na manhã desta segunda.
Dino convocou entrevista coletiva logo após o desencadeamento da operação desencadeada pela PF para prender o ex-bombeiro militar Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e cumprir mandados de apreensão em apuração sobre o duplo homicídio. O ministro afirmou que, nas próximas semanas, devem ocorrer outras operações contra alvos apontados nas investigações como mandantes do crime. Até agora, a PF mirava os executores.
O ex-policial militar Élcio de Queiroz confessou, em delação premiada, que dirigiu o carro usado nos assassinatos de Marielle e Anderson, e confirmou que o sargento da reserva da Polícia Militar Ronnie Lessa fez os disparos. O delator ainda entregou outro comparsa, o Suel, que teria sido o responsável por levantar informações sobre a rotina das vítimas. O depoimento de Maxwell já foi homolgado na Justiça fluminense, que autorizou a operação desta segunda.
Dino contou que a operação desta segunda ocorreu a partir de delação premiada realizada há cerca de 15 dias por Élcio, que está preso em penitenciária federal pelo homicídio. “Élcio Queiroz confirmou em delação premiada a participação dele próprio, do Ronnie Lessa e do Maxwell. Temos o fechamento desta fase, com a confirmação de tudo que aconteceu no crime. Há elementos para um novo patamar da investigação, que é descobrir os mandantes”, afirmou o ministro.
De acordo com Andrei Rodrigues, o ex-sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Corrêa participou antes, durante e depois do crime. Segundo o diretor-geral da PF, além de suporte logístico, Maxwell fez monitoramentos por meio de campanas e ainda destruiu uma das provas do homicídio — o carro que foi usado também para transporte de armas.
"O que posso adiantar é que essa pessoa (Maxwel) participou de ações de acompanhamento e vigilância da vereadora e também do apoio logístico, com integração com os demais atores dessa cadeia criminosa percorrida. Então ele teve um papel importante nesse contexto inteiro, antes, durante e depois do caso, com a questão do carro. Para utilizar uma expressão popular, o carro foi picado, então houve a participação dele na ocultação desse carro", afirmou Andrei Rodrigues.
Ronnie Lessa também está preso. Ele e Élcio de Queiroz negaram, em depoimentos, participação no crime e serão julgados pelo Tribunal do Júri. O julgamento ainda não tem data marcada. Lessa, que tem ligação com milícias cariocas, já foi condenado por outros crimes: comércio e tráfico internacional de armas, obstrução das investigações e destruição de provas.
Já Maxwell Corrêa foi preso em casa, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste da capital carioca. Contra ele foi expedido um mandado de prisão preventiva. Preso em junho de 2020, Suel foi condenado em 2021 a quatro anos de prisão por atrapalhar as investigações do Caso Marielle, mas cumpria a pena em regime aberto.
De acordo com investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Maxwell era o dono do carro usado para esconder as armas que estavam em um apartamento de Ronnie Lessa, acusado de ser um dos autores do crime. Suel também teria ajudado a jogar o armamento no mar.
Agentes da PF também cumprem na manhã desta segunda sete mandados de busca e apreensão na cidade do Rio de Janeiro e na Região Metropolitana.
Irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa foi à sede da PF no Rio de Janeiro como convidado para prestar depoimento. Esposa e amigos de Ronnie Lessa já foram presos suspeitos de participação no crime. Elaine Lessa, Márcio Montavano, Bruno Figueiredo e Josinaldo Freitas foram apontados pelo MP como responsáveis por auxiliar no plano para se livrar de armamentos de Ronnie após o crime.
PF entrou no caso após posse de Lula, que prometeu solucionar crime
Maxwell foi preso na Operação Élpis, primeira fase da nova investigação sobre o duplo assassinato – apesar da condenação de executotres, até hoje não se sabe quem é o mandante do crime. A PF iniciou uma apuração própria após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.
Em sua posse no ministério, Flávio Dino se comprometeu publicamente a elucidar o Caso Marielle. Ele fez o discurso na presença de familiares da vereadora.
Em fevereiro, Dino anunciou que a PF iria “intensificar” a atuação em conjunto com o Ministério Público do Rio de Janeiro nas investigações sobre o assassinato. A decisão foi tomada após Dino se reunir com o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Mattos.
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