A obra que interrompe o funcionamento da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil João Paulo II, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, passará por visitas técnicas na próxima quarta e sexta-feira (27 e 29/8). As vistorias, solicitadas em caráter de urgência por representantes da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, têm como objetivo fiscalizar o andamento da obra, verificar sua necessidade e avaliar as condições do atendimento e dos servidores transferidos para o Hospital João XXIII. A realocação do atendimento já mobilizou pedidos de investigação ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG).
A UTI Pediátrica foi fechada nesta sexta-feira (22/8) para a intervenção predial, com previsão de duração de 60 dias. Para isso, 16 leitos foram transferidos para a UTI do Hospital João XXIII, junto com a equipe de pediatria e os pacientes. De acordo com a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), a reforma vai adequar a unidade a um novo sistema eletrônico chamado Tasy, de gestão de dados assistenciais do SUS. As adequações informadas são "estruturais e elétricas".
A primeira visita técnica, a ser realizada na quarta-feira (27/8), foi solicitada pelo vereador Bruno Pedralva (PT), e a segunda, na sexta-feira (29/8), pela Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa. "O governo estadual não apresentou justificativas plausíveis para uma obra de pequeníssima dimensão como colocar cabos para um novo sistema. Isso gerando uma transferência de pacientes para o João XXIII. É gravíssimo", declarou o vereador Bruno Pedralva (PT). As vistorias poderão resultar em relatórios ou ofícios com recomendações ao governo.
Em outra frente, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) apresentou representações ao MPMG, por meio da Promotoria de Defesa da Saúde, e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG), pedindo a apuração de possíveis irregularidades na transferência dos pacientes da UTI do Hospital Infantil para o João XXIII. Para a parlamentar, o fechamento temporário da unidade "retira da sociedade um importante equipamento público de saúde e, ao mesmo tempo, aumenta a pressão sobre o Hospital João XXIII, que já opera próximo ao limite de sua capacidade".
Mudança gera preocupação sobre agilidade no atendimento a pacientes graves
Uma das preocupações com a transferência da UTI Pediátrica para o João XXIII é a agilidade no atendimento às crianças em estado grave que chegam ao pronto-atendimento do Hospital Infantil João Paulo II. Segundo a técnica de enfermagem Ana Paula Ferreira, o tempo de locomoção dos pacientes na maca aumentou. "Antes, já era difícil. Um paciente que chegava à urgência em estado grave precisava ser levado à UTI, no segundo andar, sem elevador. Agora, a dificuldade aumentou. Precisamos transportar o paciente, às vezes entubado, até o João XXIII, em um percurso mais longo, com mais de oito rampas", relatou.
A servidora também alerta para a sobrecarga no João XXIII, que já opera com alta demanda. Ana Paula Ferreira relata que algumas mães das crianças atendidas foram colocadas em corredores e não estariam satisfeitas com a realocação. "Como os leitos no João XXIII são próximos uns dos outros, não há espaço para a poltrona de acompanhante. Então, as mães foram colocadas nos corredores", conta. "Estamos ocupando um espaço que não é nosso, é do João XXIII, e que pode ser necessário para leitos de urgência a qualquer momento", continua a profissional.
Insegurança após caso Maria Amélia Lins
A transferência do serviço para o João XXIII remete ao caso do bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia (HMAL). No fim do ano passado, a unidade anunciou o fechamento do centro cirúrgico para manutenção, mas o espaço segue fechado há cerca de oito meses, mesmo após a conclusão dos reparos. Hoje, o HMAL está em disputa judicial sobre a terceirização da gestão.
Esse histórico gera um clima de insegurança entre os servidores, que temem que a mesma situação se repita com a UTI Pediátrica do Hospital Infantil. "Estamos bastante assustados. Foi uma transferência que nos pegou de surpresa. Nosso maior receio é que, mesmo após a reforma, a UTI nunca volte ao hospital", desabafa a servidora Ana Paula Ferreira.
A Fhemig, por outro lado, argumenta que a transferência dos leitos aconteceu de forma programada: "Justamente quando os índices epidemiológicos apontam uma baixa na sazonalidade de doenças respiratórias, especialmente em crianças, como mostram os boletins divulgados pelas secretarias de saúde". Além disso, a fundação hospitalar garante que a mudança temporária no fluxo da equipe foi comunicada antecipadamente aos servidores "em reuniões registradas em atas para comprovação".
Como fica no João XXIII?
A UTI Pediátrica do Hospital Pronto-Socorro João XXIII possui 17 leitos, incluindo aqueles que foram abertos para atender melhor os pacientes na sazonalidade das doenças respiratórias. De acordo com a Fhemig, no momento, a unidade está com 8 vagas disponíveis. "A UTI Pediátrica do Hospital João XXIII possui estrutura física, equipe especializada e capacidade assistencial para receber todos os pacientes transferidos de forma adequada e segura, sem qualquer prejuízo ao atendimento", afirmou a fundação.
Referência e mudança para o HoPE
O João Paulo II é o único hospital público exclusivamente infantil de Minas Gerais e referência no tratamento de doenças raras. O atendimento na unidade é estratégico para reduzir picos de infecções, como ocorreu em maio deste ano, quando foram abertos novos leitos durante a emergência em doenças respiratórias. A unidade está incluída no plano do governo de Minas para ser incorporada ao futuro Complexo de Saúde Hospitalar Padre Eustáquio (HoPE), cujo edital de Parceria Público-Privada (PPP) está ativo.