No governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ele era ávido por um microfone. Não evitava a abordagem dos repórteres que fazem a cobertura política em Brasília e era capaz de dar até três entrevistas por dia em cada agenda pública que cumprisse. Agora, no Supremo Tribunal Federal (STF), o novo ministro Flávio Dino promete ser “um novo”, reservado, contido e com o aviso de que passará os primeiros 12 meses no novo cargo sem dar entrevistas.
Na chegada da primeira sessão plenária, em 28 de fevereiro, foi assim. Aguardado pelos setoristas que fazem a cobertura diária da Corte, Dino não diminuiu o passo e seguiu direto para o elevador que dá acesso ao Salão Branco do Palácio do STF, onde os 11 magistrados se reúnem no início e intervalo das sessões.
O “voto de silêncio” tem uma justificativa: Dino quer “fazer a transição” com a imprensa, para que deixe de ser visto como político disponível e passe a ser encarado como um integrante menos disponível da Suprema Corte, onde pode ficar até 2043. Sua antecessora, a ministra Rosa Weber, adotava essa postura: não recebia jornalistas e, em dois anos como presidente da Corte, só deu entrevista uma vez levada pela emoção enquanto circulava pela sede do tribunal depredada durante as invasões de 8 de janeiro do ano passado.
No X, seu perfil marcado por opiniões combativas e anúncios de operações das forças de segurança no combate à criminalidade deu lugar a retuítes de publicações do STF. Quem acompanha o ministro garante que ele manterá o prometido. No gabinete, a lista com pedidos de entrevistas é extensa, mas nenhuma foi aceita. A ver até quando Dino só falará nos autos, expressão comum e utilizada no meio jurídico por quem se limita a declarar suas opiniões nos votos dos processos.