Apesar de o uso da máscara continuar obrigatório nos ônibus de Belo Horizonte, muitas vezes basta entrar no primeiro coletivo que aparece para constatar: boa parte da população já desistiu do equipamento de segurança. A capital liberou, no fim de abril, o uso do acessório na maioria dos espaços fechados, mas a determinação para os coletivos continua, inclusive monitorada pela guarda municipal.

As explicações para permanecer nos ônibus sem o acessório são várias, mas a maioria dos entrevistados tem uma resposta na ponta da língua: “não adianta”. No entanto, especialistas alertam: a utilização da máscara não só contribui para evitar a propagação da Covid-19, como é essencial - ainda mais agora, com o frio.

“Nos ônibus, nesse frio, as janelas geralmente ficam fechadas e há aglomeração. Além disso, as pessoas, muitas vezes, levam bastante tempo para chegarem ao seu destino”, alerta o médico infectologista Unaí Tupinambá, destacando os motivos que tornam a falta de máscaras nos coletivos ainda mais perigosa.

Tempo gasto nos ônibus todos os dias, aliás, é justamente a rotina da assistente administrativo Larissa Moreira, de 22 anos. Ela precisa pegar dois ônibus para o trabalho e dois para voltar para casa. No entanto, já dispensou o uso de máscara. “Vou usar para quê? Não adianta mais”, questiona ela. A jovem aprendiz Paula Emily, de 19 anos, também está descrente. “Não acho o uso efetivo”, diz.

A resposta de Tupinambá é clara: a máscara adianta, sim, e o uso é eficaz. Segundo ele, a utilização é importantíssima para evitar a propagação da doença. Com as temperaturas mais baixas, é ainda mais relevante. Para o especialista, inclusive, a máscara deve ser usada não só nos ônibus, onde ainda é obrigatória, mas em todos os locais fechados, principalmente.

Tupinambá explica que em lugares que não são abertos, a troca de ar é mais ineficiente, o que aumenta e facilita a trasmissão de qualquer vírus, incluindo o coronavírus. E, ao contrário do que muitos podem pensar, a doença ainda ronda a população.  “A Covid-19 não foi embora. Surtos ainda acontecem”, diz ele.

O também infectologista Estevão Urbano, em entrevista para O Tempo, também já havia alertado para a importância de continuar com os cuidados para combater a Covid-19. “O certo é que estamos tendo um repique do vírus, por todas as medidas de liberação tomadas, e estamos torcendo para que isso não exploda", disse ele.

Os números comprovam esse crescimento da propagação do vírus, em meio ao relaxamento das medidas de segurança e da baixa das temperaturas. Os casos acumulados da enfermidade passaram de 34,1 por 100 mil habitantes, no dia 8 de maio, para 45,1 no último domingo (15). A informação consta no boletim epidemiológico divulgado nessa terça (17) pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

Diante desses dados, há também aqueles que se preocupam e optam por usar a máscara. O risco de cada vez mais aumentar a incidência de casos da doença é o que faz o biomédico Weliton Junio, de 22 anos, continuar a utilizar o equipamento de segurança. “Ainda devemos seguir as recomendações de segurança, para protegermos a nós e aos outros”, conclui.

Volta das máscaras

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que o retorno da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados pode ocorrer. "Caso seja necessário e com base em dados epidemiológicos e evidências científicas, medidas serão prontamente adotadas, inclusive com revisão dos protocolos sanitários e retorno da obrigatoriedade das máscaras", explicou a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA).

Enquanto nenhuma decisão é divulgada, a SMSA enfatiza que é "fundamental que a população colabore e entenda que usar a máscara é uma proteção pessoal e das pessoas próximas, evitando a propagação do vírus e garantindo a segurança de todos".

Em relação à obrigatoriedade do uso de máscaras em ônibus, a gestão lembrou que a Guarda Municipal faz rondas "em toda a cidade" para garantir a ordem pública e a segurança preventiva dos cidadãos nos equipamentos públicos municipais e no entorno deles.

"Tais rondas incluem as estações do Move e as imediações de cabines de embarque, podendo os agentes serem acionados pelos motoristas, nos casos em que houver resistência do passageiro em utilizar a máscara dentro do coletivo", completou.